Luiza Brunet ajuda mulheres ao redor do mundo a romperem o ciclo de violência doméstica – Foto: Grace Hajfler

Luiza Brunet ganhou o Brasil nos anos 1980 e 1990 ao estampar capas das principais revistas do País. Considerada um dos principais “símbolos sexuais” da época, ela figurava entre as modelos mais bem pagas do Brasil. Décadas depois, enfrentou a mesma realidade que milhões de brasileiras. “A violência contra a mulher é a violência mais democrática do mundo. Mulheres do mundo inteiro passam pelo mesmo problema que a gente passa”, conta.

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Em 2016, seu nome virou manchete quando ela protocolou uma denúncia de violência doméstica contra o ex-companheiro Lírio Parisotto, que foi condenado em 2017. O episódio foi a gota d’água para a decisão de dedicar sua vida a combater o feminicídio e a violência contra a mulher, depois de uma série de agressões ao longo da vida, incluindo um abuso sexual aos 12 anos e assédios ao longo da carreira. “Foi como se tivesse passado minha vida ali e eu falasse ‘não, não dá mais para suportar nenhum tipo de abuso”’, conta em entrevista à Bazaar. “Hoje sou considerada uma mulher que teve coragem de falar numa época em que poucas mulheres colocavam a própria cara a tapa.”

Luiza Brunet – Foto: Grace Hajfler

Atualmente, ela administra uma rotina corrida de viagens, com palestras em consulados e embaixadas e visitas a organizações de acolhimento a vítimas. “A minha escolha de vida na maturidade foi trabalhar com essa pauta. Não é fácil porque você tem que estar preparado emocionalmente, mas o que me motiva muito é o fato de eu ter sido vítima e ter certeza absoluta que uma mulher que sofreu qualquer tipo de violência, ou qualquer ser humano, é capaz de sair reintegrado na sociedade, se recompor emocionalmente e psicologicamente. É muito possível isso e inclusive poder contar suas dores para motivar outras mulheres”, afirma.

A ativista faz de seu Instagram um canal aberto para brasileiras ao redor do mundo que estejam em situação de vulnerabilidade por violência doméstica pedirem ajuda. Ao receber os relatos, Luiza direciona as vítimas para outras mulheres e instituições que oferecem apoio jurídico e psicológico. “Eu consigo conectar com um grupo de apoio que é muito importante que eu fiz ao longo dessa trajetória que são contatos de voluntárias, advogadas, psicólogas, assistentes sociais, abrigos de mulheres, mulheres que acolhem mulheres em casa. É um coletivo de mulheres muito ativo e importante no mundo inteiro.”

Foto: Grace Hajfler

Neste ponto, ainda existe a dificuldade de fazer com que as mulheres denunciem, já que são desencorajadas e desacreditadas de todos os lados. “O primeiro acolhimento é o psicológico porque ela tem que estar preparada para ir para o jurídico. As vezes ela não quer porque ela tem medo porque muitas vezes seja mulher que sofre violência doméstica ou mesmo tráfico são amedrontadas pelos seus algozes.”

Além do problema das ameaças dos próprios agressores, ela conta, existe a pressão das autoridades, que muitas vezes expressam que duvidam das vítimas. “Esse problema estrutural da violência doméstica deixa a mulher totalmente desequilibrada por uma série de violações que ela vem sofrendo. Talvez ela tenha lapsos de esquecimento. E perguntam para você: ‘Mas qual a hora que você sofreu a violência?’ Você vai se lembrar exatamente a hora? ‘Ah, eu acho que foi de madrugada.’ ‘Mas que horas de madrugada?’ Eu era interrogada assim. São perguntas para confundir.”

Foto: Grace Hajfler

Esse processo faz parte do que hoje é conhecido como “revitimização”, quando órgãos que deveriam zelar pela segurança da vítima a fazem sofrer ainda mais. Algo parecido também acontece fora das instituições, com a reação das pessoas em volta, o que ganha ainda mais força em casos que chamam a atenção do público, como aconteceu com Luiza.

“As mulheres colaboraram com a descredibilização da minha denúncia. Isso foi o que me motivou a lutar mais ainda. Hoje eu sou grata ao meu agressor porque talvez eu não tivesse me transformado na mulher que me transformei hoje, mas principalmente às mulheres que me revitimizaram porque eu queria lutar contra esse julgamento errado”, reflete. “Essas críticas, dúvidas de que minha denúncia era fraca, que não era verdadeira, só foram amenizadas quando houve justiça.”

A necessidade de lutar para que sua palavra fosse ouvida causou baques na saúde, tanto física quanto mental. “Adquiri hipotireoidismo, diabetes, duas inflamações graves nos rins e fígado que trato até hoje. Sempre fui muito saudável e de repente me vi como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Fiquei bastante amassada por fora e por dentro.”

Foto: Grace Hajfler

Apesar de tudo, nunca pensou em desistir e quer ir ainda mais longe. Luiza não descarta a possibilidade de criar sua própria fundação e até mesmo de lançar uma candidatura política. “Hoje gosto de fazer política humanitária, mas no futuro poderia repensar em uma candidatura. Gosto de desafios”, afirma.

Agora, ela consegue usar sua trajetória para mostrar a outras mulheres que é possível se recuperar. “Cada vez que converso com uma mulher que eu motivei a fazer denúncia, que motivei a recomeçar sua vida, que ajudei a empreender, isso é meu grande motor que me fortalece e me faz ver que estou no caminho certo.”

Créditos

Fotos: @GraceHajfler
Stylist: @TinaKugelmas
Tratamento de imagem: @re.toque
Joias: @Dolcegabbana
Cinto: @MaxMara_saopaulo
Looks: @VitorZerbinato
Meias: @calzedoniabrasil