Talvez porque Pharrell Williams já é um veterano na moda há mais de duas décadas, sua estreia na Louis Vuitton chegou marcada de militarismo fashion. Não apenas nas estampas, que transformaram o icônico quadriculado “Damier” da maison em verdadeiros uniformes pixelados, mas porque seu primeiro desfile reuniu pequenos exércitos no coração de Paris, inaugurando a semana de moda masculina francesa com um espetáculo de estilo.
A apresentação, batizada de “LVers” (uma brincadeira apropriada com as iniciais da marca francesa e a palavra “lovers”, amantes em inglês), tomou a Pont Neuf em um evento inédito na história recente da moda. Fechando uma das rotas de passagem mais importantes da capital francesa, o show aconteceu a poucos metros da sede do conglomerado de luxo LVMH (dono da Louis Vuitton e de outras marcas como Dior e Kenzo, da qual o diretor criativo, Nigo, é companheiro antigo do próprio Pharrell). E mesmo que o evento não tivesse, oficialmente, coberto completamente a ponte de dourado e a exilado dos passantes e turistas do verão europeu, o efeito seria o mesmo. Afinal, a legião de fãs ansiosos por flagrar ídolos, como Beyoncé, Jay-Z, Zendaya, Anitta e astros do k-pop de todos os níveis, terminou de dar o tom de exclusividade para a apresentação.
A expectativa maior, porém, estava na passarela. Desde a morte precoce Virgil Abloh, em 2021, a Louis Vuitton seguia sem um diretor criativo para sua linha masculina e, mesmo depois de um breve experimento com Colm Dillane (que emprestou seu olhar para a maison em janeiro deste ano), quem ocuparia a posição na gigante de luxo, com o maior valor no mundo, seguia um mistério.
Quem era aficionado pela estética de Virgil, pelo menos, não se decepcionou. A silhueta do street style, às vezes oversized outras mais justas, foi protagonista na coleção e já era esperada seguindo o histórico do estilo do próprio Pharrell, que, em 2004 e 2008, já havia colaborado com a Vuitton.
O destaque mesmo, do debut, foi para os códigos LV que foram refrescados, como o monograma em jaquetas, calças e acessórios que desfilaram até em pequenos carros dirigidos por modelos, fazendo do percurso de quase 240 metros consideravelmente mais rápido. E se a vista panorâmica do Sena não foi suficiente para lembrar o endereço icônico do desfile, a ponte Neuf e seus arredores vieram ilustradas em padronagens nos visuais.
Boinas e saias, meio estudantis, meio “dândiescas”, também tiveram lugar na coleção, junto a aplicações brilhantes de cristais e pérolas que fizeram das peças verdadeiras joias e que, pelas reações ao vivo dos convidados, já se tornaram desejo.
E o que já havia começado como um espetáculo (incluindo a chegada dos convidados em barcos que atracaram nas margens do rio), terminou com três ainda maiores. Dando ritmo para o fim do desfile, um coro performou, em túnicas brancas marcadas com o novo padrão pixelado, chamado “Damouflage”, uma canção inédita no repertório de Pharrell e o próprio estilista, consagrado desde o primeiro modelo desfilado, apareceu para receber aplausos de pé.
O fim, de fato, só aconteceu depois do dueto de Jay-Z e Pharrell Williams que agitou a after-party – e se os “gritos de Paris” que o multiartista pediu durante a apresentação tivessem sido um pouco mais altos, teriam atravessado o Atlântico até Louisiana, sua cidade natal. E qualquer emoção que pudesse ter faltado entre os convidados (ainda que a possibilidade fosse quase nula), despertou com o ultimato de Jay-Z: “Senhoras e senhores, esse é um momento histórico. Sintam-se abençoados por estarem aqui!”.