
Marina veste saia e blusa Strobo, meias Lupo, sapatos Zara e brincos Struktura. Detalhe da cadeira Arredamento – Foto: Christian Maldonado, com styling de Izabella Ricciardi
Por Ana Ribeiro
Se Marina Acayaba fosse compor uma música sobre uma esquina de São Paulo, certamente deixaria as avenidas São João e Ipiranga para Caetano Veloso e escolheria homenagear o encontro da Angélica com a Paulista. Foi ali que ela deixou sua marca, na forma do projeto que mudou a relação de um edifício com a rua e, consequentemente, com a cidade.
Marina não é compositora, ela é arquiteta. O que não quer dizer que deixe a poesia de fora do seu trabalho. “A arquitetura tem uma coisa muito bonita, que é a possibilidade de permanência. O arquiteto tem a capacidade de transpassar o tempo de uma vida. Gosto de pensar nisso, que algumas coisas que eu fizer vão permanecer”, diz ela.
A paixão pela arquitetura nasceu dentro de casa: Marina é filha de arquitetos por parte de pai e de mãe. Cresceu em uma construção icônica, a Residência Milan, projeto de seu pai, Marcos Acayaba, com jardins criados por sua mãe, Marlene Milan Acayaba. Ambos ainda vivem lá. “Habitar aquele espaço foi uma experiência fundamental e decisiva para a minha vida e a minha carreira”, diz Marina.

Marina usa conjunto A.Niemeyer, botas e brincos Studio Laundry – Foto: Christian Maldonado, com styling de Izabella Ricciardi
Mesmo com tantas evidências apontando para o caminho da arquitetura, ela foi estudar Economia, na FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP). “Logo vi que não era para mim”, explica. Passou uma temporada estudando moda, na escola Central Saint Martins, em Londres. Também não era por aí. Então voltou ao Brasil e se encontrou com seu destino na FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde seu pai e sua mãe foram professores.

A sala com o sofá branco do arquiteto modernista Gregori Warchavchik e a poltrona desenhada por Oscar Niemeyer (à esq.) – Foto: Christian Maldonado, com styling de Izabella Ricciardi
Assim que se formou foi trabalhar em Portugal, no escritório Aires Mateus. De lá partiu para Tóquio, onde observou de perto o processo criativo do arquiteto japonês Ryüe Nishizawa, além de absorver o modo de vida da cidade. Esses dois processos se tornariam material para sua tese de mestrado, lançada recentemente em livro pela editora Romano Guerra. Três casas: estratégias de projeto apresenta a metodologia de trabalho de Aires Mateus, Ryüe Nishizawa e do escritório chileno Pezo von Ellrichshausen, de Mauricio Pezo e Sofia von Ellrichshausen.

Detalhe da bolsa vintage sobre mesa circular de Gregori Warchavchick na Etel – Foto: Christian Maldonado, com styling de Izabella Ricciardi
Marina se interessa por entender como os métodos de trabalho influenciam os arquitetos, mas considera a relação com as cidades elemento fundamental na sua formação. “Sou muito ligada nos encontros, na percepção da realidade. E me fascina São Paulo ser uma cidade tão viva apesar de não ter exatamente um projeto de urbanidade.”

Conjunto Lolitta, sapatos Lily Sarti e anel Antonio Bernardo. Quadros de Lenora de Barros e cadeira de Luiz Solano – Foto: Christian Maldonado, com styling de Izabella Ricciardi
Aqui, a gente volta para a esquina das avenidas Paulista e Angélica. É ali que funciona o escritório Acayaba + Rosenberg, ou AR Arquitetos, onde Marina é sócia de seu marido, o argentino Juan Pablo Rosenberg. Foram eles que executaram o retrofit do prédio e a obra no térreo, que conectou a rua com o espaço onde hoje está instalada a galeria de arte Gomide&Co. “Antigamente, a lateral que dá para a Angélica era toda fechada. Quando abrimos para a avenida, mudou imediatamente a relação do prédio com o entorno. É isso que me interessa. Ver aquele meu desenho, o meu pensamento, interferir no processo da cidade.”

Vestido Haight, pulseira vintage de seu acervo e tênis Adidas – Foto: Christian Maldonado, com styling de Izabella Ricciardi
Marina gosta mesmo de viver a urbanidade, de ver gente, de andar na rua. “Quando você anda só de carro, não cria oportunidades para o acaso”, explica. Mora nos Jardins, em uma esquina privilegiada em que a vizinhança é agitada, mas a vista é ampla e verde. Divide o apartamento com o marido e os três filhos do casal, Leon (11 anos), Eva (9) e Santiago (1).

Luminária de Ingo Maurer e quadro de Luiz Paulo Baravelli – Foto: Christian Maldonado, com styling de Izabella Ricciardi
A casa é minimalista, com piso de madeira e muitos móveis brancos e pretos. Entre os brancos está o sofá do arquiteto modernista Gregori Warchavchik, o único móvel proibido para as crianças. Um dos móveis pretos é a poltrona desenhada por Oscar Niemeyer para o Palácio do Itamaraty, peça tão interessante para olhar quanto estranha para sentar.
Dos tempos em que estudou moda, restou um interesse pelo assunto que se reflete mais no exercício do trabalho do que no seu guarda-roupa. “Faço muitos projetos de lojas, então tenho de criar ambientes interessantes para expor as peças”. Quando pergunto o que ela gosta de vestir, a resposta é curta: “Preto”.
Arte é outra paixão para a qual ela tem duas visões. Uma é a sua própria, quando escolhe as obras que tem em casa: Baravelli, Sônia Gomes, Renina Katz, Rebecca Sharp, Lenora de Barros, Eduardo Climachauska. A outra é a visão de arquiteta, quando faz projetos para galerias de arte: Mendes Wood DM, Quadra, Bergamin, além, é claro, da Gomide&Co.
Depois de curtir a intensidade da cidade a semana toda, nos fins de semana a família foge para outro projeto da AR Arquitetos, esse bem pessoal: a fazenda Mato Dentro, em São Luiz do Paraitinga. É ali, em uma casa restaurada de 1.800 metros quadrados, que Marina e companhia recarregam a bateria.