Por Cassio Prates & Even Barboza, do Gid Estúdio
No momento em que estamos reféns da tecnologia para tudo, a viralidade é a grande moeda da moda. Dentro desta perspectiva, podemos analisar todo o desfile de resort 2025 da Balenciaga, que aconteceu nesta quinta-feira, em Shanghai. Podem dizer que a China é um mercado importante, que as vendas por lá já foram bem melhores e que a marca tem o maior número de lojas concentradas no país de escala continental. Mas isso não seria suficiente. Demna Gvasalia, diretor criativo da Balenciaga, fala em Trompe-l’oeil: técnica artística, bastante utilizada pela moda, que, com truque de perspectiva, cria uma ilusão de ótica. Esse é seu raciocínio para criar produtos virais, mas também para se alinhar com o mercado chinês.
Olhando para os itens desfilados, os destaques são as bolsas, que não se parecem bolsas: tem caixa de sapato, marmita, bolsa-camisa, casaco, trench coat e até uma capa de roupas, dessas em que se guardam ternos. Já nas peças, ele transforma uma sacola de viagens num casaco e a mesma capa de roupas em um vestido.
Também vale destacar o look final, desfilado por Eliza Douglas: um vestido rosa feito com tiras de sacolas plásticas descartáveis, que tinham mais de uma década. Uma reconstrução de um modelo criado por Cristóbal Balenciaga em 1965, originalmente feito com penas de avestruz raspadas. Ou seja, a coleção é montada a partir de uma série de produtos com histórias próprias para viralizarem em um mercado sedento por novidades.
Focando um pouco mais no comportamento chinês, também conseguimos enxergar essas histórias, começando pelo casting majoritariamente oriental, e também na parceria que a marca fez com o Alipay, plataforma de pagamentos do Alibaba, mais utilizada na China, e onde algumas peças da coleção já podiam ser adquiridas.
Outro ponto importante é o pensamento que Demna teve na silhueta, que nunca tinha sido tão alongada – uma busca constante do mercado chinês –, assim como os tênis e as plataformas altíssimas, que, além de já terem viralizado, conversam de maneira direta com desejos locais. Ainda, quem estiver na cidade pode provar o Xiao Long Bao da Balenciaga, no restaurante Nu Xiang Mu Dou, um dos mais tradicionais de comida chinesa na cidade. O pãozinho típico da culinária local é preto, igual ao suco criado em colaboração com Erewhon para o cruise passado, desfilado em Los Angeles. Bastante coisa para as telas e para os bolsos nos próximos dias.