Elis Cardim no Brasil Eco Fashion Week- Foto: Marcelo Soubhia / @agfotosite

Elis Cardim apresentou sua nova coleção no Brasil Eco Fashion Week na última semana. Com o crochê feito com materiais que seriam descartados como o motim principal de sua coleção, a coleção já está a venda na Nordestesse do Shopping Iguatemi, em São Paulo. O evento, que aconteceu dos dias 07 a 09 de dezembro, também marcou a primeira subida da designer baiana às passarelas da marca, “Virei a madrugada terminando um dos vestidos, ainda não caiu a ficha”, comentou à Bazaar no backstage alguns minutos antes de sua estreia.

No maior evento de moda sustentável da América Latina, sua coleção de estreia faz uma homenagem verdadeira ao feito à mão, ao saber manual repassado por gerações em 16 looks feitos de crochê que surgem na passarela. Bolsas de mão, que remetem aos casulos do bicho da seda também aparecem na coleção, terminando com crochês mesclados com tecidos planos, em colaboração com a marca Alend, marca baiana especialista em linho.

Um dos grandes diferenciais da marca são os crochês feitos em fios de seda em vez de algodão. O toque da seda deixa os vestidos e saias com um brilho característico e um peso maior, ao contrário de outros materiais feitos com a técnica manual. Desta forma, o tecido garante uma maior durabilidade na silhueta da peça, que mesmo pendurada mantém o seu formato. Bem longe da ideia que o crochê é unicamente uma peça para os dias de verão beira-mar, e sim como uma roupa única especial, uma das partes mais importantes está na sustentabilidade do fio, a seda que tece as peças nasce a partir de casulos que originalmente seriam descartados pela indústria tradicional, que o padrão é descartar com qualquer imperfeição aparente.

Desde sua fundação, Elis trabalha em parceria com a Casulo Feliz, empresa paranaense que fornece o fio sustentável vindo de Maringá, região conhecida nacionalmente pelo cultivo do bicho-da-seda. Os fios também são majoritariamente tingidos com tingimento natural. Os corantes são retirados de plantas, e o processo artesanal utiliza apenas água, calor, sal e vinagre.

No entanto, tanto capricho na área não era um caminho fácil e óbvio a ser seguido. A designer conta que nem sempre quis seguir o caminho da moda. A baiana começou sua carreira como analista de sistemas e com uma paixão pela matemática.“Quando fiz a mudança para moda, não larguei desse lado, porque trabalhar com crochê é de fato matemática pura. Na minha família, a casa sempre foi infestada de crochê da mesa até o guarda-roupa”, disse.

Com uma grande apreciação e respeito pelo trabalho manual, a marca vem honrando as raízes da designer com o tecer em si. A designer lançou sua marca em 2018, depois que os vestidos de crochê que sua tia fazia e que usava em festas passaram a ser pedidos insistentemente por amigas próximas. Hoje, a marca trabalha com comunidades baianas de crocheteiras, acompanhando de perto o processo de confecção de cada peça. Com criação 100% nacional, da matéria-prima vinda do Paraná até sua execução na Bahia.

Elis Cardim no Brasil Eco Fashion Week- Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

Seja na matemática dos pontos de crochê, ou fazendo os últimos ajustes do nervosismo da noite anterior, o valor do trabalho manual e sustentabilidade aparecem nas tramas da coleção de Elis Cardim. A sua estreia e venda em um dos shoppings mais conceituados de São Paulo propõe que cada um olhe atentamente para suas escolhas e sobre o impacto do próprio crochê, na comunidade e na moda sustentável como um todo.