Por Li Lacerda
“Era o período em que eu estava passando por um processo pessoal de identificação como mulher negra, embora eu sempre soubesse que sou uma mulher negra, entender o que é ser uma mulher negra no sul do País foi um entendimento mais tardio”, conta a empresária Laís Zkaya.
Até 2016, Laís era uma designer que desenvolvia estampas para outras marcas, até que diante de uma crise no ramo de confecções e do processo de identificação quanto mulher negra ela criou a marca de moda Zkaya.
Desenvolvendo as próprias estampas em releituras brasileiras inspiradas nos tecidos africanos, Laís começou a produzir peças de bijuterias, que fazia com habilidade desde a adolescência, e foi vendê-las na praia em pleno verão. Apesar de não ter feito grandes vendas, ela voltou para casa com a certeza que faria daquilo seu projeto de vida.
Em seis meses, bolsas, calçados, turbantes e bonecas pretas passaram a fazer parte do mix de produtos da Zkaya, sempre com uma estamparia étnica exclusiva desenvolvida por Laís.
O negócio ganhou corpo, mas a empresária fez questão de manter o negócio socialmente sustentável. Todas as peças são produzidas por pequenos fornecedores locais e vendidas para o País inteiro. A marca hoje é uma referência quando o assunto é moda afro-brasileira, e Laís tem muita consciência do trabalho que desenvolve – que vai muito além do empreendedorismo.
“Quando a gente fala de moda afro-brasileira, para mim, gera um conflito sobre o que seria essa moda, ela é moda afro-brasileira porque as estampas têm essa identidade ou porque eu sou uma pessoa negra? Afinal, a gente não pode resumir as referências de um continente inteiro nas estampas. Para mim, a moda afro-brasileira é essa junção das experiências e vivências brasileiras com a inspiração de um continente, uma ligação profunda com a minha ancestralidade, é identidade pura, é representatividade”, resume.