Danseurs, ballerinos, danzatores… esses homens que dominam os palcos já têm nomes demais, mas, a depender da
moda, agora também são fashionistas. Não é só uma questão de figurino (Vaslav Nijinski brilhou nesse quesito com
as criações de Léon Bakst para os Balés Russos do século passado), e sim de estilo pessoal. O balé, afinal, agora é
tão tendência nas ruas quanto nos grandes teatros – e, como muitos espetáculos, demorou para tomar fôlego e há
quem tenha dormido entre um ato e outro.

Imagine, por exemplo, que John Galliano visitou a história de Rudolf Nureyev, o “corvo branco” russo, autoexilado na França, já em 2011. Dramático que só (o estilista e o “muso”), a coleção masculina virou nicho e só poucos meses atrás, em janeiro deste ano, virou assunto outra vez quando Kim Jones buscou a mesma narrativa para o outono-inverno da Dior. Ali, turbantes de veludo e sapatinhos coloridos roubaram a cena para legitimar uma tendência que, há algumas temporadas, começou a se alongar nos bastidores fashion masculinos: as sapatilhas para a vida urbana.

Marc Jacobs foi um dos primeiros a se escalar para o papel: na semana de moda em Nova York, no ano passado,
virou manchete ao caminhar por Manhattan usando uma sapatilha preta delicada. Antes, eram quase exclusivas das passarelas, com o romântico Dries van Noten e o apocalíptico Demna Gvasalia, na Balenciaga, apostando no acessório mais como conceito do que como certeza comercial. A “criatura” homem da moda, afinal, (“homo
fashionista, diz a ciência”) leva tempo para assimilar o novo – e pouco importou que a tal sapatilha de balé lembrava modelos mais tradicionais, como loafers e mocassins. O salto aqui é um pouco mais longo (daqueles que transformaram Baryshnikov em um bailarino-lenda) e não é preciso ser nenhum Fred Astaire ou Billy Elliot para compreender o frisson.

 

Na Maison Margiela, as icônicas botas Tabi, de espírito japonista, ganharam versões bailarinas, também com a divisão trendy nos dedos. Na Comme des Garçons, é a sobriedade quem reina, com bicos quadrados que contrastam com a sensibilidade do modelo. Tudo preto, discreto demais para estar sob os holofotes dos palco, mas ideal para passos urbanos. As tais ballerina flats, afinal, existem mesmo para o conforto, ainda que sem as solas tecnológicas dos tênis esportivos cada vez mais futuristas. Com excentricidade, são calçados “de ocasião” – e uma que parece cada vez mais frequente na agenda. Em sua coleção mais recente para a Ferragamo, o inglês Maximilian Davis (que substituiu os calendários divididos para desfilar homens e mulheres em espetáculos-solo) homenageou os figurinos dos estúdios de balé; não aqueles do palco, mas collants e peças levinhas apropriadas para o ensaio. É um bom
jeito de começar a entrar nessa moda-dança… piano, piano, sabe como?  Ninguém nasce primo ballerino – e o mesmo vale para o fashionismo.