
Wagner Moura | Foto – Divulgação
Não é exagero algum dizer que o Wagner Moura é um dos maiores atores de sua geração. Multifacetado, ele passeou por diversos aspectos da arte: no teatro, novela e cinema – seja como ator e diretor. Agora, morando em Los Angeles com a família, ele deu um passo gigante em sua carreira internacional. O artista está em “Guerra Civil”, novo filme de Alex Garland – conhecido por escrever e dirigir o filme “Ex Machina”. Ainda, no elenco da obra, Kirsten Dunst, Cailee Spaeny, Jesse Plemons, Nick Offerman e Stephen Henderson. Na história, uma equipe pioneira de jornalistas de guerra, composta por Lee (Kirsten) e seu colega de trabalho Joel (Wagner), viajam pelos Estados Unidos para registrar a dimensão e a situação de um cenário violento que tomou as ruas em uma rápida escalada graças a uma guerra civil. Bazaar assistiu ao novo filme, já recorde de bilheteria nos EUA, e conversou com o ator, que veio ao Brasil para divulgar seu mais novo trabalho. Ao papo – regado por chá de capim-limão em uma sala com duas câmeras, vasta equipe de filmagem e com um jornal impresso jogado no chão, perto do ator.
Formado em jornalismo, o artista reviveu seu tempo de apuração em “Iluminadas”, do Apple TV+, e agora repete a dose com muita mais intensidade: no jornalismo de guerra. “Na série, me conectei com a minha época de jornalismo, porque tinha a redação, jornalismo de investigação, checagem de fatos, os jargões. Guerra Civil também é um filme sobre jornalismo, mas sobre o de guerra, uma onda diferente que nunca havia contado. Eu nunca tinha conhecido um correspondente de guerra, por exemplo”, diz o ator, que conversou com muitos personagens imersos na zona de guerra e leu muito sobre o tema durante a construção do personagem.
De acordo com ele, o filme é uma reflexão sobre os efeitos nefastos da polarização. “A gente conhece bem aqui no Brasil, nos Estados Unidos, no mundo todo”, afirma. O novo trabalho de Alex não toma um partido de maneira direta, bem diferente de “Marighella”, filme no qual Wagner dirigiu e que escancara os acontecimentos da ditadura militar brasileira. “Se o filme tomasse um partido, ele estaria corroborando para esse papel de dizer que um lado é melhor que o outro”, opina ele, que acredita que a visão do jornalismo “cuja natureza é ser imparcial e ouvir os dois lados” é a prioridade na história.

Wagner Moura em cena com Kristen Dunst | Foto: Divulgação
Sobre Alex, que declarou recentemente que acredita que Guerra Civil seja seu último filme como diretor, Wagner rasga elogios. “Ele conseguiu, com o talento dele, um negócio muito difícil, que é conseguir fazer um filme político, sem agenda ideológica, mas que também é um entretenimento. Eu dizia para ele: ‘você conseguiu o Santo Graal, o que todo mundo quer, você conseguiu fazer'”, relembra, sorrindo.
Após lançar o filme sobre o guerrilheiro, no qual dirigiu e causou uma comoção antes das eleições presidenciais, e agora estar no cinema internacional, novamente com um viés político perto das votações americanas. O ator acredita que o cinema não tem o poder de influenciar algo como as eleições, mas promove reflexões. “Arte e política estão juntas sempre, as vezes a obra é até uma comédia, mas tudo que te faz pensar, te muda internamente, nem que seja em um ponto de vista pessoal, ou que faça você querer mudar uma realidade, é política”, reflete.
Inclusive, em uma das cenas do longa-metragem, a questão separatista é retratada genialmente por Jesse Plemons, marido de Kirsten Dunst e um dos principais atores da nova geração. Ele esteve em sete títulos indicados no Oscar nos últimos nove anos. Wagner revela que o diálogo da história mexeu demais com ele. “Por eu viver nos Estados Unidos, ser um imigrante, enfim. Eu nunca experimentei xenofobia na minha vida, nem o racismo. Gravando essa cena, eu senti uma coisa que nunca tinha experimentado”, afirma ele, que acabou chorando após a gravação. “Ao final da cena, eu estava exausto. No cenário, tinha um gramado, eu deitei e veio a emoção. Não imaginava que a cena fosse ter em mim o impacto que teve quando filmei”, confessa.
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Na obra, não fica claro a origem de Joel. O brasileiro então comenta que o personagem, assim como ele, fala com sotaque e compõe a população de vários americanos que vivem nos Estados Unidos, vindo de outros países e que se naturalizam americanos. “Ele é um cidadão americano. Se existe um país que tem a imigração como seu fundamento são os Estados Unidos”, diz ele, que tem engatilhado um filme com o diretor Kleber Mendonça e uma série de Ridley Scott.

Wagner Moura e Cailee Spaeny | Foto: Divulgação
Ao final da conversa, Wagner revela que o jornal que está no chão, ao seu lado, tem dono. Ele gosta de estar informado, de saber o que está acontecendo no mundo, mesmo não tendo redes sociais. “Estar offline me preserva muito da loucura, da polarização. Eu adoro o fato desse ser um filme sobre jornalismo. Leio tudo, todo jornalismo tipo de publicação jornalística, feita por jornalistas. Eu acho que a instituição vive um momento preocupante hoje, de descrédito, de ataques, de falência como negócio. Isso é algo muito perigoso. O jornalismo é um pilar fundamental da democracia”. Vale ressaltar que Guerra Civil chega nesta quarta (18.04) nos cinemas brasileiros. Veja o trailler:

