
“A missão é surfar as melhores ondas e inspirar as pessoas a terem hábitos sustentáveis”, Nic von Rupp – Foto: Divulgação
Por Charles Ville
Nic von Rupp faz do tempo seu aliado ao encarar ondas gigantes, porque sabe que seu templo é o mar. O surfista, embaixador de Tudor, conta como adapta o lema #BornToDare à rotina e o que faz para inspirar as novas gerações.
Bazaar Man topou o desafio de Tudor e embarcou para Nazaré, epicentro das ondas gigantes, em Portugal, para cair em alto-mar com quem entende do assunto. No papo a seguir, o surfista fala sobre vida, carreira e como adapta o lema #BornToDare ao seu cotidiano.
Charles Ville – Antes de cair no mar, você tem algum ritual?
Nic von Rupp – Gosto de relaxar durante o dia, aproveitar e desfrutar [da paisagem]. Gosto de fazer uma preparação antes do verão, treinar pra caramba para que, quando chegar a temporada, esteja tudo pronto. De manhã, faço alongamentos ou aquecimentos sem inventar muito (risos).
CV – Qual é o momento mais memorável da sua carreira até agora?
NVR – Sou português, cresci aqui, e o surfe era algo tímido anos atrás. Assim como os brasileiros, íamos para o Havaí para aprender sobre as ondas gigantes. Ver a evolução desses últimos tempos, acompanhar Nazaré se tornar o epicentro das ondas grandes, perceber o impacto que o surfe causou e a importância que ele tem na comunidade hoje em dia é maravilhoso. Obviamente, ser convidado para os campeonatos mais importantes, ganhar a maior onda de 2023, levar o título em Nazaré junto com o Lucas Chumbo também é incrível. Quando se trabalha duro, colhem-se os os frutos.
CV – O surfe sempre teve forte conexão com a moda e o mercado de luxo se inspirou no lifestyle. O que acha que despertou esse interesse?
NVR – O esporte está crescendo, seja por meio das ondas grandes ou das Olimpíadas. Hoje em dia, os atletas são profissionais. A cultura é bem interessante, então dá para explorar bastante. É uma combinação desse crescimento com o estilo de vida. As marcas estão à procura de histórias – muitas delas se encaixam com os esportes de aventura.

“O surfe é um esporte muito bonito e sou uma pequena peça no meio desse grande puzzle”, Nic von Rupp – Foto: Divulgação
CV – Como embaixador da Tudor, qual é a sua relação com o tempo?
NVR – Surfe é tempo, não é? Marés, período entre as ondas, o swell… Temos que estar no lugar e na hora certa. O tempo é essencial para isso e para ter uma orientação. Quando se está no mar, também perde-se a noção do tempo. Por isso, é importante ter um relógio para se orientar (risos).
CV – Está sempre com seu relógio?
NVR – É uma pergunta que me fazem bastante, e óbvio que estou sempre com meu Pelagos. A galera e os colecionadores não acreditam, mas é verdade! Ele sobreviveu às maiores ondas que surfei nos últimos três anos. Ganhei o meu no campeonato WSL [The World Surf League] e, desde então, não sai do meu pulso. É um relógio bastante especial.
CV – Além do surfe, você tem algum hobby ou talento escondido?
NVR – Gosto de tênis, boxe. O surfe já traz muita atividade, mas também curto estar tranquilo com meus amigos e família, passear com o cachorro.
CV – Quem surfa as ondas gigantes sabe bem dos riscos. A morte é o maior medo de quem pratica o esporte ou é um convite à adrenalina?
NVR – É a realidade do nosso esporte. Tentamos ser o mais cuidadosos possível para não ficar em uma situação perigosa. É uma linha tênue entre o sucesso e o desastre. É preciso andar com cuidado. Tento não pensar nisso porque acredito que meu talento e preparação em equipe conseguem filtrar o que é negativo – desde lesões até a morte. O bicho vai pegar de uma forma ou de outra e temos de estar preparados. Se algum dia acontecer, não me importaria que fosse no mar, em paz, rodeado pela natureza.
CV – Já que #BornToDare (nascido para o desafio, em tradução livre) é o lema da Tudor, em que outras partes da sua vida esse lifestyle se aplica?
NVR – Todas. Superar os desafios é a melhor forma de viver. Ter energia para quebrar os limites, seja na vida pessoal, nos negócios ou esportes. Ter objetivos para lutar por eles. Não deixar que o medo seja uma barreira. É um orgulho trabalhar com uma marca como a Tudor, com esse lema, tão alinhado com o surfe de ondas grandes, porque todos os dias, no mar, é preciso ter essa mentalidade. De nos desafiarmos para alcançar uma onda maior, uma evolução diária e isso tem sido incrível. Alinhada aos meus princípios e se reflete no dia a dia.
CV – Você surfa desde os nove anos, tem mais de uma década como profissional: qual é o legado que quer deixar para o seu eu do futuro?
NVR – As coisas mais importantes e bonitas, ser alguém com impacto nas novas gerações e inspirá-las a serem ainda melhores e fazer parte desse processo de evolução. O surfe é um esporte muito bonito e sou uma pequena peça no meio desse grande puzzle.
CV – Sua mãe é suíço-portuguesa e seu pai americano-alemão. Qual é a relação dessas culturas na sua formação?
NVR – É engraçado porque nasci em Portugal, com uma cultura bem mais relaxada, impulsionada pelas atividades outdoor, praia e surfe. Sou uma mistura, porque meu surfe é português. Mas tenho um lado alemão. Gosto de ter as coisas organizadas, de trabalhar e mostrar resultados. Tive uma educação muito alemã e isso, sem dúvida, afetou quem eu sou – para o bem e para o mal (risos).
CV – Você acabou de visitar Fernando de Noronha. Tem alguma memória afetiva relacionada ao Brasil?
NVR – Adoro o Brasil, um dos países mais incríveis do mundo. Pela cultura, música, samba. Fui ao Carnaval há alguns anos e é uma das expressões culturais mais bonitas que já vi. Uma das maiores potências do mundo, com mais de 200 milhões de habitantes, guiada pela praia e com poder econômico brutal. Tem problemas a resolver, como os sociais, mas acredito que, com o tempo, as coisas vão mudar. É importante investir nas novas gerações e focar em tornar o País uma força ainda maior.
CV – Como equilibra sua vida pessoal com as exigências da carreira no surfe?
NVR – A minha paixão também é a profissão. Não dá nem para separar. Tento fazer o calendário da semana, trabalhar durante cinco dias e descansar aos finais de semana.
CV – Quando se faz o que gosta…
NVR – Não se trabalha, né? (risos)
CV – O que tem a dizer sobre a importância da conservação dos oceanos?
NVR – O mar é a nossa segunda casa. Acabamos por criar uma ligação fora do comum. Vimos a evolução da poluição dos oceanos e sempre me ensinaram a proteger as praias e oceanos. Meu objetivo é cumprir a minha missão de surfar as melhores ondas, publicar conteúdos incríveis, mas também inspirar as pessoas a terem hábitos sustentáveis de reciclagem. Uso a minha influência para mostrar isso às novas gerações, que elas podem fazer a diferença. Em Nazaré, fazemos a limpeza das praias, vamos às escolas falar sobre poluição e eu apoio a Oceans of Hope Foundation, instituição cujo objetivo é preservar áreas ao redor de Portugal.

“Superar os desafios é a melhor forma de viver. Ter energia para quebrar os limites, seja na vida pessoal, nos negócios ou esportes”, Nic von Rupp – Foto: Divulgação
CV – Além do relógio que carrega no pulso, tem algum outro do qual se orgulha?
NVR – Gosto muito do Tudor Black Bay 54, que vai chegar para o aniversário do meu pai. É um relógio especial. Os dois vão receber o mesmo modelo. Sou embaixador de Tudor, mas, acima de tudo, sou fã. É uma marca independente da Rolex, mas tem o pilar, que dá essa estrutura – completamente alinhada aos meus ideais. Superbacana, preocupada com muitos assuntos e os relógios são incríveis.
CV – Algo que queira acrescentar?
NVR – Meu objetivo é continuar com carga máxima no surfe, elevar os limites para os próximos cinco anos. Mas, também, dar oportunidade aos mais novos.