Gucci, inverno 2024 – Foto: Divulgação

“De vez em quando, eu sei, você também sonha, e sonha conosco”. A mensagem, escrita em italiano, tomou fachadas pelo mundo em uma intervenção do artista Valerio Eliogabalo Torrisi, antecipando o desfile da Gucci que marcou a primeira coleção de Sabato de Sarno para a marca italiana. As palavras, abertas à interpretação de fashionistas, tiveram efeito retumbante: seria a moda a sonhar com a Gucci ou o contrário?

A casa, desde sua fundação, em 1921, tem mesmo raízes oníricas. Começou como o sonho de uma família antes de se tornar um império global e ter, em sua linha de frente, diretores criativos inesquecíveis. Tom Ford, em seu tempo, sonhou com a sensualidade, enquanto Frida Giannini preferiu ter visões mais caretas. Na era de Alessandro Michele, liderou a fantasia, o romance, a nostalgia – uma soma matemática que resultou em um fenômeno de obsessão internacional, de celebridades a ilustres desconhecidos. O sonho, pareceu, era coletivo.

Agora, com Sabato de Sarno, a grandiosidade foi substituída pela intimidade e, desde sua estreia na marca, em setembro, o sentimento de intimidade e minimalismo soa como a palavra da vez. Em sua estreia na semana de moda masculina, suas paixões sussurradas estavam todas lá. O vermelho Ancora, que debutou na última temporada, segue firme e forte, ao lado do verde chartreuse que vestiu até Taylor Swift na última edição do Golden Globes. Para somar à paleta, um novo azul também parece ser uma novidade “quente”.

Para além dos coloridos, o sentimento é androginia – meio noventista, totalmente moderna. Muitos dos visuais e acessórios (das bolsas aos mocassins plataformas) vieram inspiradas da temporada feminina, com um pouco mais de alfaiataria, em blazers e sobretudos, e detalhes brilhantes. Esses apareceram literais, aplicados em peças variadas e sem a ostentação recorrente dos tempos “Michelianos”.

Se Sabato ainda está começando, a impressão é que sua visão é clara. Sua Gucci é misteriosa, sedutora (não sexual) e silenciosa, ainda que não completamente quiet luxury, já que os monogramas estão no repertório. Em fevereiro, ele apresenta sua segunda coleção feminina, com a expectativa sincera de ainda mais reflexões sobre seu estilo pessoal (urbano e quase democrático) que promete ser a joia das coroas da moda italiana por ainda muitas estações.