
A forma mais comum de câncer no mundo é o de mama | Arquivo Harper’s Bazaar
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a forma mais comum de câncer no mundo é o de mama, ultrapassando a de pulmão. Há, ainda, dados que apontam que, em 2020, foram constatados mais de 2,3 milhões de novos casos de câncer de mama no mundo. Pode-se dizer que um a cada quatro diagnósticos de câncer em mulheres é de mama. Projeção do Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde, aponta que serão 73. 610 novos casos no Brasil, em 2023.
A boa notícia é que as chances de cura chegam a 95%, se a doença for descoberta precocemente. Outra excelente notícia – essa bem recente, é que o diagnóstico ganhou uma nova e poderosa arma a favor dessa celeridade: a Inteligência Artificial (IA). Estudo feito na Suécia com mais de 80 mil mulheres, publicado na revista médica “The Lancet Oncology”, mostrou que a leitura das imagens de mamografias via computação detecta 20% mais tumores cancerígenos do que a feita por dois médicos radiologistas. Constatou-se, ainda, que a IA não aumenta a incidência de resultados falsos positivos e reduz em 44% a carga de trabalho médico no processo de análise. Isso significa uma rapidez que pode salvar ainda mais vidas. Inserida na saúde pública, beneficiará uma legião de mulheres que mais sofrem com o problema por falta de recursos que garantam a descoberta precoce da doença.
Esse é mais um avanço da medicina voltada ao combate do câncer de mama, que pode ser somado a outras inovações que surgiram nos últimos dez anos, consideradas revolucionárias. De acordo com Wesley Pereira Andrade, médico titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), esse são os tratamentos da vez:
Teste genético
Realizado a partir do sangue ou da saliva, mutações hereditárias que aumentam o risco de alguns tipos de câncer. Assim, os médicos têm condições de desenvolver melhores planos de triagem e de prevenção para pacientes com maior risco. “É possível, por exemplo, a realização de cirurgias preventivas, quando verificadas as mutações dos genes TP53, BRCA 1 e BRCA 2”, diz Dr. Wesley.
Esse teste tornou-se de conhecimento público quando, em 2013, Angelina Jolie comunicou, em um artigo do jornal New York Times, que havia realizado uma dupla mastectomia (cirurgia de retirada da mama). O procedimento foi feito após ela descobrir que era portadora do gene BRCA 1, que aumenta o risco de câncer de mama e de ovário. A atriz recorreu ao teste por ter um extenso histórico da doença na família. Existe, ainda, um teste realizado no tumor, a partir de material da biópsia, que identifica se ele é sensível à quimioterapia. Caso seja resistente a esse tipo de tratamento, poupa-se o paciente disso, que, como se sabe, pode ter efeitos colaterais que incomodam bastante.
Terapia alvo
Utilização de medicamentos que atacam especificamente as células cancerígenas, minimizando os danos às saudáveis, o que, certamente, melhora a qualidade de vida da paciente durante o tratamento.
Imunoterapia
Tratamento que utiliza o sistema imunológico para combater a doença. Consiste em medicamentos que estimulam a produção de citocinas, moléculas de proteína que atacam as células cancerígenas. “No caso específico do câncer de mama, ele é importante no combate do subtipo triplo negativo, que é considerado o mais grave atualmente”, comenta Wesley.
Mamografia 3D
Trata-se de uma evolução importante na seara dos exames preventivos. Essa tecnologia cria uma imagem tridimensional da mama que permite com que os médicos detectem mais detalhes e anormalidades que podem não ser visíveis nas mamografias tradicionais. Isso, inclusive, permite que a doença seja detectada ainda mais cedo quando utilizados exames de imagem, como comprovam estudos afins.
Cirurgias personalizadas
Com a evolução das técnicas cirúrgicas, tornou-se possível, no mesmo procedimento, remover o tumor com segurança e reconstruir a mama doente. Ainda, trabalhando a simetria entre ambas. “Isso garante a conjunção entre cura e manutenção da autoestima da paciente”, comemora o profissional, que, aliás, é especialista nesse tipo de intervenção com abordagem “oncoplástica”.
Em todo o mundo, as principais pesquisas médicas ocorrem na área oncológica. E não é difícil entender o motivo. Para se ter ideia, relatório da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, da OMS, apontou, em 2018, que uma em cada seis mulheres desenvolverão algum tipo da doença durante a vida. Já a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) apontou que a taxa de mortalidade por câncer nas Américas será de 2,1 milhões até 2030. Há, porém, novas luzes no final do túnel, ou seja, novidades no diagnóstico e no tratamento da doença que podem surgir nos próximos anos, aguçando a esperança de muita gente que ainda luta contra esse mal. Em relação ao câncer de mama, especificamente, a tendência é que os diagnósticos por IA continuem evoluindo – o que certamente ajudará a organizar e melhorar o acesso à triagem e ao tratamento. Atenção para o que mais pode surgir no futuro:
Biópsias líquidas
Exames de sangue, mais práticos e muito menos invasivos, que detectam células cancerígenas ou fragmentos de ácidos nucleicos (DNA ou RNA) liberados por tumores. “Esse exames têm também como vantagem acelerar a precocidade e a precisão do diagnóstico, comparados às biópsias tradicionais”, revela o doutor.
Nanotecnologia
Utilização de nanopartículas carregadas de substâncias destinadas a combater a doença, que uma vez injetadas, agem diretamente nos tumores, também minimizando danos em células saudáveis. O nanômetro (nm) é uma unidade de medida. Para se ter noção do tamanho, 1 nm equivale a 0,000000001 metro. Ou seja, é cerca de 100 mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo. Obviamente, o combate do câncer via nanotecnologia reduziria consideravelmente os efeitos colaterais, quando comparado, por exemplo, a uma quimioterapia tradicional.