Foto: Pelayo Arbues/Unsplash

Os ponteiros do relógio biológico feminino parecem correr acelerados depois dos 35 anos. É nessa fase da vida que quem quer engravidar se vê em uma espécie de corrida contra o tempo para tentar ter um filho naturalmente, como se sua saúde reprodutiva começasse a desacelerar a partir daí.

Não é para menos. Um dos fatores de maior impacto nas chances de gravidez espontânea é justamente a idade da mulher, que já nasce com uma quantidade predeterminada de óvulos, que também envelhecem e diminuem com o passar dos anos. Uma mulher de 35 anos tem 15% de chance de engravidar a cada mês, por cada ciclo menstrual. Em uma de 40, essa chance cai para 5% a 7%. Entre os 43 e 45, a chance é de 1% ao mês. Mas eis que surge Claudia Raia, lindíssima em nossa capa, e grávida aos 55 anos de seu terceiro filho.

O anúncio é surpreendente e a gravidez natural nessa idade é rara, raríssima, mas acontece. E aconteceu também com Camila Espinosa, especialista em alimentação consciente e consultora de saúde e bem-estar, que engravidou espontaneamente aos 46 anos. “Me ver grávida com essa idade foi uma surpresa enorme. Não imaginava que aconteceria, mas, ao mesmo tempo, a maturidade traz uma segurança, uma sensação de que tudo vai dar certo”, conta Camila. “Claro, vêm as preocupações com as síndromes, com que algo possa dar errado com o bebê, ou de a gestação não vingar, mas dando tudo certo, vem a tranquilidade de que as coisas vão se encaixar”.

O que Claudia e Camila têm em comum, para além do desejo incondicional de ser mãe, é um estilo de vida extremamente saudável e um olhar cuidadoso para o organismo – e isso há muitos anos. Alimentam-se bem, praticam exercícios físicos regularmente, controlam o peso (a obesidade é um dos fatores que podem prejudicar a fertilidade), cuidam da mente. “Eu não acho, tenho certeza de que meu estilo de vida foi o que contribuiu para a gravidez natural. Acredito que se tudo de bom que fazemos para nossas células, reflete nos nossos órgãos, no funcionamento do corpo, por que nosso sistema reprodutor também não se beneficiaria?”, questiona Camila.

E, claro, tem o avanço da medicina reprodutiva que conta a favor. “A evolução dos métodos diagnósticos e das terapias existentes e as mudanças no estilo de vida trouxeram grandes melhoras nos cuidados pré-natais, possibilitando uma gravidez mais saudável e segura, mesmo em mulheres com mais de 40 anos”, afirma o ginecologista e obstetra Fernando Prado, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Neo Vita, de São Paulo.

Para as mulheres com mais de 45 anos que não conseguem engravidar naturalmente (a maioria, diga-se), as técnicas de reprodução assistida e preservação da fertilidade podem aumentar consideravelmente as chances de sucesso. “A fertilização in vitro (FIV) é um dos tratamentos de reprodução humana mais populares. Suas taxas de sucesso também são afetadas pelo processo de envelhecimento, já que a idade do óvulo utilizado é que determina a chance de gravidez. Para se ter uma ideia, a chance de gravidez na FIV com óvulo próprio aos 44 anos é de 5% e aos 45 anos é menor que 1%”, explica o médico Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.

“Existem exceções à regra, como mulheres com reserva ovariana acima da média ou que congelaram os óvulos anteriormente. Mas, quando esse não é o caso, a solução é o tratamento conhecido como ovorecepção”, destaca o especialista. A técnica consiste no uso de óvulos doados para a realização da fertilização in vitro, que serão fecundados em laboratório com o sêmen do parceiro ou também de um doador para, em seguida, serem inseridos no útero da mulher que gerará o bebê. “Através desse método, as chances de gravidez por meio da fertilização in vitro aumentam para cerca de 60% por tentativa, mesmo em mulheres que já apresentam uma idade mais avançada, com mais de 40 anos”, explica Rosa.

A apresentadora Carolina Ferraz, que engravidou aos 46 por meio de tratamento, é uma encorajadora da maternidade tardia. “Para mim, ficar grávida nessa idade foi uma maravilha. Era uma coisa que eu queria, estava casada e meu marido não tinha filhos. Tive muita sorte. Fizemos a inseminação e consegui engravidar na segunda tentativa”, conta.

Assim como Claudia e Camila, ela também sempre levou uma vida super saudável. “Tinha uma reserva ovariana muito boa, fisiologicamente era considerada pelos médicos uma mulher bem mais nova”, conta. “Minha gravidez foi e ainda é inspiracional a muitas mulheres. Ser mãe aos 40 é uma forma de subversão”, atesta a apresentadora.

Mulheres que são mães tardiamente podem não ter ouvido diretamente, mas certamente foram alvo de comentários e questionamentos sobre terem a energia que uma criança pequena exige. “Para essas pessoas, digo que não há fonte maior de energia do que o amor por uma criança. E ainda digo mais. Isabel salvou minha vida, foi um renascimento em uma fase de muitas mudanças em minha vida. Foi como se pelos olhos dela eu resgatasse o encanto pela vida, pela magia das coisas. Meu melhor papel é o de mãe”, diz Carolina. “Eu sou a prova viva de tudo o que sempre preguei, de transformar a vida das pessoas por meio da alimentação e dos hábitos saudáveis. De forma alguma isso é sorte, tem a ver com o estilo de vida e agradeço por poder inspirar outras mulheres”, completa Camila. “Meu conselho às que querem ter filhos nessas circunstâncias? Não desistam. Tentem!”, incentiva Carolina Ferraz.