Por Ana Carolina Soares
A agência britânica de pesquisas Relate acabou de lançar um paper interessantíssimo ilustrado pelo badalado fotógrafo Rankin (fundador da revista icônica “Dazed and Confused”) que dá destaque ao invisível: sexo e intimidade na terceira idade.
Na campanha “Let’s talk the joy of a later life sex”, o ícone da moda clicou cinco casais com mais de 60 anos em cenas íntimas. A campanha visa combater o estigma em torno desse assunto silenciado.
Infelizmente, boa parte da sociedade ainda associa prazer e sexo a algo exclusivo da juventude 🙁 Nessa pesquisa realizada no Reino Unido, somente 1/5 da população se declarou confortável em falar sobre esse assunto. Pior, entre nossos protagonistas – ou seja, as pessoas com mais de 65 anos – somente 10% 🙁 🙁
Por quê? Por incrível que pareça, boa parte dessa geração que queimou sutiã e inventou a juventude na década de 60 não se sente confortável para falar sobre sexo.
A maioria (60%) dessa turma não se sente à vontade para falar abertamente com alguém sobre intimidade, citando a vergonha como a principal razão. Outras desculpas comuns foram “não se falava disso quando eu era mais novo” (64%), “não quero deixar os outros desconfortáveis” (63%), “não sei o momento de falar sobre isso” (58%) e “falta confiança” (57%).
Para esse embaraço, é hora também de boa parte da mídia fazer um “mea culpa”: o prazer na terceira idade tem sido simplesmente ignorado em revistas, televisão ou blogs. De acordo com o estudo, cerca de 2/3 da população nunca viu reportagens sobre o tema (67%). Em comparação, um quinto (20%) dos jovens de 18 a 24 anos dizem que jamais se viram retratados sexualmente seja em reportagens ou publicidade.
Acredito que se essa pesquisa tivesse sido realizada no Brasil, país obcecado por ninfetas, essa disparidade seria ainda maior. Lembro-me muito da campanha “Meu primeiro Sutiã” na década de 80.
Só vi mulheres de terceira idade de calcinha e sutiã há dois anos, quando a maravilhosa Helena Schargel lançou sua marca e virou sua própria garota-propaganda, vencendo sua vergonha, apoiada pelos filhos.
Bem, vamos concordar que demorou para quebrar esse tabu, né?
“Pode parecer que apenas os jovens com corpos ‘perfeitos’ são autorizados a transar, mas isso não é verdade!”, diz Gail Thorne, terapeuta sexual da Relate. “Na verdade, sexo e intimidade possuem significados diferentes: para alguns, significa explorar experiências sexuais novas e diversas. Para outros, um toque suave ou um beijo na bochecha já trazem essa carga de prazer”, completa.
A campanha defende a importância das experiências sexuais no pós-60 e traz depoimentos incríveis de diversos casais. Tem a história de Chrissie, que passou pelo trauma de uma mastectomia dupla e segue firme com o parceiro, Roger. Até Andrew e Mark, juntos e cheios de amor há 31 anos.
Para mim, uma das falas mais inspiradoras foi dessa querida logo abaixo, Margaret, que declarou: “Minha vida sexual com o meu marido foi intensa, ao longo de todo o nosso casamento. À medida que fomos envelhecendo, melhorou!”. Oba!! Que bom saber!!! 🙂
Melhor de tudo: apesar de não citar na entrevista, a campanha ainda falou da importância dos sex toys ao colocá-la para ilustrar o slogan “Você nunca está velho para brincar com brinquedos” 🙂 🙂
Acredito que relações saudáveis desempenham um papel crucial para nossa felicidade. Sexo e amor, então, nem se fala! Especialmente em momentos complexos como o que vivemos nesse biênio maluco 2020-2021.
Que se inspirar também? Veja a seguir o vídeo incrível com os depoimentos e mais imagens dessa campanha linda feita pela Ogilvy.
Divirtam-se!
@anacarolcsoares Jornalista desde 1994, ganhou prêmios e passou por grandes veículos de comunicação, trabalhando como repórter, editora, colunista e PR. É muito feliz também em cursos de tantra, fez mais de dez e até tirou certificado de terapeuta tântrica com Gilson Nakamura em janeiro de 2019, no método Deva Nishok. Dona de cachos assumidos e ama escrever sobre sexo, como a musa Carrie Bradshaw.