
Foto: Divulgação
Camila Bossolan é daquelas criativas que Bazaar está sempre por perto. Ao longo dos anos, assinou algumas capas icônicas e ensaios com maestria. Sua collab mais recente foi como a mente por trás do ensaio de Sophie Charlotte, nossa cover girl de março, que vai dar vida a Gal Costa nos cinemas no filme de Dandara Ferreira, com estreia prevista para 19 de outubro.
Aos 43 anos, publicitária natural de Capivari, no interior de São Paulo, recorda de seu primeiro trabalho com Bazaar (na edição de dezembro 2016/Janeiro 2017), com Camila Simões e styling de George Krakowiak. Era a primeira da modelo, também. “Clicamos com o Pavarotti“, conta. Desde lá, o fotógrafo despontou internacionalmente e clicou nomes como Gisele Bundchën e Beyoncé em outras ocasiões para publicações lá de fora. “Lembro que fiz o desenho da posição dela antes, um plano americano lateral e o Rafa clicou. Utilizamos a cor laranja ao fundo, que representa alegria, prosperidade, sucesso, trouxe muita energia e vitalidade para a imagem. Ela estava vestindo uma blusa verde, da Dior, com um laço e brincos verdes de esmeraldas”.

Foto: Rafael Pavarotti com dir. de arte de Camila Bossolan, edição de moda de George Krakowiak e beleza por Amanda Scho
“Não crio nada no caos. Não sei o que acontece, mas quando aparece um moodboard para desenvolver, minha cabeça vai direto na referência que imagino. Busco referências em várias disciplinas — arte, arquitetura, design gráfico, tudo, até um raio de luz que aparece na parede eu estou observando”, conta. “Olho em média mais de 100 imagens por dia, tenho tudo salvo em pastas, é uma coisa meio maluca”.
Atualmente, Camila e seu estúdio homônimo estão montando um catálogo digital para as lojas da Calvin Klein em todo o Brasil. “Criamos o moodboard, fotografamos e estamos montando o layout para versão tablet. Sempre quis trabalhar com esse cliente que carrega o nosso DNA minimalista. Prazeroso trabalhar com uma marca que você se identifica e tem uma ligação emocional. Consumo produtos da CK desde adolescente”, conta. Além disso, a diretora criativa busca jovens talentos para fazer parte do seu estúdio (visite o perfil e saiba como aplicar).
Camila é nerd quando se fala em criar. Tem um processo supermetódico. “Cliente me liga pedindo uma campanha, mando o orçamento da parte criativa. Aprovou, desenvolvo o moodboard, sugiro os profissionais adequados à produção (fotógrafo, videomaker, stylist, maquiador, modelo e produção executiva) e aí vamos para o estúdio ou locação captar. Tratamos o material e usamos nas mídias sociais”, conta.
O minimalismo está presente em, pelo menos, 90% dos trabalhos que assina. “Às vezes, o cliente quer outra direção, mas a nossa essência é o minimal approach“, convence. “Tem que confiar no nosso trabalho e participar do começo ao fim de tudo, sugerir, opinar e respeitar nosso olhar e decisões criativas, pois temos experiência nessa atividade profissional”.
Apesar de existir faculdade de direção criativa nos dias de hoje, Camila acredita que o Brasil tem um jenesequá diferente. Segundo ela, o curso ajuda, mas ser curioso é essencial. “Aproveitar os recursos da era digital e olhar referências, salvar a imagem, montar álbuns, organizar por categorias, comprar revistas (títulos nacionais, internacionais e independentes), ver o nome do fotógrafo e pesquisar e, também, ir às galerias de arte de artistas emergentes”.
Em seu panteão de referências, estão clássicos fotógrafos e colaboradores de Bazaar, como Helmut Newton, Irving Penn, Richard Avedon e Horst P. Horst. Dos contemporâneos, Mario Sorrenti e Harley Weir vêm à cabeça imediatamente, e, no styling, Lotta Volkova. “Gostaria de ter conhecido o alemão (matemático Gottfried) Leibniz, que inventou o sistema de numeração binária, utilizado em computadores”, ri.

Foto: Divulgação
Arte e design
Camila sempre teve um pé na arte e no design. Na infância, fez questão de desenhar o logo da padaria que pertencia à sua família no interior, lá pelos seus oito anos, e também criava roupas sob medida, que sua avó costurava especialmente para ela, depois desenvolvia os logos e as tags. “Mandava fabricar para colar nelas. A maioria eram shorts, camisetas e camisas”, enumera. O pai, descendente de italianos, tinha roupas incríveis. “Sempre roubava os cashmeres dele pra ir à escola (pink, azul e outras cores) que ele comprava na Argentina. Lembro que eu usava umas golas rolês da Yves Saint Laurent na época na quinta série. Acabei com todo o acervo dele (risos)”.
Mas o universo fashion nem sempre esteve no seu escopo de trabalho. No início da carreira, começou a trabalhar como digital designer para a Nestlé, na Publicis Norton, no ápice da “bolha criativa da Internet”.
Com mais de duas décadas focadas em web, começou a se interessar por direção criativa quando, na agência Winkreative, em Londres, sentava ao lado de uma art buyer. “Era fascinante o trabalho dela, o contato com esses profissionais de criação de imagem. Comecei a me interessar por direção criativa de imagem e vídeo, montei um Tumblr e comecei a fazer curadoria do que gostava, descobrindo nomes, olhando luz, cores etc.”