Camila Salek – Foto: Acervo pessoal

Por Camila Salek

Nos últimos meses, vários veículos internacionais noticiaram o quanto a moda vem abraçando as cores. O movimento “dopamine dressing” ou “dopamine colors” vem dominando as ruas e as redes sociais com paletas de cores ousadas e vibrantes para quebrar a monotonia pandêmica. Em meu último relatório de tendências da Vimer, falei muito sobre o poder deste grupo de cores vibrantes e o quanto este movimento, que deriva das cores saturadas do ambiente digital, impactará vários segmentos de mercado.

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Acabei de voltar de uma viagem super inspiradora a Marrakech e tenho que admitir que o impacto das cores nesta cidade é algo impressionante. Uma das minhas grandes motivações ao decidir este destino foi tentar entender por que tantas pessoas se apaixonam loucamente por Marrakech ao ponto de decidirem morar na região. Aliás, foi exatamente isso que aconteceu com Yves Saint Laurent na década de 1980 quando comprou uma propriedade por lá.

Ao conhecer o Le Jardin Majorelle, que foi a residência de Saint Laurent em Marrakech por quase 30 anos, entendi exatamente o motivo de ficarmos fascinados pelas cores por lá. Em uma cidade onde as vielas são labirintos pintados em marrom claro confundindo deserto e cidade, o interior das casas e espaços comerciais funcionam como um portal que te transporta para um universo imaginativo. A monotonia, o árido, o deserto abrem espaço para a vibração das cores e a exuberância da natureza. Funciona como uma dopamina para um olhar anestesiado.

A dopamina, hormônio do bem-estar, é muito importante neste movimento pós-pandêmico que vivemos. Fazendo um paralelo com o varejo, é exatamente desta maneira que vejo os próximos passos deste setor. Chega de regra, chega de neutralidade, chega monotonia, chega de lojas sendo replicadas de forma padronizada. Os olhos e a mente do consumidor pulsam por vibração, cor e experiências. A próxima geração do varejo será marcada pelo impacto visual, pela fluidez de formatos e pelo protagonismo no ecossistema e na comunidade.

Modelos de negócios essencialmente novos, como a WOW Concept de Madri, já apostam neste formato. A loja provoca nossos neurotransmissores e nos entrega prazer imediato, quase antecipando uma recompensa antes do ato da compra. A WOW é um marketplace digital que complementa a experiência de compra online por meio de sistemas interativos e cenografia de impacto nesta sua primeira loja física. Cada andar tem um storytelling único transformando a loja em um grande palco de varejo. Notem a força das cores, das imagens, das referências históricas mescladas com elementos contemporâneos.

WOW Concept – Foto: Camila Salek

São imagens que impressionam não é mesmo? Impressionam pois não vivemos isso há muito tempo! Nosso padrão de loja nos últimos anos é totalmente neutro e atemporal. Raras são as exceções. Vejo claramente um forte movimento maximalista no varejo nos próximos anos. A Zara que lute, pois, consumidores querem ambientes com vida, com cor, com alma – e, aliás, a própria já está se movimentando, colocando no meio de algumas de suas lojas fora do Brasil, corners com coleções-cápsula artesanais e collabs. Os espaços serão cada vez mais fluidos e flexíveis para despertar a descoberta e interação. Uma verdadeira terapia de varejo. O dopamine retailing é sobre isso!

WOW Concept – Foto: Camila Salek

@camilasalek – Sócia-fundadora da Vimer Experience Merchandising integrante do grupo de empreendedoras de sucesso do programa “Winning Women Brasil” da Ernst Young e colunista da Harper’s Bazaar Brasil. Referência em varejo e visual merchandising, está por trás de evoluções significativas da experiência de consumo e do desenvolvimento do conhecimento da área, através da implementação de projetos inovadores e compartilhamento de conteúdos ministrados em aulas, palestras, treinamentos e publicações nacionais e internacionais voltadas para moda e tendência.