
A jornada de empoderamento de Ju Ferraz – Foto: Divulgação
Por Gilberto Júnior
Aos 42 anos, a baiana Ju Ferraz emergiu como uma figura crucial no movimento do corpo livre. Como sócia, diretora e RP da Holding Clube, um conjunto de empresas de marketing de experiências, ela traçou um caminho singular até alcançar sua posição de destaque. Em uma entrevista exclusiva à Bazaar, para a nova seção de Q&A, ela revela suas lutas, triunfos e visões sobre a indústria e a sociedade em geral.
HB:Que caminho trilhou até assumir sua posição na holding clube?
JF: Passei boa parte da minha vida na Bahia, ao lado da minha família, e crescer em meio a uma cultura tão rica fez com que eu me apaixonasse por eventos, tanto que o carnaval sempre foi minha época favorita do ano. Acabei me formando em Jornalismo e resolvi me mudar para São Paulo. Logo que cheguei, atuei por quase uma década em um grupo de comunicação. Decidi me aventurar no live marketing, mercado no qual estou até hoje. Surgiu a oportunidade de trabalhar na Holding Clube, onde virei sócia e diretora. Senti que tinha apoio e isso foi importante para que eu pudesse trazer meus propósitos para os projetos que coloco na rua.
HB:Qual é o maior desafio que enfrenta como mulher nesse segmento?
JF: Por muito tempo, fui julgada não só por ser uma mulher que queria trilhar uma trajetória de sucesso em um mercado majoritariamente formado por homens, mas principalmente por ser uma nordestina e fora do padrão. Mesmo tendo dias mais difíceis, não deixei que isso me desviasse dos objetivos que queria alcançar. O mercado de trabalho ainda não é totalmente igualitário, mas esse cenário já mudou bastante por eu ter liberdade para trazer novas perspectivas para os projetos do grupo.
HB: No sudeste, o fato de você ser baiana trouxe algum impacto?
JF: Olhando pelo aspecto positivo, essa carga cultural que eu trago em minha trajetória, que está atrelada principalmente a grandes eventos, é muito importante para que eu consiga trazer ideias que saiam do óbvio. Quanto ao preconceito, sofri discriminação pelo meu sotaque e palavras que são comuns no cotidiano da minha cultura. Mas nunca deixei isso me impedir de fazer qualquer coisa. Tenho orgulho imenso da Bahia!
HB: Aos 32 anos, você foi diagnosticada com burnout. Como a doença afetou sua vida?
JF: Foi um período muito difícil e doloroso, mas que me trouxe ensinamentos que mudaram minha perspectiva sobre a vida. Eu vivia pelo trabalho e meu foco era sempre atingir as metas estabelecidas da minha posição. Não dedicava tempo para mim ou para a família. É muito doloroso perceber que perdi momentos importantes, e que só acontecem uma única vez. Passar por esse esgotamento físico e mental me mostrou coisas que não enxergava, como minhas relações pessoais, pois só diante do diagnóstico pude perceber quem de fato fazia parte da minha rede de apoio, essencial para que eu pudesse enfrentar a doença.
HB: Há ainda o b.o.d.y, seu projeto para discutir autoestima, corpo livre e empreendedorismo.
JF: Após o período que sofri com o burnout, comecei a enxergar questões que antes não davam o devido valor, como minha relação com meu corpo, saúde mental e física, além de relações de forma geral. Foi enxergando isso, e toda a minha trajetória como uma mulher nordestina e gorda, que me tornou uma voz ativa do movimento Corpo Livre.
HB: Como enxerga seu papel na desconstrução de padrões femininos?
JF: Como uma mulher privilegiada e com acessos, uso não só as minhas plataformas, mas também meus projetos para falar sobre o assunto, e mostrar a outras mulheres que, assim como eu, não seguem padrões específicos, que podemos estar exatamente no lugar que sonhamos. Inclusive, sou apaixonada por moda e olho muito para a questão da inclusão, que por muito tempo não foi discutida, prevalecendo os corpos magros e padronizados. Tenho diversas parcerias com marcas que abraçam a causa, e por meio desses projetos mostro que a moda vem em um movimento de se tornar mais democrática.
HB: A maturidade te ajudou a entender melhor a questão do corpo?
JF: Ajudou bastante, pois muitas dessas inseguranças surgiram por conta dos preconceitos sofridos durante a infância e adolescência. Enfrentar o burnout também me abriu mais os olhos para o tema, e pude entender completamente que usar 36 ou 42 não me define de forma alguma. Quero que outras mulheres me vejam como exemplo, assim como tantas outras que lutam diariamente contra o body shaming e o etarismo.
HB: Se pudesse dar um conselho para as mulheres, qual seria?
JF: Eu diria para se amarem e se colocarem em primeiro lugar independente de qualquer coisa. Eu sei que é muito difícil ser mulher em uma sociedade machista e zero igualitária, mas não podemos nunca deixar de lutar por nós e por todas aquelas que abriram tantos caminhos para que pudéssemos ocupar hoje espaços tão significativos.