
Manu Gavassi usa look e perfume Fame de Paco Rabbane – Foto: Hugo Toni, com direção criativa de Raphael Tepedino, styling de Carol Roquuete, beleza Gui Casagrande, filmmaker Carlos Queirozi, coordenação executiva Octavio Duarte (ODMGT) produção executiva Patrick Ferreira, Giulia Schiavon e André Duarte, produção de moda Layse Araújo, assistentes de fotografia Pedro Lins e Rafael Monteiro, assistente de beleza Danielle Quessada, assistente de filme Pedro Saviolli e Bruna Isumavut, assistentes de arte Rafael Paiva e Muska Kovacs, manicure Lorena Moura, camareira Nádia Martis e catering de Roccopanne
Você pode ter se apaixonado pela voz de Manu Gavassi com os covers compartilhados em seu canal do Youtube em 2010. Ou, dez anos mais tarde, com um dos 130 vídeos que a artista roteirizou e gravou antes de entrar no “Big Brother Brasil” – revolucionando a maneira como os participantes disputam o reality show. Ou ainda, neste ano, ao dar play em “Gracinha”, álbum visual codirigido pela cantora. Não importa a maneira como a compositora de “Garoto Errado” te conquistou, há algo em comum entre os momentos em que sua carreira recebeu novos admiradores: a potência de sua produção audiovisual. “Para mim, o fator em comum de todos os lugares que transito é o storytelling. Quando me descobri como uma contadora de histórias, um mundo se abriu. Acho que é meu diferencial saber entregar esse pacote”, analisa a cover girl da Bazaar de outubro.
Para Manu, “Gracinha” marca o fim desse ciclo em que se descobriu como uma artista múltipla. “Tenho muito orgulho deste projeto, falo que ele é meu TCC. Comecei a me interessar por roteiro quando um amigo roteirista, Matheus Souza, leu meu livro (“Olá, Caderno”, 2017) e falou que eu tinha capacidade de roteirizar sozinha. Isso abriu minha cabeça e comecei a estudar”, lembra.
A minissérie “Garota Errada” foi a primeira experiência à frente dos textos e chamou a atenção de marcas, que passaram a convidar a cantora para roteirizar suas próprias publicidades. Logo, Manu foi convidada para participar do BBB, quando transformou sua minissérie nos vídeos que conquistaram o Instagram e ajudaram a manter a concorrente até a final do reality show. “O diferencial desses vídeos foi o storytelling que, na minha humilde opinião, foi impecável. Logo depois disso, comecei a aplicar a mesma fórmula nas minhas publicidades e fiz o clipe de ‘Deve Ser Horrível Dormir Sem Mim’ (parceria com Gloria Groove), que nada mais é do que um upgrade da fórmula para dez minutos. ‘Gracinha’ não segue essa fórmula, mas usei a expertise de tudo que estava aprendendo nos últimos dois anos no audiovisual. Cada sementinha que plantei me fez sentir capaz de fazer um filme de 40 minutos com todo desafio que isso aplica, impecável esteticamente”.

Blazer Minha Vó Tinha, top e saia Reinaldo Lourenço e sapatos Christian Louboutin – Foto: Hugo Toni, com direção criativa de Raphael Tepedino, styling de Carol Roquuete e beleza Gui Casagrande
A esperada indicação ao Grammy Latino não veio, mas isso não atingiu o orgulho que Manu sente de sua produção 100% nacional. “Foi muito mais simples do que as pessoas pensam, com muito menos dinheiro, de uma maneira muito apaixonada”, conta. Desde o início, o foco da artista foi criar produções que valorizassem o potencial da cultura pop brasileira, mas que, atualmente, se vê aberta para a internacionalização da sua carreira: “Criar coisas aqui é muito difícil. Existe um limite de budget, um limite até onde o mercado está acostumado a consumir esses conteúdos. Comecei a encarar, nos últimos dois anos, a possibilidade, mas não no sentido de ser famosa internacionalmente, mas de me realizar nas coisas que faço.”
“Quando você vai na contramão do que é fácil de digerir para o mercado e faz coisas diferentes, você está sujeito a não ser compreendido – e isso gera críticas. Hoje, sei muito bem de onde as críticas vêm e são principalmente da não compreensão ou do não querer saber. Entendi que é uma dinâmica que vem junto com a maneira que trabalho e estou aprendendo a fazer as pazes com isso. Entendo que fazer esses projetos maiores, que exigem maior compreensão, talvez seja o que eu gosto de fazer e cresça nisso. Antes, lutava muito contra; hoje estou começando a entender que é o caminho que escolhi e que me leva a lugares maravilhosos”, completa.
Carreira musical

Manu Gavassi usa camisa e saia Paco Rabanne, corset Icona e brincos Karin Reiter – Foto: Hugo Toni, com direção criativa de Raphael Tepedino, styling de Carol Roquuete e beleza Gui Casagrande
Todo o conhecimento e desejo de expandir seu trabalho são frutos da carreira que já soma mais de uma década, que foram celebrados com a turnê “Eu Só Queria Ser Normal”. Para ela, os shows que rodaram o Brasil foram um processo de cura. No País, ainda é pouco comum artistas se dedicarem a diferentes tipos de produções e serem reconhecidos pelo sucesso em todas elas, como se o meio artístico necessitasse de uma categorização muito bem definida. Atingida por essa expectativa, personalidades como Manu sofrem com o questionamento sobre o que realmente fazem. “Minha carreira de cantora nunca foi linear. Ao longo do tempo, com essas outras vontades que tinha de me realizar na arte, não tinha mais o mesmo tempo para me dedicar à música. Foi uma decisão e sou muito feliz com ela. Mas, ao mesmo tempo, enfraqueceu um pouco a minha segurança nesse segmento, sempre recebi comentários muito duros ao meu respeito e fui internalizando isso”, analisa.
A cantora enxerga que a turnê foi um exercício para superar seus medos e ter segurança em um trabalho que executa há muitos anos – e o resultado foi uma aceitação incrível do público e de colegas de profissão. “Me deu mais coragem de me assumir como cantora. Sou uma pessoa extremamente autocrítica, o que é bom porque faz você atingir lugares cada vez mais diferentes e se desafiar. Só que, ao mesmo tempo, é ruim, porque faz você não relaxar e aproveitar a experiência. Me deu vontade de estar no palco com mais frequência, abriram novos caminhos que, em breve, as pessoas vão descobrir também”, completa.

Top e saia Von Trapp – Foto: Hugo Toni, com direção criativa de Raphael Tepedino, styling de Carol Roquuete e beleza Gui Casagrande
Ao mesmo tempo em viajava com a turnê, Manu gravou o filme “Não Tem Volta!”, longa-metragem protagonizado pela atriz ao lado de Rafael Infante, dirigido por Cesar Rodrigues e com roteiro de Fernando Ceylão. A produção marca um sonho da artista de participar de uma comédia que fosse para o cinema. Inspirada pela obra de Paulo Gustavo e fã de “Porta dos Fundos”, Manu ficou extremamente feliz quando Rodrigues, que dirigiu muitos projetos ao lado do comediante, lhe fez o convite. “Foi um mês e meio de gravação, muito intenso. Me sinto confortável [na comédia]. Claro que sempre aprendemos muito, o Rafael é hilário e o filme também tem pitadas de drama. É uma comédia feita de maneira verdadeira, não seguindo o roteiro à risca. Ficávamos muito livres dentro do texto. Tive uma sensação muito boa fazendo, então acho que deu muito certo”, adianta.
Ainda para este ano, Manu também promete um novo projeto, ainda misterioso: “Vou adiantar que era um sonho, uma ideia um pouco distante e que do nada se materializou”. Quando fala sobre música, a cantora sonha em fazer seu próximo álbum com menos pressa, saboreando os processos e possibilidades criativas. Além disso, reforça o desejo de criar uma série, roteirizada, dirigida e estrelada por ela, como Phoebe Waller- Bridge, Donald Glover e Michaela Coel, algumas personalidades que inspiram a artista. “Acho que daqui dez anos, vou olhar para trás e vai fazer sentido cada pedacinho de arte que coloquei no mundo, seja ela qual for”, acrescenta.
Incrível em sua idade

Manu Gavassi usa top, calça e luvas Moun, brincos Tiffany & Co. e sapatos Schutz – Foto: Hugo Toni, com direção criativa de Raphael Tepedino, styling de Carol Roquuete e beleza Gui Casagrande
Na edição cujo tema é “Incrível em Qualquer Idade”, Manu Gavassi representa uma categoria de artistas que teve que se impor desde muito nova para ser ouvida em seu meio. Assim como se estabelecer no mercado tão jovem tem um lado positivo, a atriz acredita que sua carreira poderia ter outra receptividade se tivesse começado mais velha, já que mudar a ideia que o público tem dela é difícil. “Vemos exemplos claros disso no mercado norte-americano, que é muito forte no entretenimento, em todas as meninas que saíram da Disney. Elas têm uma fan base extremamente fiel, sempre serão grandes artistas e para sempre também carregam o preconceito de muita gente. Fico pensando o que seria de mim se tivesse começado com 27 anos e não com 17. Como as pessoas iriam me ver se meu primeiro projeto fosse ‘Cute But Psycho’ ou ‘Gracinha’? Acho que é um caminho mais duro, com conceitos que as pessoas carregam sobre você e algumas nunca vão estar interessadas no que você virou”, comenta.
Em janeiro do próximo ano, Manu Gavassi celebra outro marco de sua vida: a chegada dos 30 anos. “Entro [nessa idade] com uma energia muito incrível, de ser satisfeita com quem sou e com o que estou construindo, e com uma calma maior para realizar, uma maturidade de me aceitar”, celebra. Em um exercício de análise sobre suas conquistas, Manu se vê feliz com todas as mudanças pelas quais passou desde 2019 e acredita estar vivendo o que sempre sonhou e construiu.
Quando analisa os desafios que a sociedade costuma impor a uma mulher quando atinge certos marcos da vida, Manu afirma que não pode prever os obstáculos ou o que vai sentir, mas que está tranquila. “Acho que temos exemplos maravilhosos, hoje em dia, de que idade é só um número. Cada vez estamos quebrando esses paradigmas. Sem sermos julgadas? Não, sendo extremamente julgadas todo dia, mas estamos quebrando esses paradigmas”, completa. A característica que mais brilha seus olhos é a segurança que a idade traz, deixando para trás a ansiedade que sentimos aos 20 anos: “Me sinto muito otimista com envelhecer, tenho esperança que a minha geração e as próximas também vão encarar isso de outra maneira.”

Vestido Reinaldo Lourenço, brincos Karin Reiter, luvas Moun e sandálias Pucci – Foto: Hugo Toni, com direção criativa de Raphael Tepedino, styling de Carol Roquuete e beleza Gui Casagrande
Toda essa tranquilidade é um resultado do aprendizado que Manu Gavassi adquiriu ao se blindar dos comentários externos. Se resguardar, mesmo criando produções tão pessoais, foi o melhor caminho encontrado pela artista, que acredita que quanto mais uma pessoa se expõe, mais a mídia e o público se sente no direito de explorar as informações dadas. Um dos resultados dessa maneira de se proteger foi a mudança da postura da cantora e atriz nas redes sociais, que diminuiu a frequência com que mostra sua vida pessoal.
As pressões da idade se unem às pressões normalmente associadas a ser mulher – o que impacta ainda mais a carreira de artistas como Manu, que não se escondem na hora de se falar sobre assuntos como feminismo e política. “Às vezes, penso ‘será que estamos ganhando alguma coisa? Ou é tudo cíclico?’ Só muda o look da época em que você nasceu, porque é o mesmo desafio. Mas sou otimista, existem melhoras, só que é exaustivo ser mulher nessa sociedade. Muitas vezes tem que se fazer de boba para chegar nos lugares – e isso não muda”, analisa.
A artista tenta se manter atualizada sobre o assunto e cita “Contra o Feminismo Branco”, de Rafia Zakaria, como uma de suas últimas leituras. “É um livro maravilhoso, que abre várias questões. O feminismo não tem que ser uma luta individual, porque se for, meu sucesso pouco vai mudar a história de várias mulheres, de mães solteiras que precisam colocar seus filhos em creches, que trabalham o dia inteiro. A minha realidade como uma mulher que tem autonomia financeira pouco muda a história dessas pessoas. Se a gente não pensar em um feminismo mais coletivo, olhar com mais carinho para histórias diferentes das nossas, para as condições sociais e culturais, nunca vamos crescer como um movimento unido”, afirma.
Mas Manu não se deixa atingir com a pressão por se pronunciar sobre todos os assuntos, já que se posiciona com os detalhes de seus trabalhos – que já são grandes posicionamentos políticos e sociais. “Se sou uma artista, porque não colocar o que acredito e o que acho que tem que ser mudado em símbolos dentro do meu trabalho, sem precisar fazer alarde toda vez sobre isso?”, questiona. O aprendizado de fazer esse exercício ao longo dos anos é saber que suas escolhas criativas reverberam, talvez não com a mesma velocidade, mas que formata o exemplo que ela quer ser para quem consome seu trabalho.
“O Big Brother só refletiu quem sou no dia a dia. Não sinto pressão nenhuma porque é realmente quem sou. É o que falaria na minha vida, são as conversas que teria com as minhas amigas, é o que falaria para um cara se ele estivesse ali sendo inconveniente”, finaliza a artista sobre o discurso forte que sempre representou e que conquistou o público do reality show. Mal podemos esperar para ouvir (ou ver) as histórias que você tem para nos contar, Gracinha!