Erica Malunguinho – Foto: Nego Júnior/Divulgação

Primeira deputada trans eleita no Brasil, a parlamentar levou para a pauta a resistência dos povos oprimidos. Até aqui, Erica Malunguinho é a política que mais arrecadou valores para o apoio às comunidades LGBTQIA+ e quilombolas, assim como obteve destaque à frente de movimentos pela luta por moradia e em favor da proteção à população negra.

Natural de Recife e radicada em São Paulo, ela fundou o “Aparelha Luzia”, centro cultural e político de resistência negra. “Deixo explícito na minha atuação que ela é fruto de vivências anteriores e constantes. São projetos de vida e não de interesses eleitorais”, diz.

Nesta linha de pensamento, Erica percebe o machismo como fruto de um processo histórico de dominação. “As relações sociais existentes no agora remetem a um projeto de poder, a colonização. A língua que falamos, as roupas que vestimos, as moradias que habitamos, tudo isso foi determinado por um grupo social, os brancos europeus. Com isso, não quero destituir a responsabilidade que outros grupos tenham na amálgama da cultura, mas é certo que o machismo no Brasil é filho direto do tronco europoide. Portanto, é uma violência que, além de agredir e violentar as mulheres brancas, recai de maneira ainda mais violenta sobre as negras e as indígenas.”

Para a parlamentar, o papel da mulher na sociedade atual é aquele que ela quiser exercer. “O fundamental é a consciência crítica do que significa ser mulher numa sociedade determinada pelos marcadores de gênero, raça e classe. A partir desta consciência, poder fazer escolhas, sem dúvida se torna uma arma poderosa contra um sistema de opressão. Para se resistir a um sistema é necessário um contragolpe. Isso perpassa pela luta política institucional, movimentos sociais, maternidade, emancipação econômica crítica e pelo dia a dia que exige de nós muito além de um punho cerrado ou discursos organizados. Exige agir, existir, fazer acontecer; exige descanso e direito ao lazer. Uma mulher viva, feliz e emancipada é uma imagem revolucionária. Uma mulher negra viva, feliz e emancipada é a revolução encarnada. Uma mulher trans viva, feliz e emancipada já é um outro mundo”, conclui.

A deputada entende que se faz obrigatório o direito ao próprio corpo, que engloba desde os direitos sexuais e reprodutivos à livre circulação sem risco eminente de violências. “Em termos práticos, as mulheres têm sido mais representadas em atividades historicamente dominadas por homens brancos, inclusive na política. Entretanto, os números da violência contra a mulher são assustadores, sobretudo a partir de 2019 – o primeiro ano de mandato do atual presidente. Isso mostra que, nem sempre essa representatividade, muitas vezes ‘cotificada’, aponta avanços reais nas questões diárias. Acredito que para mudar essa realidade tudo começa pelo acesso ao conhecimento. Isso deve ser acompanhado pela criação de políticas públicas, o que ocorre com mais força a partir da ocupação dos lugares de decisão pelas mulheres, negros, indígenas, entre todas as populações excluídas destes espaços.”