Luana Génot – Foto: Mario Epanya

As atitudes e falas sensatas da executiva Luana Génot vêm das matriarcas da família. Com elas, aprendeu que não deveria ser silenciada: “Minha mãe me ensinou a ser vocal e cirúrgica, minha avó me ensinou sobre empatia, botar a boca no trombone e não aceitar as coisas como elas eram”, conta à Harper’s Bazaar a fundadora do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), organização sem fins lucrativos comprometida na promoção da igualdade racial, escritora de livros, colunista de jornal e apresentadora de TV.

Foi ensinada a não baixar a cabeça a todo e qualquer caso de racismo que enfrentava desde a infância. “Minha mãe nunca foi militante nos moldes mais tradicionais, como alguém que vai a passeatas ou que tem um ativismo de pertencer ao movimento, mas sempre soube dar nome àquilo que não era certo”, recorda.

Em um episódio marcante em sua escola, aos 9 anos, ainda no bairro carioca da Penha, um grupinho implicou com seu cabelo e cor de pele. A mãe foi tentar entender a situação com a diretora, que considerou o fato uma brincadeira. Como não houve qualquer atitude frente ao racismo estrutural, mudou a filha de escola.

Vamos avançar quase uma década no tempo. Quando tinha 18 anos, no Ensino Médio, na Baixada Fluminense, Luana fazia um percurso de três horas para estudar em uma escola federal em Nova Iguaçu. Nem passava em sua cabeça que era possível ter educação ao seu dispor perto de casa. Na época, muita gente exaltava sua beleza, lida como “diferente” ou “exótica” nas palavras dessas pessoas. Mas raramente ouvia um “nossa, como você é linda”. Isso a incomodava, mas se perguntava o que fazer com aquilo. Tentavam enquadrá-la em caixinhas mesmo sem vocação, como jogadora de vôlei, sambista ou modelo por conta de seus 1,77 metros de altura e magreza. Até que, às vésperas do Fashion Rio de 2007, escreveu para uma marca a fim de se aproximar do universo da moda. Descobriu que ela estava em busca de new faces para uma turnê em Paris e na Bélgica. Foi assim o início de sua incursão pelo mundo fashion, que durou dois anos com passagens pelas passarelas de Paco Rabanne e Saint Laurent.

Sempre lamentou ser uma das poucas meninas negras no casting dos desfiles e optou por se distanciar das passarelas. Chegou a morar na Inglaterra e na África do Sul, quando decidiu voltar ao Brasil, em 2009, para prestar vestibular para Comunicação Social com ênfase em Publicidade na PUC do Rio. “Entendi que esse sentimento de exclusão, em relação a ser negra e mulher no mercado de trabalho, não era exclusividade da moda, era geral”. E começou a escrever sobre o assunto em um blog intitulado “Lado Negro da Moda”.

Emendou um intercâmbio pelo Ciência Sem Fronteiras na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, em 2012, onde foi voluntária da campanha de Barack Obama à presidência – fonte de inspiração para muitos jovens. Mas foi no estágio em uma agência de publicidade americana, dirigida por uma mulher negra, McGhee Williams, que Luana viu um espelho com espírito de liderança.

Quando voltou ao Brasil, construiu um plano de negócios para abordar questões de raça e emprego de forma estruturada. Passou quatro anos formatando o que viria a se transformar no ID_BR. Seu livro “Sim à Igualdade Racial: Raça e Mercado de Trabalho” (2019) foi, também, o resultado da dissertação de mestrado em Relações Étnico-Raciais e finalista do Prêmio Jabuti.

Neste 2023, expandiu horizontes: ocupou uma cadeira como jovem líder global no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, com o objetivo de evitar a evasão de profissionais, especialmente no Brasil e América Latina, por conta das barreiras culturais, racismo, homofobia e falta de participação cívica. Saiu de lá com a missão de construir esse diálogo, com participação de outras potências latino-americanas, empresas e sociedade civil.

Com seu Instituto, espera alcançar 100 milhões de pessoas até 2030, para levar educação antirracista e promover mais oportunidades de liderança, emprego, renda e trabalho decente às populações negras, indígenas e marginalizadas. E construir pautas a fim de ajudar e impulsionar medidas afirmativas.

Nesse ínterim, vai dar à luz seu segundo filho, Hugo (ela já é mãe de Alice, de 4 anos). E aproveitar a janela para gravar nova temporada de “Sexta Black” (GNT). Em maio, ainda põe de pé a edição 2023 do Prêmio Sim à Igualdade Racial, que reconhece os principais talentos e iniciativas antirracistas no Brasil, com homenagens à Glória Maria e Pelé.

Incansável, vai aproveitar a licença-maternidade para lançar um livro com textos publicados em um jornal carioca. Para Luana, não basta ocupar espaços e posições de liderança. É preciso abrir caminhos e registrar a história no momento em que ela acontece.