Watatakalu Yawalapiti – Foto: Divulgação

Ela é feminista e coordenadora do projeto ATIX-MULHER, desenvolvido dentro das terras do Xingu. A artesã, filha do cacique (já falecido) Pirakumã, tem como ideal a preservação da cultura e da história do seu povo, mas sem a contaminação das práticas machistas. Entre as suas conquistas, Watatakalu Yawalapiti inaugurou a Casa das Mulheres, no centro da aldeia Kisêdje – contrapondo um poder masculino secular.

“Não posso falar sobre o machismo em outros povos indígenas, mas posso contar sobre a minha realidade. Posso dizer que por aqui ele é muito forte, embora as pessoas achem que não seja machismo. Mas o que acontece é perseguição, difamação de mulheres por aquilo que elas não fizeram, pressão psicológica para fazê-las desistirem de estudar assim que se casam e violência de todos os tipos.”

Watatakalu sabe que o maior poder da mulher indígena dentro da comunidade é administrar as aldeias, educar e guardar as tradições, a cultura do povo ou da família que ela pertence. “A nossa luta hoje é pela preservação da nossa cultura e dos nossos territórios. Também queremos criar as nossas filhas com mais informações e educar os nossos filhos para que eles não sejam machistas”, revela.

Em uma entrevista para o site Matilda, a liderança indígena contou detalhes da sua história: “Assim que tive a primeira menstruação, aos 11 anos, fiquei reclusa em um quartinho. Isso durou até os 14 anos. Neste período, o meu contato foi apenas com a minha mãe e com os meus avós – que me transmitiram os costumes e o conhecimento. Ao retornar ao convívio social, durante as festividades do Kuarup, fui pedida em casamento por um garoto. Eu tinha 15 anos e o meu casamento foi realizado – sem que eu soubesse – em um Moitará (reunião entre diferentes etnias indígenas). Aquele foi o pior dia da minha vida.”

Watatakalu diz que o recusou como marido e, assim, permaneceu por três anos, até ele tentar forçá-la, mas ela conseguiu se salvar graças a uma ponta de flecha que escondia sob a rede. Esse fato fez o casamento ser anulado e ela foi devolvida à família. “O empoderamento feminino é visto como uma ameaça aos homens. É tão perigoso, que eles acreditam que precisamos ser mortas. Ainda assim, penso que, para termos uma sociedade mais justa, é importante que o nosso potencial seja reconhecido.”

E ela avisa que não vai parar de lutar, assim como as mulheres que sempre a inspiraram – da advogada e deputada federal Joênia Wapichana às cacicas Telma Taurepang, tuxaua (chefe) do povo Taurepang, em Roraima, e Ô-É Kaiapó, da aldeia Krenhyedjá.