Vestido Missoni, botas Fabrizio Viti e brinco Struktura – Foto: Marcio Simch, com beleza de Erika Livran, com produtos Eudora, e nail artist Daniela Romanenko

Por Ana Ribeiro

Alexia Hentsch recebeu a missão de criar um look de alcachofra. Concentrou todo seu esforço criativo em busca de solução que agradasse aos seus próprios parâmetros e aos da cliente que encomendou o figurino para uma festa na fazenda do avô na Europa. O resultado ficou lindo: um chapelão que mistura o verde das folhas e o roxo das flores da alcachofra, e ainda vai deixar a moça bem elegante. Esse é um típico dia de trabalho no ateliê da designer, que criou uma grife carnavalesca – começou com adornos de cabeça e bodies para os dias de folia e, como se vê, fez uma clientela que extrapolou as fronteiras do Brasil e não se limita a fevereiro. “Faço adereços para festas, recebo encomendas para casamentos, tenho parcerias com grifes comerciais. E continuo criando minhas cabeças também”, conta ela, que já trabalhou para a Farm e para a C&A e, no momento da nossa conversa, estava quase fechando um contrato que ainda não podia divulgar.

Saia do acervo de Alexia, top Argajili e colar Cris Barros – Foto: Marcio Simch, com beleza de Erika Livran, com produtos Eudora, e nail artist Daniela Romanenko

Filha de pai suíço e mãe carioca, Alexia nasceu em São Paulo e viveu praticamente a vida toda entre Suíça (Genève) e Inglaterra (Londres). Vinha sempre ao Brasil e cultivou forte ligação com o País de sua mãe. Em 2016, nas Olimpíadas do Rio, lhe foi dada a incumbência de criar os figurinos de abertura e encerramento do evento, e o resto é história. Foi passando cada vez mais tempo aqui, então veio a pandemia, o casamento com o italiano Arturo Isola, o nascimento do filho Elio, o apartamento novo em Higienópolis – o anterior era no mesmo bairro, mas a família cresceu e precisou de mais espaço. Assim eles trocaram um projeto de Vilanova Artigas por outro de Rino Levi, num dos prédios mais bonitos e charmosos da cidade, construído nos anos 1940 com jardins e ornamentos de Burle Marx.

Mesmo sem conhecê-la, quem fosse à sua casa teria fortes indicações de quem mora ali. Uma pessoa bem-humorada, que gosta de cores, de festa, de misturar estilos, de brincar com a decoração. Alguns adereços do último aniversário de Elio, com tema zoológico – todos confeccionados por Alexia, bien sûr –, ainda estão aqui e ali.

Blazer Balmain, camisa Gap, calça Handred, colar vintage e cinto usado como colar, da collab Alexia Hentsch para C&A – Foto: Marcio Simch, com beleza de Erika Livran, com produtos Eudora, e nail artist Daniela Romanenko

Alexia está grávida de novo e já já vem aí mais um bebê brasileiro para aprofundar ainda mais suas raízes aqui. “Parece clichê dizer isso, mas o Brasil tem um calor humano que faz toda a diferença. Com todos os problemas, tanta desigualdade social, as relações humanas compensam tudo. Qualquer tipo de interação, até as mais rápidas, com o manobrista do carro, tem afeto envolvido. A alegria das pessoas é a maior riqueza do Brasil.”

Look vintage do seu acervo pessoal: broche Chanel, calça Handred e tênis Nike – Foto: Marcio Simch, com beleza de Erika Livran, com produtos Eudora, e nail artist Daniela Romanenko

Alexia não deixa a dureza de São Paulo impedir sua movimentação pela cidade. Anda muito a pé, busca o filho na escola, transita pelo centro, vai e volta de seu ateliê, visita seus fornecedores na 25 de Março, no Brás, no Bom Retiro. Por uma combinação de seus roteiros a pé, mais o material com que trabalha no ateliê, como solvente, cola e tinta, durante o dia Alexia está sempre básica, geralmente de tênis e camiseta, e com o cabelo preso. Para sair à noite gosta de se produzir. “Sou bem europeia, visto blazer, sapato. Meu guarda-roupa não é muito colorido e nem florido. Mas sou vaidosa, gosto de me arrumar. Só faço a mão quando não tenho encomenda no ateliê e tenho três jantares naquela semana. Senão não vale a pena.”

Vestido Sônia Rykiel e brincos Alix – Foto: Marcio Simch, com beleza de Erika Livran, com produtos Eudora, e nail artist Daniela Romanenko

Não que esteja reclamando. A parte manual do trabalho é o que mais gosta de fazer. “Gosto de inventar, de produzir, de olhar materiais, de colocar a mão na massa”, explica, com seu português acariocado e sem um pingo de sotaque estrangeiro. E é por essas e outras que essa moça linda, alta, magra e com pinta de modelo vive descabelada e suada pelas ruas mais movimentadas da cidade.