Em uma das capas mais memoráveis de sua era recente, a Harper’s Bazaar Brasil decretou, na edição de março de 2020 – estampada por Mariana Ximenes – o lema da década: “Tomara que caia o sexismo.” A frase fazia referência ao termo démodé “tomara que caia”, para as blusas sem alça que dominavam aquela temporada. Agora, mais de três anos depois, poderia bem ser usada para ilustrar a onda de cinturas baixas, baixíssimas, que são as protagonistas da vez e, por muito pouco, não mostram demais. Ai, ai, ai… e por que não deveriam?
Não existem limites para o sexy – e Tom Ford usava e abusava dessa máxima quando, nos anos 1990, estreou na Gucci com ousadia pura e fator choque. Mais do que eletrizante, era um manifesto picante e bem-vindo depois das power silhuetas que surgiram com tudo na década anterior, empoderando a mulher para um mercado de trabalho redescoberto. Boring? Talvez para Mireille Darc, que roubou a cena em “Loiro Alto do Sapato Preto” (1972) com um modelito Guy Laroche, revelando o derrière e provocando sensação.
Na cerimônia do Oscar de 2023, Lady Gaga repetiu o momento com um vestido Versace, mas não antes de Gigi Hadid, que desfilou o mesmo look dias antes, na passarela da marca italiana, em Los Angeles. Na coleção, Donatella não foi longe nem baixo demais. Nada, pelo menos, que o irmão, Gianni Versace, o príncipe da sensualidade nos desfiles, teria desaprovado. Afinal, desde que Newton “descobriu” a gravidade em meados do século 17, ela está aí para ser aproveitada – e desafiada.
Ludovic de Saint Sernin, estilista belga de 32 anos, sabe bem trabalhar com limites. Na realidade, prefere muito mais ignorá-los. Para ele, as cinturas baixas modelaram corpos de modelos magérrimas (outra tendência revisitada dos anos 1990, com um pouco menos de excitação por parte do público), criando divisas nuançadas entre pele e tecido. A inspiração, talvez, esteja na infância que passou na Costa do Marfim, o país africano cujas costas beijam o Atlântico, já quase na linha do Equador.
Igualmente quente foi a imagem “fordiana” nostálgica que cruzou a apresentação mais recente da Gucci, no mesmo estilo provocativo de 30 anos atrás. Coperni e Dsquared2 seguiram na curva descendente, apostando em cinturinhas ainda mais à mostra.
Sexual? Quase nem tanto quanto as da Diesel, que desfilaram ao redor de uma pilha de preservativos. O sexo é seguro e a pegada é forte. Mas por enquanto, só vale olhar. Abaixar a calça ou a saia, só com consentimento. Oh là là! A cintura desce e tendência cresce. Na espiral que é a moda, o ciclo vicioso do resgate constante de visuais se torna um bambolê que encaixa certinho na cinturinha. Vai bambolear ou ficar de fora dessa ginga?
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