Matthieu Blazy quebrou a internet com sua nova imagem da mulher Chanel. Foto: Colagem (Gabriel Fusari).

No início, Chanel trouxe as camélias e o tweed, e depois, Matthieu Blazy os transformou em sua imagem e semelhança criativa. O Grand Palais foi transformado em uma galáxia recém-criada, tal qual um Big Bang, para receber a nova leitura da Chanel que, embora arrojada, apresenta um forte mergulho nas origens da casa. Matthieu Blazy, assim como outros colegas estreantes desta temporada, buscou do fundo do baú as ideias mais distintas quando se olha nas heranças de Coco.

Mas aqui, o passado não é reencenado, mas sim é reprogramado. Aqui, Blazy não copia o arquivo, mas sim o traduz. Das bainhas pesadas que desmontam a camisa de botões às flores explodidas em organza, o que se vê é um movimento de expansão: Coco como centro gravitacional de um novo sistema solar de referências.

Cores

O preto e branco seguem pulsando, mas o vermelho e o dourado invadem o sistema solar da Chanel. Foto: Montagem (Gabriel Fusari).

A começar pela paleta de cores, que determinam todo o caminho das pedras – ou nesse caso, das estrelas. O preto e branco seguem como pulsação da maison, mas o vermelho e o dourado aparecem como interferências vitais, lembrando que o rigor também pode ser vibrante. Blazy usa as cores como quem redesenha o mapa de um planeta: cada tom é um território que ainda pertence à mesma constelação.

 

Acessórios

As pérolas voltam longas, as bolsas se abrem, os colares se sobrepõem. Tudo vibra com excesso controlado. Uma bagunça elegante, que poderia muito bem estar sobre a penteadeira de Coco. Em Blazy, o acessório é mais que adorno: é memória em movimento.

 

Vestidos retos

As linhas dos anos 1920 voltam com peso e respiração. A liberdade de Coco vira textura. Foto: Colagem (Gabriel Fusari).

A simplicidade das linhas retas ganha espessura emocional. As saias e vestidos lembram os anos 1920, mas surgem com acabamentos desfiados e tecidos que se movem como se respirassem. Coco acreditava na liberdade do corpo; Blazy a devolve como textura, como relevo.

 

Novas camélias

As camélias foram redesenhadas por Matthieu Blazy, que brinca com a silhueta das flores fugindo do óbvio – agora, elas se abrem em escala e textura inéditas. Foto: Reprodução / Colagem (Gabriel Fusari).

A flor que sempre simbolizou equilíbrio agora se multiplica. Em escala, textura e volume. As camélias se unem a flores gigantes, broches e saias em movimento, criando um jardim que não busca simetria, mas coexistência. A beleza, aqui, é a do excesso, uma natureza que floresce além do controle.


Visual tomboy

O início da assinatura chanel vira atitude. Blazy revisita a Coco das corridas em Deauville: olhar masculino, calça larga, ombro solto. Androginia pura. Foto: Reprodução / Colagem (Gabriel Fusari).

O olhar de Blazy recua até a Chanel dos primeiros anos — a mulher que vestia ternos emprestados e chapéus masculinos em meio às corridas de cavalo em Deauville. Há um espírito tomboy nessa releitura: ombros relaxados, calças amplas, saias com fenda e bolsos funcionais. É o início da Chanel revisto como comportamento — a liberdade de vestir o que se quer, do jeito que se vive.


Combinações improváveis

Camisas oversized, saias mídi, sapatos de pontas quadradas. Chanel entre extremos – rigor e desvio. Imagens: Reprodução / Colagem (Gabriel Fusari).

Saias midi com camisas oversized, jaquetas de tweed com punhos dobrados, bolsas abertas transbordando vida. O contraste é o motor da coleção, e os sapatos de pontas quadradas reforçam o olhar para o masculino, retomando o gesto de Coco ao emprestar roupas e ideias de seus amantes. É Chanel entre extremos: o rigor e o desvio, o clássico e o mutante.

 

Coco no divã

O desfile parece terapia. Bordados, espelhos e amuletos aplicados nas peças remetem ao apartamento de Mademoiselle em textura. É como se fosse um chamado para a base. Foto: Reprodução / Colagem (Gabriel Fusari).

O desfile é quase uma sessão de análise. Os bordados ecoam o apartamento da Rue Cambon, com suas flores, espelhos e amuletos. Tudo parece revisitar a mente de Mademoiselle, como se Blazy abrisse as gavetas da memória e traduzisse em textura aquilo que era apenas sensação.

O corte de cabelo

O corte que leva o nome da designer está de volta. Natural, curto, direto – Chanel começa na cabeça: estilo como ruptura. Foto: Reprodução / Colagem (Gabriel Fusari).

O cabelo curto, natural e quase despretensioso reaparece como assinatura de liberdade. Não à toa, leva seu nome. Um aceno direto à própria Coco, que nos anos 1920 transformou o corte garçonne em símbolo de emancipação. No verão 2026, o gesto volta como lembrete de que estilo é também atitude e que a elegância, para a Chanel, sempre começou pelo gesto de romper.