Cris Barros, outono-inverno 2023 (Foto: Divulgação)

“Vou para longe! Para onde as nuvens são douradas”. Ao som das palavras cantadas da ópera “La Wally” (1892), de Alfredo Catalani, Cris Barros foi longe, longe mesmo. Para o Ipiranga paulistano, onde Dom Pedro gritou a Independência dois séculos atrás, a estilista levou seu desfile de outono-inverno 2023, La Vita Come Spettacolo: uma sucessão de arlequinas, “pierritas” e colombinas brilhantes – tiradas da Commedia dell’Arte italiana, por quem Alceu Penna já era apaixonado em carnavais passados – que coloriram a manhã desta quarta-feira (12.04).

Nos bastidores da apresentação, subindo as escadas do Palácio dos Cedros, a estilista, que completou recentemente 20 anos de marca, explicou à Bazaar a escolha do local: “Era o pano de fundo perfeito para a dramaturgia que eu idealizei para essa coleção”.

Tamanha era a teatralidade, aliás, que mesmo nas araras, as roupas (ainda sequer desfiladas) vibravam quase que com vida própria. Losangos, poás, paetês e estampas coloridas pincelaram a sala surpreendentemente fresca para um dia de outono com sol de verão. De lá mesmo, Cris revelou seu look favorito: um vestido rosa, com babados, bolinhas e bolonas, que Carol Ribeiro usaria minutos depois para fechar o desfile.

No andar de baixo, as cadeiras dos convidados enchiam os salões que, décadas atrás, foram a casa da tradicional família Jafet e que, agora, se tornavam o palco para o espetáculo que Cris Barros ousou proporcionar.

Descendo os mesmos degraus por onde se subia para espiar o backstage, 43 modelos deram o tom da peça fashionista que se desenrolou sob árias de óperas italianas remixadas. Um a um, os looks com movimentos cheios de personalidade, mostraram a fluidez das criações – algumas das quais já estavam vestindo as próprias convidadas.

O fim trouxe aplausos, de baixo e de cima. Do térreo, a plateia aplaudiu encantada, enquanto ainda mais palmas vieram do primeiro andar, direto das mãos da equipe que ajudou a dar vida aos figurinos. Mesmo sem cortinas, a cena foi de teatro: excêntrica e apaixonada, como a moda gosta de ser.

Na saída, o clima continuou leve, marcado pela felicidade que Cris Barros quis, assumidamente, inspirar: “As pessoas estão com vontade de viver. Viver com um sonho, com alegria. E é exatamente isso que eu estou trazendo com essa coleção.”

Bis? Só na próxima temporada – e sem programação divulgada. Com o sorriso no rosto, escondendo ou não os efeitos de oito meses de trabalho, a estilista diz: “Trabalho sempre com narrativas… mas não posso contar a próxima. Você vai ter que esperar um pouquinho para conhecer a historinha da próxima coleção.” Resta aguardar o intervalo.