Para a edição de dezembro da Harper’s Bazaar Brasil, a jornalista Daniela Falcão, à frente da plataforma Nordestesse, que reúne estilistas e criativos da região, divide sua curadoria de achados de Maceió. De roupas e acessórios a itens de decoração, veja a íntegra da seleção abaixo:
Arte de vestir
Imagine ter suas louças compradas por Brad Pitt ou uma roupa vendida para Uma Thurman. Foi exatamente isso que aconteceu com as irmãs alagoanas Ana Maia e Rosa Piatti. As duas são filhas da pernambucana Zelia Maia Nobre, pioneira na arquitetura modernista no Nordeste, que faleceu em maio passado, aos 94 anos. À frente do seu tempo, enfrentou o machismo, se formou em uma sala com 50 homens em Pernambuco e, depois, fundou, com muita luta, o curso de Arquitetura da Universidade Federal de Alagoas.
“Acompanhava minha mãe em tudo, em todas as viagens – depois a Ana também começou a ir junto. Isso fez com que a gente tivesse um olhar muito aguçado para a arquitetura”, lembra Rosa. Não surpreende, portanto, que tenha seguido os passos da matriarca, entrando para a faculdade de Arquitetura em 1976. Ana, a caçula, fez o mesmo caminho três anos depois. Mais que a arquitetura propriamente dita, entretanto, o que atraiu as irmãs foi o universo das artes.
Por mais de uma década, elas tocaram a Viver de Arte, marca que produzia objetos de decoração e luminárias que impressionavam pela originalidade. Participaram da Semana do Móvel de Milão e também da Maison & Objet, em Paris. Lojas de museus em Nova York, São Francisco e Chicago vendiam as cerâmicas das irmãs. O crescimento foi tão rápido que, quando se deram conta, estavam com 80 funcionários, fora os terceirizados. “A gente trabalhava no fundo do quintal. Foi um crescimento totalmente orgânico, sem planejamento, estudo de mercado nem assessoria de imprensa.”
Com a ascensão frenética, Ana e Rosa abriram franquias da Viver de Arte em Maceió, Ribeirão Preto, Brasília, Rio de Janeiro, Austrália e Israel. O ápice ocorreu em 2009, quando a Warner Bros. entrou em contato para encomendar 700 pratos pintados que haviam visto numa loja de museu. Os itens foram distribuídos como presentes para os atores em uma festa na semana do Oscar.
Entretanto, a logística de viagens e as dificuldades em profissionalizar a gestão fizeram com que as arquitetas decidissem “dar um tempo”: fecharam todas as franquias e tiraram um ano sabático. Na volta, decidiram abrir a Maia Piatti e passaram a produzir roupas pintadas e bordadas à mão personalizadas, em ritmo de slow fashion. “Produzimos sem pressa. Cada roupa é única e precisamos ter tesão de fazer algo que não se repita”, conta Rosa. Os caftãs e vestidos são vendidos em um charmoso galpão no tradicional bairro do Farol, onde também se encontram cerâmicas de Rosa e luminárias de Ana.
Maia Piatti
Rua Capitão Samuel Lins, 286 – Maceió, Alagoas
Que sabor!
Renata, Mailda e Jeanine Fontan, (mãe e filhas), assinam joias e acessórios autorais, feitos à mão, que ressaltam nossa ancestralidade e natureza exuberante. Pérolas naturais, pedras e madeira são entrelaçadas com técnicas inspiradas em adornos egípcios. A pulseira Maria Bonita é uma das peças-símbolo da Caleidoscópio.
Arquitetura portátil
Carro-chefe da alagoana Carlotte, a bolsa Lina é uma homenagem a Lina Bo Bardi, arquiteta como Beatriz e Rafaela Piatti. As bolsas têm nome de mulher, formas arquitetônicas e base de couro com detalhes de crochê, feito à mão. À venda, em SP, na Pinga e no Gallerist.
Deliberadamente natural
Lucia Bastos tem paixão por customização e dá seu toque pessoal em roupas e acessórios. Cria peças levando em consideração aspectos naturais e delicados, como formas e curvas orgânicas. Os brincos Deusa G são de metal banhado a ouro vintage, porcelana e prata.
Olhar sustentável
A Nord cria modelos atemporais de óculos de madeira feitos à mão. Ipê, jatobá e freijó dão forma aos modelos solares e de receituário – todas certificadas com o selo de manejo sustentável do FSC. O alagoano Thiago Laion aprendeu a trabalhar madeira com o avô, que fabricava violões – já seus tios desenhavam móveis, e a mãe é estilista. A marca usa cera de abelha como impermeabilizante, fabricada no sertão alagoano.
Herança local
Sandra Cavalcante faz uma ode à arte da renda filé, incorporando a trama em suas criações, de roupas a acessórios. A coleção “Identidade” destaca as tradições e as belezas naturais de Marechal Deodoro, onde a estilista nasceu, incorporando materiais reciclados a partir de uma moda consciente. Cheia de identidade, cada peça – rica em bordados e texturas – celebra valores ancestrais.
Cardume de barro
Peixes do Litoral Norte de Alagoas, como cioba, paru, garoupa-gato e guaiúba, ganharam interpretação lúdica nas mãos da ceramista Aline Angeli.
Memórias impressas
Jornalista, bordadeira e sertaneja, Alina Amaral mistura elementos da cultura popular a peças em linho e algodões. Desconstruir o bordado é a intenção, oferecendo assimetria, volumes disformes e tintas, com temas lúdicos e afetivos.
Pinceladas de afeto
A Casa Lado Bê é uma marca de estamparia artesanal criada em 2018 pelo estilista Giulio Marques e tem como propósito enaltecer o estado de Alagoas. As praias, a arquitetura, a fauna, a flora e a cultura popular do Estado são fontes de inspiração para as pinturas e descolorações têxteis feitas por Giulio. Trata-se de uma moda atemporal, de formas amplas, sem gênero definido em boa parte das peças, que podem ser encontradas no ateliê em Maceió (Rua Luiz Gonzaga Coutinho, 124, Jatiúca).
Joia marítima
A alagoana Fernanda Ferro encontrou seu caminho na joalheria contemporânea mesclando materiais nativos, como pedras, cerâmica, conchas e ostras, a ouro e prata. A sustentabilidade é propósito da marca, que traz um olhar amoroso e criativo a resíduos da pesca. O brinco Garra é parte da família de criações feitas com conchas de sururu e marisco – patrimônio imaterial de Alagoas.