por Cynthia Garcia 

Desde o cultuado “E Deus criou a Mulher” (1956), com BB seduzindo personagens e plateia no filme que elevou Bardot a mito, a França adora suas louras batizadas Brigitte. Elas transgridem os costumes, quebram tabus, enfrentam o diz- que-diz que causam na sociedade.Chegou a vez de a primeira- dama Brigitte Macron desestabilizar a milenar balança da hierarquia dos gêneros que prescreve a embolorada fórmula homem mais velho & mulher mais nova.

A contar de Napoleão Bonaparte, imperador aos 35 anos, com quem Emmanuel Macron é comparado, jamais a França foi chefiada por um homem tão jovem. Mas a semelhança não para aí. Josefina de Beauharnais, sua imperatriz, era (no mínimo) seis anos mais velha que ele. Sorte da bela martiniquenha que naqueles tempos os registros podiam ser mexidos à la vonté, como se diz em francês abrasileirado. No Alvorada,Temer, 76 anos, é 43 anos mais velho que Marcela, 33. Na Casa Branca, Trump, 70, ostenta 23 anos a mais que Melania, 47. No Élysée, ao contrário, Macron tem 39 anos e Brigitte, 64. Isso mesmo, 25 anos de diferença vividos com uma paixão que não se vê nos outros dois casais presidenciais.

Foto: AP/IMAGES/Divulgação

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Por que o amor deles perturba tanto? O badalado sexólogo francês Philippe Brenot, especialista em relacionamentos intergeracionais, explica que uma das importantes contribuições da juventude no pós-guerra foi se libertar do casamento por conveniência:“A prática da união por amor tornou esse sistema obsoleto no Ocidente e fez com que os relacionamentos evoluíssem muito. Hoje, vemos um número crescente de casais intergeracionais”. Sobre os Macron: “Eles representam a transgressão, a coragem de lutar contra o padrão social. Desmontaram o arquétipo ‘homem mais velho que a mulher’ e mais: o amor dos dois causa inveja aos casais que esqueceram esse sentimento normalmente atribuído aos jovens amantes. No inconsciente coletivo, a percepção de que eles são pessoas livres favoreceu a proposta política de Macron de empoderamento baseada no novo, no respeito às diferenças, na liberdade e na esperança de uma França forte na União Europeia”.

Foto: AP/IMAGES/Divulgação

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Diferentemente de Sarkozy, que fez de Carla um adorno, ou Hollande, que não assumiu a jornalista Valérie Trierweiler nem a inexpressiva atriz Julie Gayet, o novo presidente não esconde sua devoção:“Sem ela eu jamais teria conseguido”. Em 2007, o casamento deles testemunhou o ambicioso rapaz de 29 anos com a noiva de 54 anos, mãe de três filhos, sendo o primogênito dois anos mais velho que o futuro padrasto e a do meio, da idade do noivo.A verdade é que esses dois são um time 24 horas. Ela supervisiona tudo, escreve todos os seus discursos e é a ela que Le Kid, como a mídia francesa o apelidou, pergunta se foi bem.

Quem apoia Macron acusa as piadas de mau gosto dirigidas a eles de refletirem misoginia. Mas a professora de literatura Brigitte Trogneux (seu nome de solteira),que se apaixonou, aos 39 anos, pelo aluno de 15 anos e desde então, contra tudo e contra todos, estão juntos, não se abala com as baixarias que enfrenta há 20 anos, como ser chamada “Barbie com menopausa” na disputa presidencial. Nas páginas do livro de Nicolas Prissette, “Emmanuel Macron En Marche Vers l’Élysée”, lançado em 2016, ainda sem tradução, Brigitte, avó de sete netos, encara o tempo que passa e joga o complexo para o alto com ironia:“Ele precisa entrar na corrida presidencial em 2017 porque, em 2022, seu problema será meu rosto”.

Foto: AP/IMAGES/Divulgação

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Além de ser admirada por sua cultura, dinamismo e facilidade de comunicação, Bibi, como ele a chama, ou BAM (Brigitte Auzière, sobrenome do primeiro casamento, Macron), como a cunhou a imprensa, tem outro atributo de fazer inveja. Seu visual Jane Fonda, longilíneo, magro, bronzeado. No verão europeu do ano passado, uma foto de paparazzi sangrou a capa da edição de 12 de julho do Paris Match revelando a malhada Bibi de maiô, de mão dada com Manu (como ela o chama), o futuro presidente menos em forma do que a companheira de todas as horas.

Apesar de (ainda) não vestir Chanel, Lagerfeld não mede elogios a ela:“É uma mulher brilhante, intelectual, professora de literatura e tem um corpo ravissant (incrível)”. A primeira-dama expõe as pernas bonitas sobre saltos 12 Jimmy Choo, adora azul (cor de seu signo, serpente, no horóscopo chinês), curte couro preto, que dá a ela um charme rocker, e tem na Louis Vuitton sua marca eleita. Foi da LV o moderníssimo mantô navy com gola Mao e zíperes prateados que Brigitte vestiu no domingo em que seu homem derrotou a reacionária Marine Le Pen.As outras razões de seu apego à grife são sentimentais. Delphine Arnault,filha do big boss da LVMH e diretora da marca, é sua melhor amiga. O outro é um bairrismo fashion: tanto ela como Nicolas Ghesquière, diretor artístico da Louis Vuitton, são da mesma região, a Hauts-de-France. O Palácio do Élysée entra na ‘era Macron’ e o ‘estilo Brigitte’ se impõe, bem mais jovem do que seus salões dourados estão acostumados a testemunhar.