(di)vision (Foto: Reprodução/Copenhague Fashion Week)

Copenhague é muitas coisas. No próprio nome, já se entrega como o “porto de mercadores” favorito do Mar Báltico – e faz jus à geografia. Dessas mesmas águas azuis e geladas, Hans Christian Andersen tirou inspiração para a sua “A Pequena Sereia” ainda em 1845, mas, hoje, a capital da Dinamarca já virou palco para outras histórias. Em 2006, lançou sua própria semana de moda, um segredo bem guardado do norte que, há poucos anos, se desnudou na frente das câmeras e virou o point para fashionistas do mundo todo. E com bastante razão.

Fora do eixo tradicional da moda (leia-se Nova York, Londres, Milão e Paris), Copenhague ainda é uma cidade de descobertas. Sua fashion week, comandada por Cecilie Thorsmark desde 2018, ganhou destaque não apenas pelas iniciativas sustentáveis (como a ambição de banir completamente os plásticos), mas pelo line-up de nomes e talentos que ressignificam, temporada atrás de temporada, a moda para a sempre-conectada Geração Z.

Dessa vez, foram ainda mais novidades – prova da crescente influência da capital no imaginário fashion – e com presença brasileira. Além da Simple Organic, empresa de cosméticos e lifestyle que se tornou a primeira marca nacional a patrocinar a semana de moda dinamarquesa, o gaúcho-londrino João Maraschin também estreou no evento.

Nas páginas de agosto de BAZAAR, o estilista já dava spoilers do que vinha – e entregou ainda mais. Na coleção Roadtrip, colocou para jogo sua paleta colorida e streetwear texturizado: um drama com jeitinho brasileiro avant-garde e perfume europeu suave. Texturas e volumes, aliás, assumiram total protagonismo na temporada, a exemplo da Marimekko, com estampas mil, e a The Royal Danish Academy, cujo upcycling vibrante, com máscaras fetichistas e assinatura lúdica levantaram o espírito do clima de verão ameno.

A CARO Editions, de Caroline Brasch, desempenhou um papel parecido. Cheia de chapéuzinhos e styling à la brechó (alguns casaquetos tinham até silhuetas dos anos 1940), deu aos patchworks e estampas um tratamento bem-humorado distante da seriedade um pouco mais pretensiosa (mas não menos bonita) da OpéraSPORT, que abriu o calendário. Por falar nele… quem estava completamente up-to-date foi Sinéad O’Dwywer e A. ROEGE HOVE, já com modelitos no melhor da cor do momento: o verde-brat!

Momentum, afinal, é tudo na moda. E apesar do pecado em colocar Alectra Rothschild, da MASCULINA, para desfilar em plena luz do dia (sua moda é um espelho do underground noturno), ainda deu para se impressionar com a vulgaridade deliciosa de sua criatividade sem tabus – pense em looks apertados, transparências, tatuagens e unhas longas, prontas para atacar os mais caretas. Um pouco mais apropriada foi a apresentação igualmente irreverente da The Swedish School of Textiles, feita dentro de um galpão industrial. Nesse mesmo espírito, levemente mais distópico, a Fine Chaos colocou modelos na grama alta para contemplar um futuro sinistro do ser humano na natureza.

Na Copenhague Fashion Week, ousadia (na atitude ou no design) é requisito impreterível. Longe do verão continental, o clima do norte compõe bem a atmosfera de surpresas, como as pombas engaioladas soltas em pleno desfile da STAMM, uma das estreantes, e as mãos vermelhas penduradas no cenário de Henrik Vibskov.

Com 25 marcas na agenda – sem contar os desfiles de street style que tomam as ruas –, ainda dá para sentir o ritmo frenético do calendário usual da moda. Para alguns, foi até mesmo uma espécie de corrida que dividiu atenção com a agenda olímpica. A Baum und Pferdgarten, por exemplo, fez questão de batizar sua coleção ‘Office Olympics”, com passarela no meio de uma pista de atletismo e acessórios à caráter, como bolsas em forma de bola de futebol.

Baum und Pferdgarten (Foto: Reprodução/Copenhague Fashion Week)

Já dá para dizer que a moda é um esporte? Faz suar e celebrar igual – e no que diz respeito à Copenhague, o pódio é todo dos novos nomes que fazem a roda fashion girar para frente.