Detalhe da renda Filé – Foto: Carlos Davi

Por Helena Kussik

Da orla marítima, passando pelas grandes lagoas Mundaú e Manguaba e adentrando pelo mítico São Francisco, podemos conhecer muito do estado que carrega as águas no próprio nome e tem sua história embalada pelo ritmo das marés. Mas, para além do cristalino de suas águas e dos cenários paradisíacos, outra atração alagoana brilha aos olhos: as rendas e bordados, sempre presentes a colorir ainda mais a paisagem.

Filé, Bilros, Labirinto, Redendê, Boa Noite e Singeleza são algumas de suas técnicas mais preciosas e desejadas. A produção artesanal é bastante dinâmica, ativa nos diálogos e trocas culturais. O encontro com a moda, que tem se fortalecido nos últimos anos, revela um conjunto de novas possibilidades. Há décadas, quando se deseja criar e comunicar moda brasileira, busca-se promover a produção artesanal e estabelecer parcerias com artesãs, em especial do Nordeste, onde ela é superespecializada e a mais expressiva do País. Em Alagoas, algumas iniciativas buscam destacar os saberes, fazeres e as detentoras de conhecimento como patrimônio.

Dona Ivonete Santo dos Anjos, de 81 anos, cujo trabalho dá continuidade à cultura do bordado, trazendo as novas gerações para o artesanato e promovendo o protagonismo feminino no trabalho – Foto: Carlos Davi

Ações como reconhecer a renda Singeleza e o bordado Filé como Patrimônio Imaterial Cultural e as mestras Maria Severino (renda de Bilros), Ivonete Santos dos Anjos (bordado Filé) e Maria Cícera Rosendo da Rocha (bordado Labirinto) como Patrimônio Vivo, potencializam o trabalho de milhares de mulheres ainda anônimas.

Detalhe da renda Filé – Foto: Carlos Davi

Na moda, o projeto Renda-se visa ampliar o talento criativo das artesãs e resgatar o valor do feito à mão, em especial o Filé, representado pelo Instituto do Bordado Filé, o Inbordal, que assegura a excelência de qualidade das artesãs vinculadas, coordenadas por Petrucia Lopes. O Filé começa na rede, e daí vem a grande questão: é renda ou bordado? Segundo o registro de Indicação Geográfica do Filé alagoano, é um bordado feito sobre a rede, que por sua vez seria a renda. São elaborações teóricas sobre a técnica milenar que dialoga diretamente com a prática da pesca.

Caftã feito de renda Filé – Foto: Carlos Davi

O Renda-se teve sua primeira edição em 2020 – foi idealizado pelo Ponto de Produção e patrocinado pelo Magazine Luiza por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Um dos destaques do evento anual, que culmina em um grande desfile, é oferecer ferramentas necessárias para a conexão entre rendeiras, estudantes e estilistas, para que, juntos, desenvolvam o máximo potencial do feito à mão. Tudo com direção criativa de Fernando Perdigão, estilista que explora as possibilidades criativas do Filé há quase 40 anos. Alina Amaral, estilista e produtora executiva da última edição, comenta que o “Renda-se é a ferramenta que faltava para estimular o uso do Filé como expressão de moda alagoana”.

Mergulhar no universo artesanal é sempre inspirador, onde a cultura brasileira se materializa, revelando nossa história mais admirada. Ações como essas são essenciais para um ambiente de trocas mais justo e solidário, ideal para manter as tradições.