Marina Ruy Barbosa: “A maturidade me trouxe uma nova forma de me relacionar comigo mesma”

Por André Aloi, com fotos de Gabriela Schmidt, direção de arte de Marcelo Jaroz, styling de Patrícia Zuffa, beleza Krisna Carvalho, set designer Ana Arietti, produção executiva Vitor Martins (Zucahub), assistência de styling Letícia Alahmar e Maju Bergamaschi, assistentes de foto Bruno Bralfperr, Fernando Lima, Renato Toso e Bia Garbieri, assistentes de beleza Arthur Lordelo e Felipe Bertoli com perucas Shady Jordan e produtos M.A.C Cosmetics e L’Oréal Professionnel e tratamento de imagem Vetro Retouching

Marina Ruy Barbosa evoca diferentes versões de si mesma nas páginas de aniversário da Bazaar. Ousadia guia o ensaio, contemplando luz e sombra, volumes, texturas e formas e um quê de sereismo. Ser fotografada, para ela, é despir-se de sua própria personalidade e encarnar outros personagens. “Ali tem versões possíveis da Marina, também”, diverte-se sobre a possibilidade de mostrar outras faces enquanto atriz, pois não se considera modelo.

Outro trabalho do qual orgulha-se é o de empresária. Desde sempre, sonhou em ter uma label exalando seu lifestyle e imprimindo a própria persona. O desejo de transformar isso em realidade foi ganhando espaço na cabeça e no coração e, há cerca de dois anos, ela materializou a Ginger – marca de roupas nativa digital e que vem ampliando a presença em lojas físicas pelo Brasil. Começou no Shopping Leblon, Rio de Janeiro, abre as portas, neste mês, no Cidade Jardim, na capital paulista, e, em breve, chega ao Pátio Batel, em Curitiba. “Empreender aflorou em mim parte importante de quem sou hoje e me transforma de muitas formas. Nunca tinha sentido isso”, narra, contando estar ciente de todas as etapas do negócio, da criação à venda. “O espaço físico oferece experiência complementar à consumidora. Ajuda a solidificar nossos valores estéticos”.

Aos 27 anos, mergulhar de cabeça nos projetos assumidos é uma trademark. “Sou canceriana, então sou muito intensa”, reforça. Como garota-propaganda e embaixadora de diferentes marcas, viu abrir a trajetória empresarial. Começou com collabs e coleções assinadas, e logo estava dando pitaco nos produtos – para estarem alinhados não só ao seu rosto, mas também ao gosto pessoal. Feeling e bagagem necessários para montar o próprio negócio. A oportunidade de empreender a fez sair da zona de conforto no flerte com o mundo fashion. “A ideia sempre foi abandonar a cartilha do mercado, apresentar uma moda autoral, apurada, ousada e surpreendente”, define. DNA próprio, clareza do nome e identidade reforçam a experiência.

Marina sempre esteve à frente da carreira, fazendo escolhas decisivas. Está em nossos lares desde 2004, em sua primeira aparição na TV como a Aninha, na novela “Começar de Novo” (Globo). Em 2023, volta à televisão em seu primeiro papel internacional. Para a série “Rio Connection” (parceria da Sony com a Globoplay), teve aulas de canto e de violão ao dar vida à “intensa e complexa” Ana – garçonete e cantora em um nightclub. “Cheia de sombras, exala sensualidade. Está tentando achar o seu lugar no mundo, mas acaba se apaixonando loucamente por esse cara (Julien Sarti, interpretado por Aksel Ustun), envolvido com o tráfico”. A trama é baseada na história de Tommaso Buscetta, se passa nos idos de 1970, quando as máfias italiana e francesa vêm para o Brasil usar o Rio como pano de fundo para os negócios. “Bem diferente de tudo que já fiz, além de ser em inglês. Amo projetos que me movam”.

Com o aceno internacional, despista sobre um futuro hollywoodiano e não gosta de impor divisão na carreira. Ama interpretar, quer seguir atuando para o resto da vida, não importa aonde. Quer bons papéis e contar histórias inspiradoras. Na Globo, a conversa franca tem pautado esse diálogo para voltar à TV aberta no produto ou papel certo. Apesar de amar cantar, e seu rolê favorito entre amigos ser o karaokê, abrir essa aba profissionalmente não está no horizonte, com exceção de personagens que a levem para tal passo. “Não tenho credenciais para isso”, diverte-se. “Cantar com Roberto Carlos foi dos momentos mais loucos da minha vida. Estava enlouquecida, gravando ‘O Sétimo Guardião’ (2019, seu último papel em novelas) e aí surgiu o convite. Ícone, era um sonho”.

Apesar da serenidade transparecer, Marina se lê como uma pessoa extremamente ansiosa. “A minha cabeça é um caos”, divide. Começar a trabalhar muito nova, aos nove anos, pode ser a responsável por puxar para si tamanha responsabilidade. “Falo que, às vezes, o meu pior inimigo sou eu mesma. Porque é perfeccionismo e vontade de fazer tudo muito bem”, versa sobre autocobrança.

A pausa no mundo devido à pandemia a descompensou. Acostumada a ter tudo sob controle, percebeu que nem tudo está sob seu mando. “Tive de trabalhar dentro de mim essa busca da calma”, recorda. Válvula de escape como terapia é o contato com a natureza a fim de sossegar. Também faz Muay Thai, gosta de música e se define como “a louca da MPB” – sua playlist vai de Marisa Monte e Caetano Veloso a Gal Costa. “Pode parecer bobagem, mas a hora do banho é para descarregar as energias do dia, da rua e tentar desacelerar. Não pensar, só relaxar”.

Aprendeu na marra a escolher o que divide nas redes sociais, em especial do relacionamento com o deputado federal Guilherme Mussi. Prefere viver e curtir a intimidade a postar. “Não sei se foi uma escolha pensada, mas quis que minha vida pessoal saísse dessa superexposição para tentar uma condução mais simples e verdadeira”, resume. Em casal, para ela o mais importante é a troca. “A gente conversa bastante e acho uma coisa muito importante”.

Seja como atriz ou empreendedora, Marina segue na busca implacável de ser mais gentil consigo mesma, celebrar conquistas ao passo que segue como sua maior crítica. “A maturidade me trouxe uma nova forma de me relacionar comigo mesma”, reforça. Exercício diário e necessário. Marina não é de listas. Seus objetivos estão claros. Põe energia em visualizar e correr atrás ao invés de colocar as coisas no papel. “Ter empresa traz outra visão em relação a metas e planos. Você se vê pensando a longo prazo, algo que a gente acaba não fazendo no dia a dia”, pondera. Foge de fórmulas prontas e, apta às mudanças, dedica-se para continuar crescendo e se solidificando. No mais, está aberta a novos desafios, seja aqui, lá fora, como atriz ou apresentadora. Só precisa viver intensamente compromissos assumidos – na internet ou longe dela. Nisso, inspira outras mulheres, abre caminho e, focada, vai se embrenhando em sua própria maré.