Muito além da bolsa: como Jane Birkin eternizou seu estilo na moda (Foto: Getty Images)

A morte de Jane Birkin, aos 76 anos, no último domingo (16.07) fez de fashionistas de todas as gerações lembrarem da mulher – e seu estilo – que se tornou um dos maiores ícones do século XX. Ao lado de parceiros igualmente celebres, como Serge Gainsbourg, Jacques Doillon e John Barry, conquistou também o hall de sex symbols desejados, mas ajudou a transformar o sonho da imagem feminina de independência e irreverência em realidade. Nas telas e nos palcos (mesmo no desfile da Gucci, em 2018, quando performou ao vivo), levou sua própria identidade, que estampou capas de revistas e, desde seu falecimento, inundou as redes sociais.

Jane Birkin em 1974 (Foto: Getty Images)

Em retrospectivas da moda, o allure de Jane é um produto de seu tempo. Na era em que a couture parisiense começou a perder fôlego na corrida contra o prêt-à-porter, seu estilo jovem e intimamente britânico (onde os Swinging Sixties de Londres fervilham com novidades de Mary Quant e Biba) conquistou a capital da França e o mundo. Ela, ao contrário de nomes como Twiggy, Veruschka e Jean Shrimpton, não se oficializou como modelo, mas como a it-girl de aparência andrógina e sotaque cosmopolita. Seu acessório favorito? Uma cesta de palha que, junto com jeans e camisetas básicas, a acompanhou até os anos 1980, antes da criação lendária da bolsa Birkin, da Hermès.

Serge Gainsbourg e Jane Birkin (Foto: Getty Images)

A história é conhecida: em uma viagem de Paris até Londres, na primeira classe, ela derrubou todo o conteúdo da cesta no chão e reclamou, para o “vizinho” no assento ao lado, que tinha dificuldade em achar uma bolsa para o dia-a-dia. O homem, Jean-Louis Dumas, herdeiro e presidente da Hermès, se apresentou e sugeriu colaborar para uma solução que, anos mais tarde, resultou em uma versão repaginada da clássica bolsa haut-à-courreois batizada em homenagem à “menina-mulher”, a Birkin bag, que se tornou um tesouro para a moda assim como Jane sua musa inspiradora.

Jane Birkin em 1971 (Foto: Getty Images)

Às vezes em sandálias, outras descalça, a artista virou sinônimo de liberdade no guarda-roupa e na vida. Com sua voz quase-erótica, cantou Je t’aime… moi non plus, La Décadanse, Sea, Sex and Sun,que até hoje surgem em playlists nostálgicas e nas trilhas sonoras de cafés em Paris. O rosto, com o cabelo castanho e franja emblemática, marcou em produções do cinema como La Piscine, Blow-Up, Cannabis e Evil Under the Sun.

Serge Gainsbourg e Jane Birkin na estreia de ‘Slogan’, em agosto de 1969 (Foto: Getty Images)

Nas produções e na vida real, os vestidos mini eram favoritos, assim como os jeans azuis, que ela ajudou a transformar em indispensáveis no armário. As transparências e decotes carregavam inocência, na contramão da atitude sensual que ela, de forma natural, provocou quase inconscientemente. Nos padrões e tendências atuais, Jane não teria sido adepta à pureza do quiet-luxury, apesar de “favoritar” os básicos atemporais, das camisas brancas aos sobretudos e trench coats. E prevendo o grunge que dominou a década de 1990, construiu em volta do “desleixo proposital” a aura do “French Girl Style” que até hoje é obsessão nas redes sociais. Jane Birkin, afinal, virou aesthetic – mesmo nos seus últimos anos de vida, em que nunca abandou o estilo casual e própria e ainda viraliza na internet com sua Birkin da Hermès “destruída”, seguindo sua própria filosofia de que acessórios com aparência de usados são infinitamente mais charmosos. E não é que a aparência destroyed também virou, eventualmente, tendência?

Jane Birkin em 1973 (Foto: Getty Images)

Entre as três filhas, Charlotte GainsbourgLou Doillon e Kate Barry (que faleceu em 2013), Jane também deixou um legado indiscutível: as três, com twists pessoas sobre os próprios maneirismos e jeitos da mãe, se consagraram como it-girls concorridas do mundo fashion e hollywoodiano. Ainda assim, é a Birkin “original” quem marcou história na moda, com um portfólio de referências inesgotáveis, seja nas boutiques Hermès, livros e revistas ou hashtags digitais.