
trançados tailandês; e chapéu juju de penas tingidas camaronês Cargo Inc of Portland – Foto: Chris Hornbebker
Por Joy Yoon
Conforme a tecnologia inibe a divisão entre vida profissional e pessoal, não surpreende que a moda reflita essa ambiguidade. Da mistura de tendências, o athleisure parece estar preenchendo essa lacuna com facilidade. Mas o que tem de tão especial nesse cruzamento de roupas esportivas e de moda? Será que nos tornamos preguiçosos ou a vida se tornou tão esmagadora que a ideia de trocar de calça já é demais? Pode haver, no entanto, uma revolução escondida sob esse exterior confortável e flexível – uma mudança na relação de poder e uma verdadeira rebelião contra a conformidade.
Athleisure é uma colisão entre moda e sportswear. É uma ruptura dos códigos de vestuário, em que roupas desenhadas para a prática esportiva deixaram os armários da academia rumo ao cotidiano.A ideia não é nova ,é verdade.É o equivalente do combo collant fio dental e meias cor de pele dos anos 1980, que se tornou popular quando Jane Fonda decidiu que não tinha problema se nos exercitássemos em público, suando. E assim ganhou as ruas.

No fim da mesma década, uma certa editora, conhecida por seu penteado imutável, percebeu os ventos da mudança high-low na moda, na cultura e na sociedade e ganhou manchetes com sua primeira capa, em 1988, com retrato fiel desse novo estilo. As casual fridays vieram logo em seguida. Então, no começo dos anos 2000, conforme nossas realidades mudavam com a evolução da internet e o crescimento da cultura de startup, nossos uniformes mudaram junto. Dress codes profissionais e apropriados para um ambiente de trabalho não tinham mais as mesmas conotações. Quando um dos homens mais poderosos, ricos e influentes do mundo prefere moletons à alfaiataria, é sinal de que o jogo virou.

E, apesar das passarelas terem focado no minimalismo sem frescura e em vários itens oversized na última década, a tendência do athleisure persiste como algo totalmente diferente. Por quê? Não é uma moda exatamente esportiva. É, na verdade, uma moda desenhada para se parecer com ou vestir como algo esportivo, a exemplo das leggings de cashmere e couro da Kova&T. É uma versão atualizada das silhuetas focadas em função e movimento, mas para todos os tipos de corpo. E, ao contrário do bodycon, uma ideia que saiu das passarelas para as ruas, athleisure é o oposto e virou de ponta-cabeça as noções vigentes de influência do design.

A coisa mais atraente dessa tendência é a facilidade. Ela responde aos nossos estilos de vida cada vez mais apressados. Não é preciso carregar uma bolsa extra para a academia – ela se move com você, trabalha com você e não contra você.Te leva da noite para o dia com uma versatilidade funcional antes exclusiva às mulheres esportivas. Cabe tranquilamente em nossos guarda-roupas e são aceitas por muitos como vestimentas para o dia todo. De acordo com Mark Parker, CEO da Nike, este é “o novo jeans”.
Também nos oferece a ilusão de que nós podemos. Exercício físico é, cada vez mais, algo aspiracional e símbolo de autoestima. Mesmo se você não tiver um estilo de vida ativo, pode se vestir como se tivesse e entrar na onda. Calças que absorvem umidade são essenciais para assistir Netflix ou ir ao mercado comprar leite? Hoje em dia, sim.

No entanto, é algo que perturba um ideal, especialmente quando se trata do nosso entendimento de uniformes sistemáticos, que estão cada vez mais fora de moda. Estilo tem a ver com interpretação pessoal e não com instituições, e essa mudança nos permite imprimir nossa marca e cumprir a necessidade de identificar nosso lugar no mundo da maneira mais fácil. É nossa armadura, o que usamos para enfrentar as interações do dia a dia. Mas, por que nossa interpretação está agora sob investigação?

Nossas atitudes, quando se trata de vida pessoal e profissional, mudam constantemente, o que pede uma contínua exploração dos elementos que melhor se adaptam a esse estilo de vida. E, num mundo mediado por tecnologia e, mais ainda, pelas redes sociais, o pé não sai do acelerador. Mídias sociais já são essenciais na definição do que vemos, como vemos – e como consumimos. Hoje, não apenas se lê, se compartilha. E instantaneamente. Influenciadores e hashtags oferecem uma lente cultural crescente à moda e seus ideais, que nos permite explorar o mundo e descobrir uma tendência em segundos.

A conectividade social terá um lugar fundamental no conceito do individualismo e é uma razão importante quando se trata de explicar por que a identidade visual do sportswear está evoluindo sem fazer referências diretas ao esporte. O Instagram alimenta nosso desejo de relevância e torna o #fomo (fear of missing out, o medo de ficar de fora) muito real e a lealdade à marca, menos. É o que nos ajudou a ir do clique de biquíni à selfie #fitspo, mas o sentimento é o mesmo. Trata-se de uma autocelebração e de propagar e preservar nossa versão de nós mesmos, quando quisermos.Trata-se de se sentir bem consigo mesmo – de legging e tudo.