
O que é o emocore?
A estética emo nunca foi só sobre música. Com olhos borrados, alfaiataria sombria e uma dose precisa de drama, o estilo que marcou os anos 2000 retorna às passarelas, ao street style — e agora, aos palcos brasileiros.
Quando o My Chemical Romance anunciou seu retorno ao Brasil após 16 anos, as redes sociais se dividiram entre euforia nostálgica e descobertas tardias. Mas além do grito coletivo dos fãs, há algo mais acontecendo: o revival de uma estética que transcendeu o som e se instalou de vez na cultura visual. Sim, estamos falando do emocore — ou, simplesmente, emo — como referência de moda.
Se nos anos 2000 vestir preto da cabeça aos pés, carregar delineado borrado e usar camisetas de banda eram sinais de não-pertencimento, hoje o emo é, paradoxalmente, tendência. As franjas voltaram. O eye liner pesado também. E aquela alfaiataria dramática que parecia saída de um videoclipe de Helena? Está nos desfiles de Balenciaga, Rick Owens, Ann Demeulemeester, Celine by Slimane e Y/Project.
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Emo como performance visual
Poucas bandas consolidaram tão bem a estética emocional quanto o MCR. Com seus ternos escuros, maquiagem pesada e referências visuais que vão do gótico ao teatro expressionista, Gerard Way se tornou um ícone fashion da subversão. E não por acaso: o vocalista é formado em artes visuais e sempre pensou cada álbum da banda como uma obra estética total — da paleta de cores aos figurinos.
Em The Black Parade (2006), a banda surgiu em uniformes inspirados nos trajes militares vitorianos. Em Danger Days (2010), assumiu um visual colorido e distópico, quase cartunesco. Ao longo dos anos, Way experimentou batom vermelho, saias plissadas e ternos femininos — tudo isso antes de a indústria da moda consolidar o discurso sobre fluidez de gênero.
Hoje, esse legado reverbera não só entre os fãs, mas nas coleções de marcas que exploram a mesma intersecção entre melancolia, romantismo e provocação visual.

Olivia Rodrigo é fã do emocore
Estética emocional e alfaiataria sombria
A volta da moda emo — agora rebatizada de “romântico sombrio”, “dark academia” ou até “post-goth” — não é coincidência. Em tempos de saturação visual e otimismo forçado, há algo de libertador em abraçar o drama. Ombros estruturados, golas altas, volumes exagerados e tons escuros dominam coleções recentes. Não se trata de copiar o visual de 2007, mas de absorver sua linguagem: intensidade, melancolia e presença.
Grifes como Molly Goddard* e Dilara Fındıkoğlu atualizam a silhueta emo com babados, rendas e referências vitorianas. Já Cecilie Bahnsen e Simone Rocha apostam na justaposição de delicadeza e peso. A maquiagem gótica, com olhos esfumados em preto e blush marcado, também voltou ao radar das passarelas, das campanhas e do TikTok.

Billie Eilish também é adepta do emocore Reprodução/Instagram/@billieeilish
Emo é política de estilo
Mais do que nostalgia, o retorno da estética emocore é uma resposta ao presente. A moda sempre traduziu inquietações sociais — e o emo foi, desde o início, uma forma de expressão identitária. Ele deu espaço a corpos fora do padrão, a sensibilidade não normativas e a estéticas não higienizadas. Era uma moda que não queria agradar, mas dizer: “eu sinto, logo existo”.
Hoje, com a expansão dos debates sobre gênero, neurodivergência e vulnerabilidade emocional, o emo encontra um novo público. E não é à toa que tantas figuras da música atual — como Willow Smith, Olivia Rodrigo, Billie Eilish e até Bad Bunny — flertam com essa estética como parte de seus códigos visuais. A moda emocore, afinal, é sobre excesso, intensidade e sentimento. E isso, como sabemos, nunca sai de moda.