
A tropa real chega neste sábado (167.04) ao castelo de Windor para o funeral do príncipe Philip – Foto: Getty Images
Por Carol Hungria e Li Lacerda
Morto na última sexta-feira (09.04) aos 99 anos, depois de um período afastado dos deveres oficiais da monarquia por sua saúde debilitada, o príncipe Philip foi mais que o “consorte” da rainha mais popular e longeva da história do Reino Unido. Entre erros e acertos é mérito dele a popularidade da monarquia britânica em pleno século 21.
Nascido na ilha grega de Corfu, em 10 de junho de 1921, Philip Mountbatten era o filho mais novo e único filho homem do príncipe André da Grécia e da princesa Alice de Battenberg da Dinamarca. A família fugiu quando seu pai foi acusado de alta traição após a derrota dos gregos pelos turcos. Eles foram resgatados por um navio de guerra britânico, com o pequeno Philip de um ano de idade sendo carregado em um berço improvisado feito de uma caixa laranja.
Sua infância de privações foi bem diferente do que se esperava de uma criança nascida na aristocracia: Com o pai viciado em jogo e a mãe surda internada por depressão, Philip foi enviado para ser educado em rigorosos internatos no Reino Unido.
Todas as dificuldades e dramas dos primeiros anos de vida ajudaram a moldar a personalidade forte do príncipe que passou a vida com o rótulo de rebelde. Se tornou um piloto qualificado e um marinheiro talentoso: foi mencionado em despachos de guerra, em 1941, por seu papel na Batalha de Matapan contra a frota italiana. Seus serviços durante a guerra também foi presente na rendição japonesa na Baía de Tóquio em 1945. Philip, antes de ser marido de uma princesa, foi veterano de guerra condecorado.
Primo de terceiro grau da jovem princesa e futura rainha Elizabeth, ele se tornou um pretendente sério em 1946, embora ela tenha se apaixonado por ele quando tinha 13 anos. O casamento aconteceu na abadia de Westminster em 1947 e, juntos, tiveram quatro filhos: Charles, Anne, Andrews e Eduard.
O ingresso de Philip na família real não aconteceu sem questionamentos. Direto, franco e combatível, nunca deixou de emitir sua opinião sobre questões que ele considerava ultrapassadas na realeza como a iniciativa de abolir, em 1958, a prática de apresentar debutantes na corte.
Em compensação, adotou almoços informais no palácio onde pessoas de vários seguimentos da sociedade eram convidadas. Ampliou encontros ao ar livre no jardim dos palácios e abriu para as câmeras da BBC eventos importantes da monarquia. Foi ele que sugeriu a transmissão de seu casamento com a rainha pela TV, assim como a coração da monarca. A prática adotada até hoje em casamentos reais e provavelmente em coroações futuras.
Embora fosse marido da rainha, pai, avô e bisavô dos futuros reis da Inglaterra, Philip nunca pode exercer de fato um papel constitucional. Ainda sim, passou a ser conselheiro particular e presidente da Way Ahead, grupo não oficial composto por membros importantes da família real e seus conselheiros para analisar e evitar críticas à instituição. O objetivo era modernizar uma monarquia que temia desaparecer e ser lembrada em museus e livros de história.
A rainha só tomava grandes decisões sobre a casa real, como a abolição do iate real Britannia e sua carta para Charles e Diana sugerindo um divórcio, depois de consultar a opinião do duque, como é mencionado em biografias do palácio. Pelo destaque que seu falecimento teve na imprensa internacional, pode-se concluir que ele foi bem-sucedido. Mas entre muitos acertos, alguns tropeços: é atribuída a ele os arranjos para o casamento entre Charles e Diana, cujo fim já conhecemos.
Apesar do senso de dever para com a firma (como é chamada internamente a monarquia), Philip sempre teve pouco reconhecimento do público por seus esforços, mesmo que por décadas tenha sido o membro mais ativo da família real depois da rainha. E sobre isso o príncipe sempre teve mágoas profundas e as tornou públicas se descrevendo certa vez como “um príncipe dos Bálcãs desacreditado, sem nenhum mérito ou distinção particular”.
Fato é que o homem classificado como ambicioso e complexo, que enfrentou muitos obstáculos em mais de 70 anos de vida pública, sem dinheiro e sem título, que se casou com a jovem princesa Elizabeth por determinação dela em convencer o pai a aceitá-lo conseguiu superar o preconceito e escreveu para si uma história única na monarquia e na história britânica.