Ana Carolina Soares - O poder e a sexualidade das 50+

Andréa Beltrão em “Um Lugar Ao Sol” – Foto: TV Globo/Divulgação

Por Ana Carolina Soares

Andréa Beltrão sempre foi diva. Quem estava vivo na década de 1980, como eu, sabe disso: um dos primeiros papéis da atriz na televisão foi Zelda Scott, uma jovem que namorava ao mesmo tempo dois galãs, Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biasi). Eu tinha 11 anos na época em que estreou o seriado “Armação Ilimitada”, em 1985, e desde menina, não sonhava em ter outra vida senão Zelda, uma jornalista descolada entre dois amores.

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Curto novela até hoje e tenho acompanhado Um Lugar ao Sol. O papel de Andréa, mais uma vez, tornou-se um espelho. Vale muito a pena assistir especialmente por sua Rebeca, uma mulher linda e inteligente que arrasta um casamento falido com um marido uó só por medo e convenções.

Se você é mulher, com certeza já passou por um “momento dilema de Rebeca”: atura um companheiro insuportável por medo de ficar sozinha, porque seus pais querem netos, pânico do julgamento dos outros, de ficar para “titia”, de ser considerada “velha” para voltar a ficar solteira e passar a noite na balada, além de uma infinidade de convenções bestas. Quem nunca? rsrs

Como muitos homens, o marido dela na trama, o vilão Tulio (Daniel Dantas, que está incrível no papel com sua voz anasalada), coloca a esposa “para baixo”. O cara é infiel, grosseiro, arrogante, enfim, um horroroso e ainda joga a culpa na parceira, na baixa libido dela. E pior: Rebeca acredita nisso. Entrou na menopausa, sente os primeiros sintomas e acha que esse é seu principal problema.

Mas tem uma luz no fim do túnel: a personagem começa a “abrir os olhos”, vai ao divã, volta a enxergar sua beleza, seus valores, permite-se para olhar para um homem lindo, sensível e inteligente, que, por acaso, é quase duas décadas mais novo (Felipe, interpretado pelo maravilhoso Gabriel Leone). Ele é amigo da filha, Cecília (Fernanda Marques), que tem um olhar competitivo com a mãe. Muitos obstáculos para Rebeca, mas, fato, é fácil prever um final feliz nessa trajetória.

Não é de hoje que as cinquentonas ganham os holofotes nas tramas. Por exemplo, além de Rebeca, também está em cartaz Aline, interpretada pela diva Paula Burlamaqui, que esbaldou seu corpão ao ter orgasmos múltiplos com um jovem em “Verdades Secretas 2”. Detalhe: o seu par na cena é um DJ, ex-namorado da filha.

Eu poderia passar parágrafos aqui citando vários outros casos na teledramaturgia moderna, mas preciso destacar a importância de “Divã”, de Martha Medeiros, que teve a protagonista Mercedes, interpretada por Lilia Cabral. Que eu me lembre, foi a primeira vez em que a sexualidade da mulher pós-50 foi retratada sem estereótipos, em um drama real.

Nas redes sociais, tem divas que admiro imensamente, que falam abertamente sobre o tema: Claudia Raia, Helena Schargel, que aos 81 anos posa plena de lingerie, e Adriana Miranda, musa fitness pós-60 (aliás, é mãe da colunista aqui Diana Motta e do ator Adriano Toloza, o personal sexy Igor de “Verdades Secretas”).

Bem, eu tenho 47 anos e, claro, as reflexões sobre os possíveis limites da idade também me pautam. Parece conversa de autoajuda, mas juro que é sincero: não gostaria de voltar no tempo. Mesmo. Ou seja, não trocaria meu corpo, minha mente, qualquer relacionamento, profissão, enfim, absolutamente nada em minha vida. Escolheria sempre o hoje.

Tenho a melhor relação com o meu corpo e com a minha sexualidade de todos os tempos. Para falar a verdade, meu orgasmo mais intenso só veio em 2017, depois que conheci o tantra. Até então, era adepta do tradicional “sexo kung fu”, com muita performance e poucos sentimento e sensações.

Sobre o corpo, bem, como a maioria, engordei quase 10 quilos na pandemia. Quero emagrecer, mas não me sinto mais dependente da forma física para me sentir sexy ou atraente ou interessante. Eu sei quem eu sou e o meu potencial.

Ainda não passo pelas agruras da menopausa, mas há anos estudo a respeito. Absolutamente todos os médicos são categóricos ao afirmar que a vida seguirá linda e prazerosa com o tratamento hormonal. Sim, existe o ressecamento vaginal, mas ele é tratável. Confio na ciência!

Além disso, a principal causa da baixa libido é o estímulo. Você sabe que o cérebro é o maior e principal órgão sexual, certo? Em segundo lugar, a pele, os sentidos. Com a cabeça e o corpo em ordem, o prazer (sós ou em companhia) é mera consequência 😉

Divirtam-se e boas festas!

@anacarolcsoares é jornalista desde 1994, ganhou prêmios e passou por grandes veículos de comunicação, trabalhando como repórter, editora, colunista e PR. É muito feliz também em cursos de tantra, fez mais de dez e até tirou certificado de terapeuta tântrica com Gilson Nakamura em janeiro de 2019, no método Deva Nishok. Dona de cachos assumidos e ama escrever sobre sexo, como a musa Carrie Bradshaw.