Por Matheus Evangelista
Customização de abadá? Look do dia? Poses no backdrop? No camarote e no baile da Arara, esqueça. Não tem nada disso. Mas prepare uma boa e criativa fantasia (headpieces são imprescindíveis!), e quanto mais corpo à mostra, melhor. Ali, a diversão é pura e genuína, como nos bailes de antigamente, com sambas e marchinhas – e é isso o que tem mudado a cara do carnaval carioca. “Dentro do nosso camarote, a gente realmente quer que as pessoas curtam, aproveitem a Sapucaí. Quando você olha aquela beleza toda passar, as pessoas que trabalharam o ano inteiro para estar ali, isso é o mais lindo”, conta Pedro Igor Alcântara, que ao lado de Malu Barretto, são os idealizadores da festa.
É um momento para se jogar de verdade – e não é à toa que o baile em Santa Tereza, criado em 2015, e só para convidados, coleciona ótimas histórias e lembranças. Caetano, Alcione, Criolo, Oskar Metsavat, Regina Casé, Alinne Moraes… Uma mistura instigante de artistas, músicos e o povo da moda faz ferver o casarão da festa, como se não houvesse amanhã. O camarote da Arara surgiu cinco anos depois, em 2020. Mas mesmo com uma única edição, também já virou um hit.
Imagine, então, como será o camarote de agora, que vem com uma sede represada de diversão, depois de nos privarmos de toda a liberdade, catarse e frenesi que envolve a maior festa popular do mundo. Com a pandemia global de Covid-19, desde 2020 a folia entrou em stand-by e, dois anos depois, apenas a partir deste mês é que vamos – finalmente! – colocar o bloco de volta às ruas.
“A emoção este ano vai ser em dobro, não tendo carnaval no ano passado, esperávamos por isso tudo, pós-pandemia, nesse momento em que o mundo se recolheu, o oposto ao Carnaval, que é euforia, comemoração, todo mundo junto; esse vai ser o Carnaval do século, que é o que todo mundo espera”, conta Pedro, animado, diretamente do QG da Arara na capital carioca.
O voo da Arara é certo – e a direção dessa dupla é sempre para o alto. Ao darem vida ao bloco e ao baile, quase oito anos atrás, chocaram ao propor uma festa onde convites não estão à venda e que foge das regras corporativas. Resultado? Atiçaram os foliões ávidos por uma boa festa e chacoalharam as artérias já fervilhantes do berço do samba.
“Gostamos muito de festas, a gente quer fazer a festa em que vamos nos divertir, é muito difícil nos tempos de hoje você ir para uma comemoração que não seja corporativa, travada, onde a pessoa não esteja ali por um interesse, seja pelo cliente ou pela projeção… E a gente faz uma festa que é só para se divertir. Quem não vai com esse intuito, errou. A pessoa fica deslocada, porque ninguém está ali para fazer carão. O close acontece, mas o principal é se divertir”, brinca Pedro.
E o boca a boca deixou tudo ainda mais frenético. “Você vai na Arara?” é a pergunta mais ouvida pré-carnaval em tempos pandêmicos, tamanha a vontade de curtir o baile seguido de bloco, que desce as ruas de Santa Tereza quando o sol dá as caras e só termina, bem, quando a bateria dos foliões arriar. E foi a partir desta vontade que os dois resolveram expandir as ideias e colocar na Avenida um pedaço desse projeto transgressor. “Eu e Pedro sempre falamos que no Carnaval queremos ouvir só samba, estamos na Sapucaí, queremos ver a Escola, não queríamos ter aquela música eletrônica no fundo, como um ruído. Respeitamos muito as Escolas de Samba e é por isso, com base na nossa experiência, que criamos o camarote da Arara”, conta Mallu.
“Os camarotes da Sapucaí foram se tornando mais festas fechadas e as escolas viraram coadjuvantes; sentíamos que não era o caso. Queríamos resgatar a vontade de estar ali para assistir as Escolas e em um espaço que fosse inteiro voltado para o samba, em uma experiência renovada”, detalha Pedro, ao explicar os diferenciais dessa segunda edição do Camarote da Arara, que acontece nos dias 22, 23 e 30 de abril. Instalado em frente ao recuo da bateria, o espaço não tem margem para erro – e a diversão é garantida. Sentir a vibração e a música por completo faz valer estar ali.
Para esse ano, entre o intervalo de uma Escola e outra, Teresa Cristina, Mart’nália, Roberta Sá, Criolo e Diogo Nogueira são só alguns dos nomes confirmados. Se sentir em casa é o segredo para curtir o carnaval proporcionado e criado por essa dupla. “Essa é a diferença de fazer as coisas com paixão. Seja o baile ou o camarote, estamos ali do princípio ao fim, fazendo o que acreditamos”, finaliza Pedro com a ansiedade nas alturas – e só não batendo a vontade de quem vos escreve e que viverá essa experiência pela primeira vez este mês. Nos vemos na Avenida!