O que a cantora Anitta, a apresentadora Patrícia Poeta e a atriz Giovanna Ewbank têm em comum? Além da beleza e de serem profissionais com uma carreira de sucesso, elas são portadoras da endometriose, uma doença caracterizada pelo implante de um tecido semelhante ao que reveste a cavidade do útero, mas, fora do útero.
Tanto burburinho em torno desse tema tem um motivo. Um não, vários. Como essa condição leva a dores incapacitantes, que podem ser intensificadas na evacuação, ao fazer xixi e nas relações sexuais, é uma das principais causas de absenteísmo na mulher, isto é, ausências no trabalho, falta de motivação e uma péssima qualidade de vida.
E o diagnóstico leva tempo, entre sete a 12 anos, por ser confundido com outras doenças, como infecção vaginal ou urinária. Patrícia Poeta revelou recentemente que sofria com essa condição e que demorou para descobrir, seu diagnóstico aconteceu aos 40 anos.
“Sentir dor não é normal e nem é frescura. A mulher precisa entender que a cólica incapacitante, aquela que a faz deixar as tarefas de lado, seja em casa ou no trabalho, incluindo a dor na relação sexual, deve ser investigada, pois são sintomas claros de endometriose”, alerta o ginecologista Mauricio Abrão, professor associado de Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP, que tratou Anitta.
Essa investigação passa pelo chamado mapeamento da endometriose, que não consiste apenas no diagnóstico clínico com a anamnese, para saber o tipo de dor, se há dificuldade para engravidar e todo o histórico de saúde da paciente, mas é imprescindível se submeter a exames de imagem. Entre eles, a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal (USTV), que vem ganhando destaque por ser um método não invasivo e com excelentes resultados.
O outro é a ressonância magnética, que permite avaliar múltiplos planos, é indicada antes da cirurgia e para pacientes que não podem fazer o exame transvaginal”, explica o especialista, que é coordenador do Setor de Ginecologia Avançada da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e presidente da AAGL – Associação Americana de Ginecologia Laparoscópica.
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A cantora Anitta conta sua experiência com a endometriose
Por fim, a laparoscopia, cirurgia minimamente invasiva, tem duas funções. Ela pode ser diagnóstica, utilizada para fazer uma biópsia nos focos. É um procedimento mais antigo e vem caindo em desuso. E a laparoscopia operatória, para remover esses focos, como aconteceu com a Anitta. Aliás, as atrizes Fernanda Machado e Giovanna Ewbank também comentaram que passaram pelo procedimento.
A atriz Giovanna Ewbank mostra os furos da sua cirurgia de endometriose
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A atriz Fernanda Machado conta sobre a endometriose
Em alguns casos, a única solução é a histerectomia, remoção cirúrgica do útero, como aconteceu com a roteirista da série “Girls” e vencedora do Globo de Ouro, Lena Dunham. Ela confessou que sentia fortes dores causadas pela endometriose e que teve dificuldade para conseguir que os médicos aceitassem sua opção de remover o órgão, pois não tem filhos e ainda está em idade reprodutiva. Chegou a dizer que sua menstruação corria ao contrário e enchia seu estômago de sangue, completando que seu ovários se instalaram nos músculos ao redor dos nervos espinhais das costas e ela tinha dificuldade até para caminhar. “Ela não se limita ao útero. Pode se infiltrar e atingir outros órgãos, como intestino e bexiga. Em alguns casos, pode acometer coluna e até pulmão”, revela Mauricio Abrão.
É considerada ainda uma doença estrogênio-dependente, ou seja, esse hormônio alimenta o crescimento e os sintomas. E isso não significa ter que passar pela histerectomia ou laparoscopia. Tudo depende de uma avaliação criteriosa, da condição clínica da paciente, da idade e dos focos encontrados. “Nem todo caso é cirúrgico. Pode ser indicado o uso de anticoncepcional e a mudança de alguns hábitos, como perder peso, se estiver acima; praticar exercícios, já que a atividade aeróbica libera endorfina, que tem um efeito analgésico; e ainda ter uma alimentação antiinflamatória, que vai ajudar a controlar as dores”, conta o especialista.
Outras famosas já falaram abertamente sobre a condição que afeta, segundo a Organização Mundial de Saúde, 7 milhões de brasileiras e só em 2019, cerca de 12 mil precisaram de internação. Isabella Santoni, atriz e modelo, também é portadora e chamou a atenção dos seus seguidores para a importância do diagnóstico precoce.
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“Não ignore suas dores. A endometriose não tem cura, mas quando bem controlada oferece uma boa qualidade de vida para suas portadoras”, sentencia Mauricio Abrão.