Por Camila Salek
Que o mundo dos negócios está em transformação, todos nós já entendemos. Também já deveríamos ter entendido que esta transformação não é uma passagem, mas sim uma constante. Quando olho para o mercado de varejo, que é o meu ambiente diário de trabalho, percebo claramente que lojas que funcionam como estoques e tem foco transacional não serão a primeira opção de compra com tantos canais hoje disponíveis.
Quando falamos em transformação, muitas vezes vinculamos inovação ao uso de tecnologia. A tecnologia se tornou intrínseca para a construção do novo varejo físico, seja como meio de ampliação da experiência do consumidor ou captura de dados para o varejista. Isto é um fato. Porém é muito importante entendermos que o fator fundamental que move o varejo (e boa parte dos negócios) são as pessoas e é para elas que no final das contas todos nós trabalhamos. Ao pensarmos em processos de transformação, precisamos pensar em como fazer negócios realmente centrados nas pessoas.
Tenho uma crença muito forte no varejo como o coração da conexão entre marcas e pessoas. Hoje, como descrevi na chamada da coluna, não vou falar sobre multi ou omnicanalidade, sobre varejo físico ou vendas virtuais. Hoje, quero falar mais sobre a experiência que as marcas proporcionam às pessoas e menos sobre como a transação acontece. Já pararam para pensar que temos a chance de criarmos uma nova experiência de varejo independente do canal? Assim, seja ele físico ou digital, não interessa, estou falando sobre a sensibilidade de entender pessoas e de oferecer a melhor experiência para elas.
Na última semana, lancei um projeto totalmente voltado às pessoas e à comunidade: o Bazar da Gerando Falcões. Este projeto representa um ecossistema de desenvolvimento social que atua em mais de quatro mil favelas em todo o Brasil! O modelo do Bazar opera com base na economia circular, onde todos os produtos (novos e usados) são doados e colocados à venda por valores até 80% mais baixos para a comunidade. O valor arrecadado é 100% reinvestido em programas de transformação nas periferias, com o propósito de oferecer acesso à população de baixa renda. Acredito muito que o que move o varejo são as comunidades. A comunidade faz o varejo acontecer, pois consome nele. Se não partirmos da comunidade, projeto nenhum tem verdade. Foi exatamente nessa conexão de propósito, de dar voz e espaço para comunidades, que o meu encontro com a Gerando Falcões aconteceu!
O projeto Bazar da Gerando Falcōes simboliza o verdadeiro significado de negócios voltados às pessoas, pois sua raiz está em um projeto social. Porém, é possível ter esta mesma inteligência no desenvolvimento de um negócio que tenha foco privado também. Aliás, vou contar um pouco de outros dois modelos de negócios que admiro:
Universal Standard
A Universal Standard é um excelente exemplo dos novos tempos. A loja física da marca é um verdadeiro templo, onde as compras podem ser especiais – algo íntimo e pessoal. Um ambiente para impulsionar a conexão entre amigos, família e sua comunidade. Nas palavras da própria marca: “um espaço de troca onde as compras possam se estender além da tela, para ser uma experiência, não apenas uma transação”. A marca lidera conversas importantes de diversidade e aceitação, respondendo aos medos com apoio, angústia com conforto, descrença com fatos.
Uso a Universal Standard para falar de negócios que atuam como instituições vivas, ajudando a formatar a sociedade que todos nós vivemos, conectando de forma orgânica, pessoas e marcas que estejam em busca de uma troca de valores genuína com benefícios mútuos para ambos os lados.
Neighborhood Goods
Já assisti o Matt Alexander falar pessoalmente da sua Neighborhood Goods por duas vezes e assistiria mais umas dez! O modelo de negócios criado por ele é totalmente conectado com o que acredito ser o caminho do novo varejo. A Neighborhood Goods é um novo tipo de loja de departamentos, pautada em um cenário de constante mudança de marcas, produtos e conceitos. Mais do que isso, a Neighborhood Goods é uma comunidade, reunindo pessoas para comprar, comer e aprender em espaços físicos vibrantes, por meio de um imersivo conteúdo editado e curadoria impecável. Só para dar uma ideia, são mais de 40 marcas ofertadas (sendo a maior parte delas nativas digitais que estão pela primeira vez no varejo físico). Eles estão provocando muito o conceito (mega adormecido) de lojas de departamento para promover uma nova cultura em torno das compras e das experiências nelas contidas. Os espaços sociais são lindos e sempre contam com comida, bebida, eventos incríveis, palestrantes ao vivo e muito mais.
O que quero deixar como mensagem nesta coluna é que cada canal tem um papel e que, independentemente do papel, estamos falando de satisfazer desejos e necessidades de pessoas que querem se relacionar com a nossa marca. O canal físico da marca, representado pelo varejo, será cada vez mais sobre olho no olho, experiência, detalhes e conexão local. É sobre estar inserido numa comunidade. Chegou a hora de, definitivamente, usarmos a empatia ao desenvolvermos um projeto. People experience será o real significado de inovação.
@camilasalek – Sócia-fundadora da Vimer Experience Merchandising integrante do grupo de empreendedoras de sucesso do programa “Winning Women Brasil” da Ernst Young e colunista da Harper’s Bazaar Brasil. Referência em varejo e visual merchandising, está por trás de evoluções significativas da experiência de consumo e do desenvolvimento do conhecimento da área, através da implementação de projetos inovadores e compartilhamento de conteúdos ministrados em aulas, palestras, treinamentos e publicações nacionais e internacionais voltadas para moda e tendência.