Não é simples ou fácil assumir a direção criativa de uma grande marca de joias, sobretudo um dos maiores nomes do mercado brasileiro há 80 anos. Mas para ela, parece ser. Stephanie Wenk, designer à frente da Sauer há oito anos, e somando vinte coleções no portfólio, definitivamente está em seu habitat natural. Mesmo formada em psicologia e tendo caído na profissão por acaso, depois de passagens pela Schutz e pela Auslander, a carioca tem bossa e criatividade para dar e vender, ainda mais quando o assunto é modernizar.
Mas se adaptar à Sauer foi sobretudo uma questão de admiração. “Honrar a identidade e atualizar sua história com a mesma personalidade que a tornou uma das joalherias mais respeitadas do mundo é uma missão possível graças à filosofia de vida de seu fundador Jules Sauer”, conta Stephanie. “Todo o trabalho no ateliê, do sonho à realização, passa por mentes e mãos curiosas que acreditam no poder físico, emocional e espiritual das gemas.”
Com alma e aura inovadora, Sauer é um nome respeitado internacionalmente e conhecido por não perder a tradição de décadas. Para isso, Stephanie, curiosa nata, faz questão de beber em várias fontes: viagens, livros, filmes ou até em uma boa conversa. Idas a museus e vernissages, descobrir novas músicas ou ler diversas revistas está entre seus passatempos favoritos.
Para Stephanie, os artesãos são “os verdadeiros guardiões dos códigos da Sauer” e o trabalho em conjunto é uma alquimia sutil para transformar joias em esculturas atemporais, que ultrapassam tendências. O objetivo é dar à luz uma joia que possa “encontrar um corpo perfeito para perpetuar seu brilho e sua particularidade indelével”. É tudo literal e metaforicamente, “uma questão de química”.
E de herança familiar. Jules, seu avô por parte do padrasto Daniel Sauer, foi quem fez a esmeralda brasileira ganhar laudo e status internacionais, graças à sua visão futurista e empreendedora do negócio. Fugido do nazismo na Europa nos anos 1930, desembarcou no Brasil por acaso e abriu sua primeira loja nos anos 1950 no Rio de Janeiro. Stephanie, herdeira da visão vanguardista de Jules, celebra sua vigésima coleção e lança a épica “N20”, recheada de clássicos com olhar contemporâneo. Explorando formas orgânicas e resgatando materiais usados em suas primeiras colaborações, como o cristal de rocha e a turmalina paraíba, a mistura de gemas é deliciosa. Diamantes, safiras e tanzanitas surgem ao lado de lápis-lazúli e ônix. “Uma ideia nasce da contemplação de uma joia da natureza. A partir de sua dimensão viajamos em todas as possibilidades, lapidando para transmutar um mineral em verdadeira obra de arte.”
As icônicas joias em efeito rainbow, outra marca registrada de Stephanie, ganham cores vibrantes e tons pastel. As inspirações vêm de constelações, dimensões esotéricas, movimentos artísticos, estudos arquitetônicos e descobertas científicas.
Um bom exemplo dessa misturinha boa é o colar “Alba Rainbow” em lapidação fancy cut com diversos formatos de corte, ou a pulseira “Olympia”, que leva cristal de rocha, diamante e ouro amarelo. Quem ousaria essa combinação de forma tão harmoniosa? E, claro, as esmeraldas, uma das pedras favoritas de Stephanie. A linha “Olivia”, com a pedra verde, quartzo negro e ouro amarelo, tem entrelaçamento com cortes simétricos, quase como uma chuva de pedras preciosas. Para mostrar que savoir-faire e modernidade podem e devem sempre andar juntos.