Yves Saint Laurent: como a Harper’s Bazaar transformou o estilista em um ícone da moda – Foto: Getty Images

Com um dos legados mais importantes na moda, Yves Saint Laurent é assunto e referência em desfiles mesmo quinze anos depois de sua morte, em 2008, e mais de duas décadas desde sua aposentadoria, em 2002. Um ícone de estilo, rodeado de musas e com um olhar revolucionário para o guarda-roupa feminino, sua história e trajetória na moda são tão conhecidas como cheias de detalhes. Entre eles, a participação da Harper’s Bazaar na construção da imagem que o eternizou como “o pequeno príncipe da moda”, um dos maiores representantes da alta-costura parisiense e do prêt-à-porter, que redefiniu os rumos fashion do século XX.

Nascido Yves Henri Donat Mathieu Saint-Laurent em 1936, na capital da Argélia, Orã, YSL (como ficou conhecido a partir da década de 1960) já sonhava com a moda francesa desde a infância. Sua primeira ida para Paris aconteceu em 1953, aos 17 anos, quando participou e ganhou, em terceiro lugar na categoria de desenho de vestidos, o concurso do Secretariado Internacional de Lã, no qual Christian Dior e Pierre Balmain foram jurados. No ano seguinte, fez mais uma vez parte da competição (dessa vez ao lado de Karl Lagerfeld, que venceu na categoria de casacos) e ganhou, em primeiro e segundo lugar, com mais croquis de vestidos. O prêmio oferecido pela instituição foi ter sua criação materializada nos ateliês de Hubert de Givenchy.

Yves Saint Laurent ao lado modelos, nos bastidores de um desfile da Dior, em 1958 – Foto: Getty Images

Aos 18 anos, em junho de 1955, Saint Laurent conquistou, enfim, o cargo de assistente de Christian Dior, um dos principais nomes da haute couture desde sua estreia na década anterior, em 1947, quando revolucionou a moda com seu New Look (como Carmel Snow, editora-chefe da Harper’s Bazaar batizou o tailleur bar). Ao lado de Dior, “que me ensinou o essencial sobre essa arte”, como costumava dizer mais tarde na vida, Yves Saint Laurent já dava sinais de seu talento.

“Dovima e os Elefantes”, fotografada por Richard Avedon para a Harper’s Bazaar em 1955. No clique, a modelo usa o vestido Soirée de Paris, criado por Yves Saint Laurent para Christian Dior – Foto: The Hearst Archives

Poucas semanas depois de sua chegada na maison, o jovem desenhou o vestido Soirée à Paris para a coleção de inverno 1955, apresentada em agosto daquele ano. A criação, em tecido preto com um laço branco amarrado na cintura, foi protagonista em uma das fotografias mais icônicas da moda no século passada: “Dovima e os Elefantes”, com a modelo americana Dovima, que Richard Avedon clicou para a edição de setembro da Harper’s Bazaar. Na ocasião, o vestido se tornou a primeira criação de Yves Saint Laurent a ser publicada em uma revista de moda. Na mesma linha, a publicação já havia feito o mesmo com Coco Chanel, em 1916.

Saint Laurent trabalhou ao lado de Dior durante dois anos, período que terminou com a morte precoce do mentor, aos 52 anos. Seguindo seus desejos deixados ainda em vida, o jovem aprendiz, com 21 anos, foi alçado ao cargo de diretor criativo da casa de alta-costura mais ilustre de Paris; uma posição que rendeu a ele o apelido de “o pequeno príncipe da moda” entre a imprensa. Sua coleção de estreia, apresentada em um desfile de três horas em 30 de janeiro de 1958 foi um sucesso. Batizada de “Trapézio”, renunciou às silhuetas rígidas que Christian Dior havia institucionalizado, e deu a elas o espírito fresco que anunciou a revolução jovem da década seguinte.

Marie-Louise Bousquet, editora de Paris da Harper’s Bazaar, o fotógrafo Richard Avedon e Carmel Snow, editora-chefe da Harper’s Bazaar americana, em desfile da Dior de 1955 – Foto: Getty Images

Na plateia, além dos maiores editores de moda e clientes glamorosas da época, o artista Bernard Buffet marcou presença. Uma referência para o próprio Saint Laurent, ele não apenas era considerado um dos maiores nomes da sua geração, como também presentou o estilista com um retrato ele guardou durante toda a vida (e que ainda pode ser visto em uma das salas do Musée Yves Saint Laurent, em Paris).

Dias depois do desfile, Buffet estava entre os convidados de um jantar em homenagem a Yves, oferecido pela socialite e editora de moda da Harper’s Bazaar em Paris, Marie-Louise Bousquet. No evento, apareceu com o companheiro e empresário Pierre Bergé que, durante a noite e com um “empurrãozinho” de Bousquet, conheceu e se apaixonou por Saint Laurent.

Pierre Bergé e Yves Saint Laurent em 1976 – Foto: Getty Images

O amor foi mútuo e imediato. Dois anos depois, quando Yves foi forçado a sair da maison Dior depois de ser chamado para servir no exército e sofrer um colapso emocional, Bergé se uniu a ele para fundar, em 1961, a maison de alta-costura Yves Saint Laurent. Nas décadas seguintes, a empreitada se mostrou um dos maiores sucessos na história da moda internacional, também dando início, em 1966, a uma divisão de prêt-à-porter (a SAINT LAURENT rive gauche) que revolucionou o guarda-roupa da juventude.

A Harper’s Bazaar, até a aposentadoria do estilista, em 2002 continuou acompanhando sua criatividade e rebeldia. Em uma das histórias mais famosas do designer com a publicação, Lauren Bacall, na ocasião da abertura da boutique Rive Gauche, foi “flagrada” usando calças – ainda um escândalo – por uma editora. Perguntada sobre o visual, a resposta da atriz foi destaque nas páginas: “É claro que é Saint Laurent. Se é calça, é Yves”. How Bazaar!