Ana Kufmann – Foto: Tinko Czetwertynnski

por Ana Ribeiro

Ana Kaufmann fuma. Nunca fez plástica. Nem botox. Usa os cabelos brancos. Não esconde a idade: 70 anos. É vegetariana. Faz yoga praticamente todo dia. Gosta de nadar no mar. Não sai de casa sem protetor solar fator 70. Coleciona objetos. Sempre esteve na vanguarda. Tem uma queda por antiguidades. É casada há 45 anos com Jorginho, que conhece há 50. A casa de Ana, e a própria Ana, são um retrato da descrição acima. É muita coisa, mas está tudo à mostra. Não tem nada disfarçado ou escondido.

Ana Kufmann faz yoga praticamente todo dia – Foto: Tinko Czetwertynnski

Quando ela abre a porta do apartamento, difícil decidir se presto atenção no seu vestido, que mistura duas estampas nas mesmas cores em padrões diferentes, um floral e outro geométrico, ou se olho em volta para ver os detalhes da coleção de pássaros de porcelana presos na parede, nos pares de castiçais enfileirados em prateleiras, no mobiliário, nos tapetes, nos quadros ou nos lustres. É muita informação. Sento-me na poltrona Le Corbusier de couro preto e metais vermelhos (costumavam ser prateados, mas Jorginho mandou pintar) e vejo que é impossível decidir. Enquanto o vestido dela atrai o olhar ao mesmo tempo em que embaralha a vista, os objetos que compõem o ambiente, vindos de lugares e épocas diferentes, se combinam de forma harmoniosa e meio over. Decido isso: não dá para ir à casa de Ana Kaufmann com pressa. 

Ana Kufmann – Foto: Tinko Czetwertynnski

Quando pergunto das influências que formaram o seu estilo, Ana começa a contar sua vida a partir do encontro com Jorge Kaufmann. Ela tinha 20 anos e ele, 21. Ela vinha de uma família tradicional paulistana e estudava Cinema na USP. Ele tinha acabado de chegar do Rio, interessado em trabalhar com moda. O ano era 1974. Naquela época, para quem não sabe, não havia cursos superiores de moda. Quem tinha interesse no assunto tinha de viajar, consumir revistas importadas – que chegavam aqui com meses de atraso, se informar por conta própria, experimentar. Basicamente, ser autodidata. Foi o que eles fizeram. Juntos montaram uma confecção: Jorge cuidava da criação, Ana dos negócios. E era também a modelo que provava as peças pilotos. Jorge a produzia e maquiava. “Ele me maquia até hoje”, conta. “Muitas vezes é ele quem sugere o que devo vestir e compra roupas para mim também.” A confeçção durou 30 anos, do final dos anos 19 70 até 2012. Restou a paixão pela moda. E um ecletismo que se reflete nas escolhas de Ana. “Gosto de coisas coloridas, mas me visto bastante de preto também”, revela. “Quem é da moda veste muito preto, mas nem sempre foi assim. O preto começou a se popularizar nos anos 1970, com o movimento punk.”

Portrait assinado pelo seu marido Jorge -Foto: Tinko Czetwertynnski

Enquanto visitamos o seu closet, cita grifes como Prada e Yves Saint Laurent, mas diz que gosta de comprar em brechó também, e tem muitas peças sem etiqueta. “Minha mãe ficava horrorizada: ‘Você nem sabe quem usou essa roupa!’”, lembra. “Mas o que importa isso? Eu levo ao tintureiro e pronto.” Assim, entre escolhas zero quilômetro e outras já previamente usadas, Ana tem roupas de mais de 40 anos ainda em uso. Mais ou menos como a sua coleção de objetos. “Temos principalmente peças do século 20, mas alguma coisa de design contemporâneo também. Nosso gosto é muito eclético, às vezes é complicado juntar tudo”, confessa.

Detalhe do pout-porri com peças garimpadas na casa de Ana Kufmann – Foto: Tinko Czetwertynnski

 

Ana Kufmann veste camiseta Versace vintage, sandália Gucci e pulseira Tiffany & Co. – Foto: Tinko Czetwertynnski

Algumas histórias são muito boas. Ela me mostra um par de candelabros vermelhos em cima da lareira. Sem nenhuma referência prévia, eles os acharam bonitos e levaram para casa. Um tempo depois, assistindo ao filme Fanny e Alexander, de Ingmar Bergman, viram esse exato par de candelabros na tela. E foi assim que descobriram sua origem sueca. E pesquisando melhor encontraram também a data de sua criação: 1915. A coleção de mobiliário e objetos começou como um hobby e virou profissão. Eles organizam vendas, fazem leilões, coordenam a restauração de peças. Mas, como tudo na vida deles, o que comanda as escolhas é primeiro a paixão. “Não gostamos de fazer nada com muito rigor”, diz Ana. “Se algo nos encanta, a gente compra. Independentemente de ter valor comercial”.