Retrato do Papa Inocêncio X, por Velázquez, 1650. (Foto: Getty Images)

Olimpia, Olimpia… poderia ser o cinema de Gal Costa – ou mesmo aquele de Paris –, mas é Olimpia Maidalchini, batendo na porta quase toda madrugada, nos meus sonhos e nos de Inocêncio X. Nos meus, porque, desde que li sua biografia aos 16 anos (“A Senhora do Vaticano”, de Eleanor Herman), a figura da “papisa secreta” me assombra. Nos de Inocêncio, porque, naquele crepúsculo do século 17, as más línguas diziam que eram amantes. Dá para imaginar? Um papa e sua cunhada! O silêncio não é para os inocentes…

Olimpia não está mais aqui, mas Inocêncio acaba de retornar, atendendo as preces dos devotos de Alexander McQueen que esperavam de Seán McGirr uma coleção mais digerível. Acho que, finalmente, é essa – cheia de blasfêmia e ares “punk aristocráticos”. Talvez, sem a pressão da passarela, o estilista recém-chegado tenha tido mais espaço para refrescar as ideias. Aquela garagem claustrofóbica nos confins da capital francesa, afinal, era mesmo o fim do mundo!

“Estudo sobre o retrato do Papa Inocêncio X, por Velázquez”, de Francis Bacon, 1953. (Foto: Getty Images)

Dessa vez, McGirr elegeu Hatfield – mansão tudoriana dos tempos de Elizabeth I – como palco para suas novidades. Há quês de uniformes de internato, com toda a irreverência que acompanha os estudantes, e até um pouco do exagero divino de Isabella Blow, a editrix que ajudou a fundar a religião “McQueen”. Amém, aliás!

Ainda assim, é aquele Inocêncio X, de nome inapropriado, o fetiche da vez: o papa é punk! As estampas são tiradas de um retrato de Velázquez, pintado em 1650 e que, entre as décadas de 1950 e 1960, inspiraram Francis Bacon em sua série Screaming Pope. E por falar em gritos e fetiches, as peles falsas nessa temporada trouxeram memórias de um casaco vintage de raposa que encontrei em um brechó de Madrid recentemente. Um escândalo que deixei para trás…