Ana Frango Elétrico lança novo trabalho | Foto: Hick Duarte

Ana Frango Elétrico lança novo trabalho | Foto: Hick Duarte

Ana Frango Elétrico começou a gravar o sucessor de Little Electric Chicken Heart (2019) ainda em 2021, em meio à pandemia, quando testes de Covid e máscaras eram necessários para os encontros de trabalho. Mais do que compositora e intérprete, queria validar seu lado produtora neste terceiro álbum. Por isso, viajou com os músicos para um estúdio na região serrana do Rio, onde funciona a Rocinante (fábrica de vinil), e deu vida ao álbum Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua (Selo Risco), lançado na última sexta-feira (20), com versões físicas também pelo cultuado Mr. Bongo, na Inglaterra, e o japonês Disk Union. “Não teve ensaio, o encontro é que fez as bases do disco”, conta à Bazaar. “Neste trabalho, estava muito mais consciente do meu processo, do que queria, sabendo tirar sons, com experimentação e lugares onde queria chegar”. E chegou ao limite. “Trabalhava uma semana direto, parava, voltava. Emocionalmente, não conseguia olhar para o álbum, e fiquei um tempo sem mexer. Era a minha intimidade e me doei muito energeticamente em todos os sentidos. Botei tudo o que dava de mim.”

Nas 10 faixas, quis versar sobre entendimentos do amor queer (quem não se identifica com a heteronormatividade). “É engraçado pensar que o termo não binário tem muito a ver com qualquer possível aparência sonora que este álbum possa ter.” O fio condutor é a jornada queer, passando por gênero, claro. “Esbarra em sexualidade, amor, ironia e sarcasmo”, enumera. Tem duas faixas que são só dela, uma instrumental e a outra é o segundo single, a balada Insista em Mim, que ganhou clipe para lá de romântico de autoria da fotógrafa Marina Zabenzi, no mês passado. O álbum ainda tem duas regravações: Debaixo do Pano (Sophia Chablau) e Dr. Sabe Tudo (Rubinho Jacobina). “Foi para um lugar totalmente diferente do que os fonogramas originais são.” O lead single havia sido Electric Fish, de aura setentista e experimental, lançado de surpresa em agosto, composto por Bruno Cosentino, Márcio Bulk e Sylvio Fraga. “Sinto que é o primeiro álbum em que fiz uso de investigações que realmente se relacionam com o que ouvi ao longo do tempo: em casa com minha família, amigos, com amores”, explica a cantora em um texto escrito para acompanhar os lançamentos internacionais.

Ana Frango Elétrico lança novo trabalho | Foto: Hick Duarte

Ana Frango Elétrico lança novo trabalho | Foto: Hick Duarte

Mesclou a bateria dos anos 1970, com processamento dos 1980, além de outras décadas. Se, no começo, Ana começou a carreira de forma despretensiosa, apenas com voz e guitarra, hoje a cantora carioca é mais generosa consigo. Ou tenta ser. “Meu primeiro trabalho tem um lado mais punk e experimental. Cada vez que me distancio, entendo ele e a minha idade. São canções dos 16 aos 18 anos, apesar de ter lançado aos 20. Todas as vozes são daquela época”, recorda, hoje aos 25, sete anos depois de sua estreia na música. No segundo trabalho, foi entendendo melhor sua voz ativa na produção musical e agora sente-se mais confortável em dizer o que gosta ou não dentro do estúdio. O título do trabalho é sobre signo, marcar um slogan na carreira. “Me perguntaram se gênero é algo recente, mas está comigo desde o primeiro trabalho. Olha para a minha cara e nome”, exclama. E a maneira que trata o assunto no disco é subjetiva. “Teria que falar de forma muito mais direta para ser uma bandeira ou um tratado sobre a não-binariedade. Mas traz essas questões e tem também o seu valor.” De Michael Jackson a Tim Maia, tudo vira referência para ela. Do groove às batidas mais pop, tudo o que ela não quer é que suas canções virem efemeridade nessa era do streaming. “Desafio é esse. Não sei se, quem ouve, consegue definir meu som com tanta segurança. Eu não consigo”, diverte-se.