A voz é tão suave ao telefone que não dá vontade de parar de falar com Duda Beat. Eduarda Bittencourt – seu nome verdadeiro – nasceu no Recife, cidade que conserva no sotaque carregado e nas brasilidades de suas canções. Em abril, lançou o álbum “Sinto Muito” e marcou sua estreia no mundo musical. E também na carreira.
Duda não imaginava que a música ocuparia tempo integral. Há anos mora no Rio de Janeiro, onde escolheu cursar Medicina. No entanto, o fato não foi consumado. “Queria ser anestesista, curar as pessoas sem que elas tivessem dor. Nesse meio tempo, cantei com o Castello Branco e com a Letrux, no disco ‘Em Noite de Climão'”, diz.
Duda é mulher de amores. E isso se reflete na maioria das canções, quase todas de “sofrência”, como diz. Das paixões, vieram incontáveis tristezas e decepções. Cortes profundos marcados no coração, coisa de gente que se entrega à vida de cabeça. “Hoje tudo é muito líquido, acaba rápido. Sou romântica, dói. É como falo na última faixa do meu álbum: ‘Sou de outro tempo, de um amor que é para sempre’.”
Frustrada com a desclassificação no vestibular de Medicina, Duda foi cursar Ciências Políticas, graduação que completou neste ano. Frustrada com os amores, se jogou em um retiro de meditação de Vipassana, em 2015, a conselho de uma amiga. “Fui meio às cegas, não tinha contato com esse universo.”
Foram dez dias de imersão em si mesma, de tamanha intensidade que ela não consegue descrever. “É como se você entendesse o sofrimento, e a forma de ele ir embora. A partir do retiro, você consegue compreender certas coisas e aplicar na sua vida.”
Esses ensinamentos aparecem filtrados em “Anicca”, canção que abre “Sinto Muito” e dá o tom de toda a sequência. “Anicca significa impermanência, tudo na vida é impermanente”, diz. Após o retiro, Duda começou a escrever canções com mais frequência. Algumas saíram durante o isolamento, outras retiradas do baú. Reuniu um bom material e entregou para o amigo e produtor musical Tomás Tróia. “Cheguei na casa dele e falei: ‘Ó, tem essas músicas’. Fui mostrando, ele curtindo. Chegava com letras e melodias, e ele com o arranjo para fechar as ideias.”
Tudo foi tomando forma. As batidas sintetizadas e o enorme mix de referências cruzadas por Duda – desde brega até os anos 1980 – dão ao álbum uma estética original. Tem até inspiração em Sade, como na faixa “Back to Bad”. É para escutar do começo ao fim, sem interrupções.
Como quase tudo em sua vida, no meio da produção do disco, um imprevisto. Ela e Tomás se apaixonaram. “Pensava: ‘Meu Deus, será que é isso, será que vou ficar com ele? E se não der certo, como vamos trabalhar juntos?’. Um dia ele me ligou e falou: ‘Olha, eu te amo, mas se você não quer ficar comigo vamos seguir em frente’. E aí eu disse ‘ok’, bem fria mesmo. No dia seguinte, mandei: ‘Vamos tentar’. Nunca mais nos desgrudamos”, conta, aos risos.
“O disco foi incrível, um processo de cura. Ele trouxe o grande amor da minha vida, que, no final das contas, estava do meu lado”, reflete a cantora.
Agora, ela curte a nova fase e colhe os frutos da obra, enquanto prepara uma temporada de shows. Já tem planos de remixes, inclusive. “Bixinho”, a mais famosa do álbum, vai ganhar versão em espanhol. Fato é que sua música transcendeu e foi para fora do País. “No Spotify, vejo muita gente da Argentina e do Chile escutando. Vi um story de um menino chileno que dizia: ‘Adoro muito essa música, eu não entendo o que ela fala, mas acho o máximo!’.”
Além disso, a pernambucana tem se dedicado à produção de alguns clipes e novas parcerias. Com o amor de sua vida, mira o segundo álbum. Ainda com muita música de sofrência para pôr na roda, e no mundo. Mas e histórias de amor correspondido? “Só no terceiro!”, ri. Que já esteja ganhando forma. Assim como a Medicina, sua música cura. E te bota na pista. Tudo junto e misturado. E Duda se fez cirurgiã de seu tempo.
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