Majur para o álbum “Arrisca”, que mistura referências de jazz, R&B, pop e axé music – Foto: Divulgação

“Tudo ou Nada”. É com essas palavras que Majur abre seu segundo álbum, “Arrisca”, lançado neste mês – o que já diz muito do que precisamos saber sobre a coragem da artista baiana de 27 anos.

Em 2021, ano de lançamento de seu primeiro álbum, “Ojunifé”, foi capa da Harper’s Bazaar. No âmbito pessoal, se casou em 2022 com o coreógrafo Josué Amazonas, em uma celebração mágica em sua cidade natal, Salvador. Agora, neste disco, ela comemora merecidamente suas conquistas desde que despontou na cena musical em 2018, com o EP “Colorir”.

“Atualmente ‘Tudo ou Nada’, a faixa de abertura, é minha preferida, porque faz uma síntese de tudo que quero dizer no álbum. Toda essa alegria. Eu reajo aos meus obstáculos, às pessoas que um dia não acreditaram em mim ou no meu potencial e hoje podem ver tudo o que fiz”, conta em entrevista à Bazaar, realizada neste mês.

Quando perguntada se ser 8 ou 80 é sua filosofia de vida, ela se emociona. “Que linda essa leitura, isso é tudo que eu sou e o que posso fazer”, afirma. “A gente arrisca ser a gente desde quando nascemos, quando estamos vivendo nas ruas, nos espaços públicos, sofrendo transfobia, reagindo a todas as questões da sociedade.” Esse trabalho é a celebração de alguém que deu tudo de si em sua arte, e assim conseguiu mostrar sua essência para o mundo. Agora, ela aproveita os frutos dessa liberdade.

Majur – Foto: Divulgação

“Esse álbum é o meu ‘Renaissance’”, resume. O sentido dessa fala é tanto subjetivo quanto literal. Além de marcar seu renascimento, foi fortemente inspirado no sétimo álbum de estúdio de Beyoncé, lançado em julho de 2022. “Ela traz uma força muito grande e me lembra de uma cultura da qual eu faço parte, que é cultura ballroom”, explica Majur.

“Comecei a modificar meu trabalho pensando por que eu iria falar sobre regionalidade, quando percebi que deveria contar para as pessoas o que eu estava vivendo. Um momento em que conquistei meus objetivos, acessei coisas que nunca tinha acessado”, diz.

Sonoramente, o disco passa por vários estilos, que por si só contam a história da vida de Majur. Ela está em contato direto com a música desde os três anos de idade, quando começou a cantar na igreja que sua mãe frequentava na Favela do Uruguai, Cidade Alta de Salvador. Aos cinco, entrou num coral de um projeto do governo para crianças carentes.

“O álbum tem referências diretas de tudo isso. Tem jazz, blues, R&B, axé music, que está entranhado em mim como soteropolitana, além do som pop atual. Sou uma menina jovem, tenho 27 anos, sou apaixonada por música eletrônica e tenho as divas do pop como minhas maiores referências.”

Além de sua voz inconfundível e cheia de emoção, é nas letras que ela se destaca e se conecta com o público. A construção é inteligente e foge das rimas óbvias que costumam marcar o pop.

“Reescrevi um mapa de estrelas / A guiar um caminho pra viver / Percebi que nada é tão longe / Quando umbilical se corta e deixa fluir”, canta em “Mapa de Estrelas”, primeiro single do novo álbum. Em outras palavras, ela sugere que as jornadas rumo aos sonhos muitas vezes são odisseias, ao pé da letra: viagens marcadas por aventuras, imprevistos, eventos singulares e, acima de tudo, superação de obstáculos. Mas suas palavras são melhores.

“Não consigo escrever uma música óbvia. Já tentei, acho fofo e engraçado, mas não consigo colocar isso no mundo e chamar de meu. A música é um canal de transformação na minha vida. Por meio da arte pude ser quem sou e me transformar numa cantora. Meu processo de composição acontece de tudo que eu vivo ou vi alguém vivendo próximo a mim”, afirma.

A cantora está ensaiando para as apresentações ao vivo do novo álbum – Foto: Divulgação

Desde cedo, seu talento chamou a atenção de nomes consagrados da música brasileira. Às vésperas do lançamento de seu primeiro EP, “Colorir”, em 2018, ela participou de um show de Liniker, chamando a atenção de Maria Gadú e sua então esposa Lua Leça, que a levaram para a casa de Caetano Veloso. A partir daí, ela chegou a fazer parceria com o rapper Emicida, na canção “AmarElo”, ao lado de Pabllo Vittar.

Dessa vez, foi Ivete Sangalo que gravou com ela, na quinta faixa do álbum, “Pimenta de Cheiro”, tempero típico da culinária da região que as conterrâneas chamam de casa. Juntas, elas criaram um axé music feito para pular Carnaval.

“Esse novo trabalho traz um resgate muito mais forte da minha origem soteropolitana. Sinto muita falta de Salvador. Sou uma artista de trio de Carnaval e quero ter um trio só meu, levando minha Bahia e meu povo para pular em todo Brasil. Esse é o lugar de onde eu vim e tenho tanto orgulho”, diz.

“A Ivete tem tudo a ver porque é uma das rainhas de Salvador, para mim a tríade é Margareth Menezes, Ivete Sangalo e Daniela Mercury. São as cantoras que mais representam nossa cultura atualmente. Eu tinha certeza que [“Pimenta de Cheiro’] era a cara dela, é o som que ela tem.”

Para sentir toda essa energia, nada como a oportunidade de ver Majur se apresentar ao vivo. O show de estreia da nova turnê será no dia 3 de junho, no festival João Rock, em Ribeirão Preto (SP). “Já estou ensaiando e vou entregar 110% de mim. As pessoas vão ver muita performance, beleza, trocas de looks”, afirma.

“Quero que percebam que é muito importante quando a gente se encontra, potencializa quem a gente é e vai atrás dos nossos sonhos. Quero fazer eles se sentirem capazes de sonhar e de realizar. Sonhar ainda é um lugar muito subjetivo e abstrato, mas por meio do sonho conseguimos transformar em realidade. Quero que arrisquem, não esperem algo cair do céu. Temos que arregaçar as mangas e procurar todos os dias formas de alcançar nossos objetivos. Para mim essa é nossa missão, buscar coisas que nos façam felizes.”