
St. Vicent durante apresentação no Popload
Quando sobe ao palco do Popload, no Parque Ibirapuera, a cantora norte-americana St. Vincent, nome artístico de Annie Clark, imediatamente prende a atenção do público. Seus fãs formam um grupo eclético: colecionadores de vinil, jovens da geração Z e até quem reconhece sua assinatura como uma das produtoras por trás de Cruel Summer, sucesso de Taylor Swift.
“O público brasileiro é único. Eu sempre me sinto bem tocando aqui”, diz, sorrindo, em entrevista exclusiva à Harper’s Bazaar, poucos minutos antes de se apresentar.
A conversa começa leve, mas logo toma um rumo mais íntimo. Annie reflete sobre os temas centrais da sua música: vida, morte, amor. “No fim das contas, é disso que tudo se trata, né? E acho que sempre soube que havia certos lugares onde só conseguiria chegar sozinha.”
Foi dessa certeza que nasceu seu novo estúdio — literalmente construído por ela, desde a parte elétrica até os equipamentos. “Eu já tinha setups caseiros, mas agora esse é realmente o meu espaço. Brinquei, experimentei. Já tinha co-produzido outros discos, mas dessa vez era só eu no estúdio, me perguntando o que queria criar dali pra frente.”
O resultado é o álbum mais pessoal da carreira — e também o último antes de se tornar mãe. “Não foi só um disco de reflexão ou de amor. Foi uma cápsula daquele momento da minha vida, tão intenso, tão cheio de gritos e mudanças. E aí veio outro capítulo, completamente diferente.” Ela ri, ao lembrar da transição. “A maternidade virou a página. É outra forma de existir.”

St Vicent no Popload (@bmaisca)
Comunidade Queer
Desde o começo de sua carreira, St Vicent é um importante membro para a comunidade queer, tanto pela arte quanto pela vida pessoal, ela reflete. “É curioso, porque enquanto avançamos, sempre tem gente tentando puxar tudo pra trás. Como se dissessem: ‘peraí, devolve isso aí’. Por isso é tão importante ser quem se é, especialmente quando o ambiente é hostil. Tenho muito amor e empatia pela comunidade queer — minha comunidade. E acho que precisamos seguir em frente, juntos.”
Falando sobre o novo disco, ela diz que foi a primeira vez em que se sentiu completa como produtora. “Minhas mãos estão em cada detalhe. Finalmente encontrei minha voz nesse lugar também. E fui mais fundo como artista do que já tinha conseguido antes. Esse é sempre o objetivo: ir mais fundo, descobrir algo novo.”
Paixão por Clarice
Quase ao fim da entrevista, a repórter lembra de um vídeo que viralizou recentemente: Olivia Rodrigo contando que ganhou de presente um livro da Clarice Lispector, justamente de Annie. Ela sorri, empolgada. “Sim, é verdade. Estou completamente obcecada pela Clarice. Ela não é incrível? Às vezes, lendo, parece que me desligo da realidade. É maravilhoso.”
Elas se encontraram no show que St. Vincent abriu em Curitiba, e a recomendação foi feita com entusiasmo. “Falei pra ela: ‘Você está no Brasil, tem que ler Clarice! Ela é um tesouro nacional. Lê ela, que eu leio também.’”
Ao lembrar do público brasileiro, Annie se emociona com uma memória específica: um show fora do Lollapalooza, para cerca de mil pessoas. “Eles cantavam tudo. Tudo. Eu estava a milhares de quilômetros de casa e pensei: como eles sabem as letras assim? E ainda por cima numa segunda ou terceira língua. Foi tão bonito que eu chorei.”