Primeira deputada trans eleita por São Paulo, Erika Hilton divide-se entre as capitais paulista e federal, se prepara para palestrar em Londres, no Brazil Forum UK, e versa sobre o novo amor.
A Bazaar acompanhou Erika e divide 24 horas de sua rotina agitada.
8h
A primeira coisa que faço quando acordo é tomar um café. Não gosto de levantar cedo. Preciso de estímulo para ter disposição e seguir a vida. Geralmente, como uma fatia de pão integral com queijo cottage, pasta de amendoim ou biscoitos integrais. Ah, e uma fruta. Sempre ligo a TV para ir me inteirando das notícias, enquanto atualizo as redes sociais.
9h
No momento de cuidar de mim, coloco música como exercício de relaxamento. Depois do banho, rotina de skincare. Faço todos os dias. Lavo o rosto com água fria, porque sinto que a pele fica melhor, passo hidratante, sérum e protetor solar. Aí vem a maquiagem.
10h30
Ao celular, começo a despachar, ver o que está acontecendo e converso com a equipe para entender a agenda. Não tem momentos em que desligo o celular, tarefa muito difícil, acho que ficaria angustiada. A vida política não tem rotina, então tem dias que você tem comissão A ou B. Às terças-feiras, tenho reunião com a bancada do partido, na Câmara Federal. As segundas são mais tranquilas, às vezes tenho atividade nas bases sociais em São Paulo, às vezes livre ou concedo entrevistas. É também o dia em que estou me organizando para retornar a Brasília. Fico por lá de terça a quinta. Não tive tempo de explorar a cidade, vivo naquela redoma do Plano Piloto: da casa para o trabalho, em meio às relações políticas.
11h
Vou para o Congresso e só saio de lá quando Deus quiser. Tenho hora para entrar, mas não para sair. Ambiciono não ser uma representante apenas do nicho ao qual pertence o meu corpo, e tenho conseguido me legitimar enquanto representante da população, de pessoas progressistas, que acreditam em um País melhor e em uma política renovada. Meu legado ainda tem a ver com a criminalização da LGBTfobia em forma de lei. Precisamos construir e pensar em legislações que tragam dignidade à população LGBTQIAPN+. Se conseguir, vai ser um marco muito importante na minha trajetória de deputada.
12h
Às quartas, almoço e vou para a Câmara – onde participo das comissões. Acabei de me tornar vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial. Também sou suplente da Comissão de Mulheres e de Segurança Urbana.
14h
Às terças tem sessões, plenário e atendimento ao público, onde recebo pessoas em meu gabinete – muitas em defesa de emendas, voltadas a diferentes projetos, movimentos e segmentos da população. Às vezes, em plenário, o circo está pegando fogo. É caótico, confuso e estressante, um pouco adoecedor, mas tem seu sentido. A gente consegue colocar ideias, verbalizar coisas que as pessoas gostariam de falar.
17h
Pausa para um lanche, como uma fruta, um iogurte proteico e um café para dar um up. Diferentemente dos outros parlamentares, existe, no meu caso, um fenômeno chamado fã: pessoas que vão ali para tirar uma foto comigo, só querem me conhecer ou levar um presente. Tenho uma forma de fazer e pensar política que traz outra linguagem, cativando o público jovem.
Este mês, vou a Londres, participar de um painel sobre caminhos para o combate à insegurança alimentar e a fome, no Brazil Forum UK (formado por estudantes e lideranças, na Universidade de Oxford). Falarei sobre o Fundo Municipal de Combate à Fome de São Paulo. Não comecei a me preparar: quando faço roteiro, me embanano inteira. Não sou uma pessoa de texto, de roteiro e leitura. Busco as informações e elas estão dentro de mim. Se me preparo, não faço nada direito (gargalha).
19h
Às quintas-feiras, à noite, faço terapia. No jantar, sigo a dieta vegetariana. Não como carne há quase oito anos. Em Brasília, me alimento melhor porque tem um restaurante self-service. Procuro alimentos integrais, como arroz e macarrão, mais verduras, legumes, proteína e pouco carboidrato – nas proporções prescritas pela minha nutricionista. Quando estou em São Paulo, ou a minha tia prepara marmitas ou preciso recorrer ao delivery porque não cozinho. Não que não saiba, mas porque não gosto. Sou boa na comida brasileira, sei fazer arroz, feijão, chata com ovo: para mim, tem que ser no ponto. Arraso nessa entrega! (risos). Doce é um pouco viciante, e sempre peço lanches. No último fim de semana, pedi um queijo Gouda empanado, batatas fritas, com bastante maionese e ketchup. E os caldos sempre salvam nesse friozinho.
21h
Fiquei doente e distante da academia, agora estou voltando gradativamente, porque ainda não estou 100%. Correr é uma coisa que desestressa. Com música bem alta no fone de ouvido, embarco na playlist com muita Beyoncé, Solange Knowles, Amy Winehouse e Doja Cat. Tento ir na academia no fim do dia ou aos finais de semana porque, senão, teria que acordar muito cedo. E, para mim, é não, não, não (risos).
Em Brasília é mais difícil porque dá 22h e nem cheguei em casa ainda. Não gosto muito de sair, sou de ficar na minha casa, em São Paulo, ao lado do namorado (o fotógrafo, videomaker e diretor Daniel Zezza). Como os dois viajam muito, estamos entendendo essa vida e adoramos assistir séries e filmes de suspense e terror. Nos conhecemos em um shooting para (uma campanha da) Paula Raia, ano passado, e o reencontrei no aniversário dela.
23h
Acredito em tudo ao mesmo tempo que não acredito em nada. Meio paradoxal, porque passei por muitas religiões, cresci em um lar evangélico, e hoje não frequento igreja, não rezo. Mas converso com pais e mães de santo. Tento fazer a higiene do sono, porque tomava remédios para dormir. Hoje só umas gotinhas de melatonina para dar uma tranquilizada. Se deixar, assisto série até às 6h da manhã, mas em Brasília consigo ser mais regrada e dormir mais cedo!