
Por Ana Ribeiro
Contemporânea, ousada, relax, sofisticada, urbana, minimalista, original, moderna. Quantos adjetivos escolhidos para definir a grife UMA poderiam ser usados para descrever a criadora da marca? Todos, afirma Raquel Davidowicz. “Meu trabalho tem muito a ver com quem eu sou, com meu jeito de viver, com as coisas de que eu gosto”, explica.

Não é modo de dizer. Pense numa arara da loja UMA. Você está vendo quase exatamente o closet de Raquel em sua casa em São Paulo. O minimalismo está ali, tanto na quantidade como na paleta. “Uso cada vez menos cor. É tudo uma variação de branco, preto, azul-marinho, cinza, bege e cáqui”, diz ela. “Não tem nada colorido ou estampado no meu guarda-roupa, nem para ir à praia. Até meus biquinis são pretos.”

A única concessão às cores talvez sejam as peças de Geová Rodrigues, estilista radicado em Nova York. “Ele customiza suéteres com restos de tecidos, faz desenhos de rostos e de bichos. São obras de arte ambulantes, que surpreendem pela beleza e pela proposta diferente”, diz Raquel. Uma confissão: o que ameaça o seu minimalismo é a paixão por sapatos. “Adoro comprar botas, sou botamaníaca.”

Para sorte de Raquel, e sucesso da UMA, que está completando 25 anos de existência, um certo tipo de clientela combina muito com o seu estilo. “Tem um nicho de mulheres muito parecidas comigo”, detecta ela. “Fui reunindo um grupo que se identifica com a minha personalidade e com a minha grife. Clientes que estão comigo desde o início me dizem: ‘Tenho essa calça há 20 anos'”.

Nem tudo foram elogios para a UMA, lembra Raquel. Lá atrás, nos primeiros desfiles, a crítica de moda pegou pesado. “Foi um início difícil. Ninguém entendia a UMA quando a gente começou”, lembra. “Não nos encaixávamos nos estereótipos e não agradávamos os críticos, que foram muito cruéis sempre.” Até que Raquel ouviu um conselho, vindo de Costanza Pascolato, do qual nunca se esqueceu. “Deixa falarem e continua fazendo o que você faz”, sugeriu Costanza. O resto da história todo mundo sabe.

Poderíamos voltar ao início desse texto, e para aquela lista de adjetivos, para descrever perfeitamente a casa que Raquel divide com o marido, Roberto, e onde cresceram os filhos, Vanessa, de 28 anos, e Tomas, de 26. Com reforma assinada por Marcio Kogan – não, ele não faz reformas, mas fez para Raquel, sua amiga de longa data, 18 anos atrás -, a casa é feita de linhas retas, cores sóbrias e muito cimento aparente. Em constraste com a elegância dos traços, o astral da casa é animado e solar. “Gosto de receber, gosto que meus filhos tragam os amigos, gosto da casa cheia”, diz Raquel. Só não esperem que ela vá para a cozinha. “Sou péssima, cozinhar nunca foi meu forte. Mas adoro arrumar a mesa e encher de comida, adoro tomar vinho.” O toque de humor fica por conta da coleção de patinhos de borracha que adorna o lavabo. “Tenho mais de 500”, conta Raquel.

Vanessa já saiu de casa. Estudou em Milão e hoje trabalha no marketing da UMA. Tomas, que atua no mercado financeiro, está prestes a se mudar também. Mas Raquel sabe que a casa seguirá sendo o ponto de encontro da família. “Nossos filhos têm uma ligação muito legal com a gente. Eles gostam de estar aqui comigo e com o Roberto, a gente convive muito, ouve as críticas, bate de frente, vai aprendendo e caminhando”, explica.

Conviver com gente jovem e descolada é uma das maneiras que Raquel encontrou para manter o frescor na vida, e, portanto, no seu trabalho. A arte, que já serviu de inspiração para várias parcerias – com nomes como Macaparana, Lygia Clark, Regina Silveira e Mana Bernardes -, tem nova representante: a cartunista Estela May, filha de Fernanda Young. Ela ilustra peças da linha UMA X, criada justamente para pegar o público mais jovem. “É sustentável, sem gênero, com preço menor”, explica Raquel.

Outra fórmula para se manter jovem é natural de Raquel, e consiste em nunca parar. “Sou muito ativa. Minha mãe aponta para o sofá grande da sala e aposta que eu nunca me sentei nele. Não sou aquela pessoa que senta para descansar.”