Foto: Iara Morselli

Pioneira na assessoria de imprensa de moda e lifestyle no Brasil, Sônia Gonçalves é um oráculo do chic que atravessa gerações. Convidada da seção Bazaar Meet de outubro, a especialista conversou com nosso editor de moda sobre sua trajetória, suas inspirações e suas projeções para o futuro. Leia a íntegra abaixo:

Sônia Gonçalvez – Alô! Como está Paris?
Guilherme de Beauharnais – O agito de sempre!

SG – Como eu gosto. Tenho uma conexão especial com a França…
GDB – Você tem muitas conexões especiais.
SG – É porque sempre fui uma boa ouvinte. E observo muito. Isso é importantíssimo na moda, até hoje.

GDB – E como foi que você começou na moda?
SG – Não sei, acho que por acaso. Sempre gostei. Minha educação na moda foi na Cori, com meus 17 ou 18 anos. Aprendi muito sobre o
que faz uma marca ser… uma marca! Depois fundei minha própria assessoria de imprensa, já com 11 nomes no meu portfólio: Arezzo, Patachou, Gloria Coelho, Osklen, H. Stern… Isso faz 33 anos e ainda amo o que eu faço. Gosto de construir marcas, não de trabalhos pontuais, os famosos jobs. Tenho paixão em pegar marcas pequenas e transformá-las em história.

GDB – O que mudou de lá para cá?
SG – Quase nada (risos). Sou um pouco conservadora nesse sentido. Fiquei com o mesmo logo por trinta e dois anos e só mudei há três meses, por uma fonte um pouco mais fina. Não é estética que me interessa, é meu trabalho.

GDB – E que trabalho!
SG – Sim, tenho muitas histórias. E nunca dou entrevistas, estou dando para você… Sou discreta. Guardo tudo comigo.

GDB – Tudo?
SG – Tudo! Criei a primeira assessoria de imprensa de moda no Brasil, então trabalhei com muitas marcas internacionais quando começaram a chegar. Fendi, Ralph Lauren, Dior, Roberto Cavalli, Vivienne Westwood, Kenzo, Issey Miyake, Christian Lacroix… E tive encontros memoráveis em todas.

GDB – Me conta uma?
SG – Vi o Lacroix no Le Bristol, em Paris, uma vez. Apresentei-me, disse que trabalhava para a marca dele no Brasil, tiramos uma foto e pedi para postar no Facebook. Tenho até hoje! Dias depois, encontrei o Kenzo e nós dois éramos muito tímidos, mas comecei a falar muito, com meu francês difícil. Disse a ele que adorava seu trabalho na decoração, para além da moda, e ele me presenteou com uma almofada que tenho no meu sofá até hoje.

GDB – Até hoje?
SG – Tenho muita coisa até hoje.

GDB – Você é nostálgica?
SG – Não. Sou romântica. Guardo memórias porque foram importantes e não posso esquecê-las.

GDB – Como é seu acervo?
SG – Enorme (risos). E tem coisas que nunca usei, como um corpete Vivienne Westwood, um tailleur Thierry Mugler… Muitas peças de Issey Miyake. Mas sou minimalista, gosto de usar só o essencial, desde que seja bom.

GDB – Seu estilo é muito reconhecível pelas pessoas que convivem com você.
SG – Gosto de moda, mas não vivo na moda. Não corto meu cabelo desde os 18 anos e eu mesmo cuido dele. Também não uso maquiagem, só um batom clarinho. Admiro quem usa cor, porque sempre fui do preto e branco. Adoro sapatos masculinos com roupas femininas, como alguns da Emporio Armani, com blazers da Gloria (Coelho) e chapéus Comme des Garçons. Deixam-me um pouco estranha e gosto disso. Só uso perfumes para borrifar a capa e acessórios, apenas bolsas e óculos. Não sou muito feminina. Tenho uma beleza particular. Aliás, não acho que existam mulheres feias, mas mulheres que se conhecem pouco.

GDB – Quem são as mulheres que você admira?
SG – Adoro a Miuccia Prada e a Sofia Coppola. Para mim, são as mulheres mais simples do universo.

GDB – O que você acha que falta na moda hoje?
SG – Acho que, primeiro, as pessoas estão muito parecidas umas com as outras. Talvez seja culpa da velocidade da vida hoje, com as redes sociais, e isso acaba com as diferenças. Mas o que falta mesmo é comprometimento.

GDB – O futuro te assusta?
SG – Nem um pouco. Conheço-me muito bem. E, nas minhas redes sociais, só teria arte, flores, pessoas queridas, risadas, viagens e momentos agradáveis. Tudo de mais verdadeiro, como eu gosto. É isso que sempre busco, na vida e no trabalho: conexões verdadeiras.