Nesta temporada, Jean Paul Gaultier (foto) e Balenciaga se destacaram por entender as reinvindicações do público – Foto: Divulgação

Por Cassio Prates e Eve Barboza

Nesta semana, aconteceram os desfiles de alta-costura, em Paris, com roupas feitas à mão apresentadas para consumidores exclusivos, reforçando a importâncias dos ateliês que essas marcas mantêm para se colocar em um lugar de luxo. Porém, os tempos são outros e, se antes esses desfiles aconteciam em lugares fechados e para poucos, hoje, a maioria deles é transmitida ao vivo e pode ser vista por quem quiser.

Tempos diferentes exigem estratégias diferentes. Mesmo que seja importante manter o statement de alta-costura, para essas casas é igualmente essencial que isso seja atualizado, pois como disse Demna Gvasalia, da Balenciaga, hoje em dia ninguém mais consome couture (quase ninguém, podemos dizer). Assim como a ideia de que roupas que vão durar para sempre é uma blasfêmia. Foi dele um dos melhores desfiles da temporada. O outro foi de Nicolas Di Felice, que assina a coleção da Jean Paul Gaultier.

O conceito de transformar roupas “cotidianas” em “alta moda” não é novo para Gvasalia ou para a moda, mas o desfile de alta-costura da Balenciaga reforça esse movimento que definiu uma era. Seu cinismo em questionar todo aquele mise en scène é impressionante. Pode ser com um vestido de papel alumínio ou uma jaqueta jeans, que ganha forro de cetim italiano para preservar seus volumes envolventes. Afinal, a alta-costura é sobre o que está por dentro, né? O que está por fora é questionado ao som de uma meditação guiada que diz: “esteja consciente da marca”.

Nicolas Di Felice, um dos nomes mais talentosos da atualidade à frente da Courrèges, foi o escolhido para desenhar a nova coleção de Jean Paul Gaultier. Diferente dos outros convidados que interpretaram o melhor do enfant terrible, Nicolas foi mais para o abstrato, focando no que achava mais especial. Com base no espartilho, criou uma coleção inteligente, que leva a marca para outros lugares – conectada com a atualidade, ainda com seus códigos presentes.