
Mayana Neiva – Foto: Mucio Ricardo, com styling de Bruno Uchoa, direção de arte de Gabriela Lisboa e beleza de Fernando Haddad
Mayana Neiva tem uma carreira longeva e reconhecida como atriz. São mais de 20 anos de carreira. Na TV, ela vem emendando trabalhos desde 2007, quando despontou na série “A Pedra do Reino”, da TV Globo. Ela também é escritora e apresentadora do podcast “Conversas Que Curam”.
Agora Mayana divide com o público mais um talento: o canto. O pontapé da carreira musical acontece neste 8 de março, com o lançamento da música-manifesto “Cordel da Mulher Paraibana”.

Mayana Neiva – Foto: Mucio Ricardo, com styling de Bruno Uchoa, direção de arte de Gabriela Lisboa e beleza de Fernando Haddad
Ainda neste ano, ela lançará o seu EP. “A música sempre foi um lugar secreto meu, um lugar onde eu sentia que poderia me expressar e ser quem eu era no meu espaço mais íntimo”, conta Mayana, que já cantou em banda, mas, somente agora, se joga num projeto solo.
“Acho que foi a pandemia que reconectou a gente com o essencial, com o que precisava vir à tona. Estou feliz por estar colocando esse sonho tão antigo para acontecer agora”. Neste bate-papo exclusivo com a Bazaar, a atriz e cantora fala sobre seu atual momento.

Mayana Neiva – Foto: Mucio Ricardo, com styling de Bruno Uchoa, direção de arte de Gabriela Lisboa e beleza de Fernando Haddad
Qual é a importância da música na sua vida?
A música sempre foi como um lugar secreto, um lugar onde eu sentia que poderia me expressar e ser quem eu era no meu espaço mais íntimo. O meu prazer sempre foi o de ser atriz, me esconder atrás das histórias das personagens. Esse prazer de me transformar em outros e não em mim. E a música significa esse mergulho no meu íntimo, no meu segredo, nas coisas não ditas, na minha verdade. Na música, é revelar coisas sobre mim que na atuação eu não tenho espaço.

Mayana Neiva – Foto: Mucio Ricardo, com styling de Bruno Uchoa, direção de arte de Gabriela Lisboa e beleza de Fernando Haddad
Por que você não fez esse movimento da carreira musical antes?
Eu deveria ter feito. Na verdade, eu vivi muitas coisas. Morei fora do País por alguns anos. No meu tempo no exterior, eu não cantei, mas sempre estive em banda desde os meus 15 anos. É algo que eu sempre amei. E sempre escrevi músicas autorais e elas, por alguma razão do universo, só estão saindo agora. Acho que a pandemia reconectou a gente com o que é essencial, com o que precisava vir à tona. Estou feliz por estar colocando esses sonhos tão antigo para acontecer agora.
Quem são as suas maiores inspirações musicais?
Chico César, que é um grande músico, criador paraibano, com quem eu tenho uma grande amizade e amor. Elba Ramalho também como uma artista que rompeu barreiras. Mas tem muita gente nessa caminhada. Gosto de um pouco de tudo. Eu falei do Chico, porque sempre que eu volto para mim, para a ideia de quem eu sou, eu volto para ele.
Seu primeiro lançamento, “Cordel da Mulher Paraibana”, tem um vídeo todo gravado no sertão, certo?
Sim, a experiência de filmar no sertão é um transe, é absolutamente mágica. Quando resolvi ir para lá era porque tínhamos histórias que se passavam no sertão. E é um clipe que retrata esse lado sertanejo autêntico e diferente de como as pessoas pensam. É um sertão verde, como é o açude de Coremas, esse lugar amplo do Pico do Jabre. É um lado tão cheio de informações que a gente queria revisitar as histórias dessas mulheres e desse lugar.

Mayana Neiva – Foto: Mucio Ricardo, com styling de Bruno Uchoa, direção de arte de Gabriela Lisboa e beleza de Fernando Haddad
E como foi a experiência de estar na sua terra?
Eu recebi tanto carinho nessa viagem que eu nunca vou esquecer o abraço das pessoas, da emoção que senti gravando cada take. É um dos lugares mais lindos do mundo. As pessoas desse lugar são raras.
“Cordel” é uma música-manifesto. Depois dela, o que podemos esperar?
A primeira música cantada, posso dizer assim, se chama “E agora?”. É uma música que representa essa conexão entre o meu eu divino e o meu eu daqui. Ela fala sobre aquele momento quando eu me perco de mim, quando eu perco a minha conexão com o meu divino, eu me perco de mim. É uma música que traz o ritmo da latinidade com a letra conectada com a minha essência, por isso, eu escolhi começar com ela.
Além da carreira musical, você lançou recentemente o podcast “Conversas Que Curam”. Como surgiu a ideia dele?
Eu tenho uma necessidade enorme de me curar e de compartilhar esses processos de cura em um mundo que legitimou a violência como linguagem e que está sempre olhando para a vida do outro. Senti a necessidade de olhar para dentro, de silenciar um pouco e entender o que realmente importa. O que mais me chamou para esse projeto foi a necessidade de falar sobre esse tema.

Mayana Neiva – Foto: Mucio Ricardo, com styling de Bruno Uchoa, direção de arte de Gabriela Lisboa e beleza de Fernando Haddad
Como você cuida da sua saúde mental e física?
Eu faço exercícios e medito diariamente, mesmo que seja por um período curto de tempo. Há dias mais corridos e isso interfere na qualidade da meditação. Quando eu estou mais tranquila, eu consigo absorver mais. Mas eu acho que é um combo você se exercitar fisicamente e a mente, e conversar. Sim, conversar para entender como essas pessoas se instrumentalizaram para enfrentar crises. O que elas têm a dizer? Eu sinto que a gente precisa menos de gente de sucesso no mundo – isso é uma frase do meu professor, o Gustavo Gitz – e mais gente que queira e tenha a disponibilidade para sentar em silêncio e sentar em roda para olhar para o outro. Isso ressoa muito comigo. Sinto que a nossa sociedade acelerou tanto, e a gente está sempre envolvido em tantas dinâmicas de afirmação da ficção, do nosso próprio eu, que essa história de sentar, olhar pro outro e conversar, ficou quase que em segundo plano. A gente está tão dentro das telas, dentro do nosso próprio mundo, dentro dos nossos próprios apartamentos, em uma experiência de isolamento social e físico e mental, que sentar e olhar no olho do outro e ter uma conversa de verdade sobre curar a gente e a nossa sociedade… É um desejo de coração que a gente seja mais atravessado pelo que realmente é essencial.
Você gostaria de transformar o podcast em um programa de TV?
Adoraria! Interessados podem entrar em contato (risos). Mas é porque eu acho que essa mensagem do podcast… quero que ela vá além de mim, quero que ela seja compartilhada, que a gente compartilhe esse desejo de se curar coletivamente. É mudando a nossa mente que a gente muda o nosso mundo.
Você estreou esse ano a série “Temporada de Verão” (Netflix). Como você vê essa evolução do streaming no mercado de trabalho?
É uma força que veio pra ficar, ampliar nosso mercado. Para os atores, para os roteiristas, é muito bom. Espero que cada vez mais a gente produza conteúdo original e que a gente tenha coragem de entrar fundo e discutir os temas profundos e diversos também. Queria que falássemos dos temas que não foram discutidos e ampliar a visão dos exercícios e papéis sociais que temos.

Mayana Neiva – Foto: Mucio Ricardo, com styling de Bruno Uchoa, direção de arte de Gabriela Lisboa e beleza de Fernando Haddad
Você fez um documentário sobre a história do seu avô, que você ainda vai lançar. Esses trabalhos todos, eles seriam também um processo de cura?
Quando veio a pandemia, eu olhei para mim e me perguntei: “Onde é que a minha história começa?”. A minha história começava pelo sertão da Paraíba, quando o meu avô saiu da miséria e criou oportunidades para ele e a nossa família. Fui, então, para o sertão e fiz todo esse trabalho ligado à ancestralidade, através do documentário e do álbum. Minha ideia não é ser documentarista, mas, se eu não contasse essa história, ninguém ia contar. Meu avô era um balaieiro da feira e, por meio do poder da própria arte, ele se tornou fotógrafo e reinventou a história da vida dele. Para mim, o amor dos meus avós sempre foi âncora, é a experiência do amor mais vivo e belo que eu vivi e eu queria falar sobre isso. Eu estou orgulhosa de jogar esses projetos no mundo e falar sobre esses assuntos que, para mim, são a essência da vida.